6ª edição do Mondial du Fromage, em Tours, França (Júlia Storch/Exame)
Repórter de Casual
Publicado em 13 de setembro de 2023 às 14h03.
Última atualização em 13 de setembro de 2023 às 14h37.
“Terroir” é a palavra francesa que define as características de um produto devido à região onde foi cultivado. Fatores naturais, como o solo, a vegetação e o clima, influenciam diretamente no produto final como nos vinhos e nos queijos. Quando se pensa no termo francês, logo vêm à mente os produtos deste país europeu, com nomes que evocam o patrimônio queijeiro da França. Com mais de 1,2 mil tipos de queijo diferentes, de 60 gramas a 60 quilos, cada peça revela um terroir.
Mas, mudando de hemisfério, os queijos brasileiros também são destaque em competições internacionais, de regiões diferentes de Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Pará, Ceará, Goiás, Paraná, Santa Catarina, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
Na sexta edição do Mondial du Fromage, em Tours, na França, o Brasil conquistou 82 medalhas, sendo um super ouro, 17 de ouro, 23 de prata e 41 de bronze. Na edição de 2021, o país recebeu 57 medalhas.
Apenas um queijo brasileiro esteve entre os dez melhores do mundo, o queijo feito de leite cru de cabra Caprinus do Lago, da queijaria Capril do Lago, de Valença, Rio de Janeiro. O produto foi o único não europeu na lista, que contou com um suíço e dez franceses (houve empate de dois queijos na sétima posição e três queijos no décimo lugar).
O queijo vencedor tipo pecorino, feito com leite de cabra cru, massa cozida e maturado por um ano. Fabrício Vieira, proprietário da Capril do Lago, é quarta geração da família a produzir queijos, mas o primeiro a focar o leite de cabras.
Neste ano, 250 jurados de diferentes países analisaram mais de 1,64 mil queijos, sendo 288 do Brasil. Mais de 300 quilos de queijos brasileiros foram despachados para a França, em uma logística pouco convencional, em malas de turismo. “Fazemos uma verdadeira operação subversiva de guerra”, comenta Débora Pereira, diretora da associação SerTãoBras e júri do evento.
“Não deixamos todos os queijos virem no mesmo avião, porque poderia haver um confisco nas malas”, diz. A necessidade pela ilegalidade da entrada dos queijos acontece pois a França não aceita produtos de origem animal brasileiro. Mas, como os queijos não serão comercializados no país, e tem apenas a finalidade de participar da competição, há uma vista grossa para a passagem dos produtos. “O mesmo acontece com os produtos oriundos do Japão, China e Israel, por exemplo”, diz Pereira.
Os produtos vieram em malas extras de 35 produtores, fiscais brasileiros e políticos que participaram de uma incursão por queijarias francesas promovido pela SerTãoBras. “Não quero transformar o Mondial du Fromage em um concurso brasileiro de queijo na França, até porque criamos a nossa edição no Brasil”, diz.
Ainda que terroir seja uma palavra francesa com tradução complicada para o português, o Brasil vem mostrando que conquistou uma fatia deste termo com as premiações de seus produtos.