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Tradicional reduto musical em São Paulo, Ó do Borogodó é mais uma vítima da covid

Prestes a completar 20 anos, bar dedicado ao chorinho e ao samba anunciou que será despejado; saiba mais sobre ele e outros endereços clássicos silenciados pela pandemia

O apertado salão do Ó do Borogodó, em Pinheiros  (Facebook/Reprodução)

O apertado salão do Ó do Borogodó, em Pinheiros (Facebook/Reprodução)

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Daniel Salles

Publicado em 8 de março de 2021 às 15h37.

Última atualização em 8 de março de 2021 às 18h22.

Do desconfortável ponto de vista atual, o retorno do Ó do Borogodó aos tempos áureos soa impraticável. Falamos de anos atrás, quando o trecho no qual o bar está situado, na divisa de Pinheiros com a Vila Madalena, em São Paulo, era um dos mais concorridos da noite paulistana. Minúsculo, abafadíssimo e sempre precisando de uma boa reforma, o endereço vivia apinhado de gente, magnetizada principalmente pelas rodas de samba e de chorinho, que avançavam despreocupadamente pela madrugada e tornavam o salão principal ainda mais exíguo – não era raro deparar com uma fila de clientes na porta, só autorizados a entrar depois que outros partissem.

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À transformação da região, cada vez menos boêmia, o Ó do Borogodó até que resistiu – ele ocupa um imóvel que pertence a um pequeno conjunto encapsulado por um recente empreendimento imobiliário. Mas a pandemia poderá silenciá-lo. Em sua página no Facebook, o estabelecimento informou o seguinte neste domingo (7): “Num tempo em que tristeza é mato, a gente anuncia o fim. Estamos sendo despejados, às vésperas de completarmos 20 anos. Uma dor doída demais”.

Fortemente afetado pelas restrições impostas ao setor de bares e restaurantes pelas autoridades de saúde, ele não promoveu nenhuma atividade presencial desde 14 de março do ano passado – teria sido possível, dado o tamanho do espaço? "O bar era a nossa única fonte de renda. Estávamos fazendo a feijoada [para entrega via delivery] e algumas lives no nosso canal no YouTube. Tudo que a gente arrecadava era usado para pagar os funcionários, não o aluguel. Tentamos negociar, mas os proprietários não foram receptivos”, declarou Stefânia Gola, a dona do Ó.

Ela tem 15 dias para pagar o que deve de aluguel, algo em torno de 120 mil reais. "Mas isso é agora. Como a gente não quer abrir até acabar a pandemia, o valor só aumentaria ao longo dos meses", explicou. As manifestações de apoio que se seguiram à postagem no Facebook acenderam alguma esperança. "Houve uma comoção imediata. A gente sentiu uma força ali", afirmou. A posição atual, no entanto, é essa: "É muito provável que a gente entregue o imóvel. Dependemos de um milagre. Seria incrível se aparecesse um mecenas, ou se o poder público se comovesse e se mobilizasse com a nossa questão".

Se for silenciado de fato, o Ó do Borogodó terá o mesmo trágico fim que outros clássicos da noite paulistana. O Filial, por exemplo, que chegou a ser tido como o melhor fim de noite da Vila Madalena. Ou o francês Marcel, no centro, que precisou encerrar uma trajetória de 65 anos. Nos últimos meses, também ganharam um ponto final o Mandíbula, o La Frontera, o Blú Bistrô, a unidade do Ritz no Itaim Bibi, o Petirosso, o Octavio Café, o Micaela... No Rio de Janeiro, a pandemia tornou inviável o bar Astor, o Hipódromo, o Bar Léo e a Casa Villarino, entre muitos outros. Seguirão na memória de incontáveis habitués.

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