Trabalho é boa ferramenta para enfrentamento da aids
Projetos pessoais ou profissionais em andamento e as redes afetivas ajudam os pacientes a enfrentarem a doença
Da Redação
Publicado em 26 de junho de 2012 às 13h41.
São Paulo - O trabalho e as redes que ele forma ajudam os portadores do vírus HIV a enfrentar a doença. Além disso, experiências anteriores ao diagnóstico da aids também têm função importante no processo de enfrentamento. Um estudo da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, do psicólogo social Dário Schezzi, analisou, por meio de 10 entrevistas com portadores do HIV, quais fenômenos melhoram o processo de enfrentamento da doença e ajudam a viver melhor com ela.
A pesquisa observou que o enfrentamento da doença não é tão influenciado por questões posteriores à descoberta do vírus, mas sim por experiências e compromissos anteriores, como vínculos afetivos e projetos em andamento, que motivam os portadores e influenciam na imagem que formam deles mesmos.
Segundo Schezzi, a identidade é uma questão importante, pois a aids é uma doença com um estigma de alto impacto e com capacidade de transformar a auto-imagem da pessoa, “e as vivências coletivas influenciam muito na construção de uma nova auto-imagem de cada um. O trabalho influencia na questão da identidade, até por causa de sua própria estrutura e de suas redes, principalmente as afetivas”, diz ele.
O “trabalho” foi entendido na pesquisa não só como uma atividade remunerada, mas como qualquer atividade realizada que envolva a transformação de algo e traga um sentimento pessoal de realização e de utilidade, o que englobou ações como o próprio trabalho profissional, cuidar de uma horta, cuidar dos filhos e a militância política.
O autor da pesquisa destaca que o trabalho traz uma grande estima social à pessoa, sendo uma perspectiva para que ela se realize. Relacionado a isso, o psicólogo observou também que as condições materiais de vida influenciam o enfrentamento da doença.
“A falta de perspectiva de trabalho e ter uma auto-imagem em que não se acredite na sua capacidade produtiva e de realização de seus desejos e projetos de vida são coisas que dificultam muito o resgate de um novo projeto de vida que é essencial ao trabalho de enfrentamento à aids. Quanto maiores as condições de pobreza e dificuldade de acesso à vida material, maior a sua vulnerabilidade ao HIV, pois essa pessoa depende também de aspectos relacionados às suas condições de vida”, diz ele.
Schezzi explica que há três tipos de enfrentamento para a doença: o biológico, que é feito com os remédios, o psicológico (em que se avalia a capacidade de reorganização da vida da pessoa frente ao diagnóstico) e o social, que busca incluir a pessoa a realizar seus projetos de vida. “O enfrentamento ao HIV não é só o enfrentamento a uma infecção, ele é muito mais do que isso, até pela questão do estigma”, enfatiza. Por isso, o pesquisador sugere que a questão seja tratada com a perspectiva de inclusão do portador na sociedade.
Apoio
Outras variáveis ajudam na questão do enfrentamento da aids pelo portador. Além do trabalho e das condições de vida, a própria história de vida de cada um e a fé também influenciaram os soropositivos. “Nada que eles fizeram era tão gratuito, tudo podia ser explicado”, diz o psicólogo. Schezzi destaca que aqueles que tinham forte relação com a religiosidade apresentaram maior aceitação à sua condição de soropositivo, facilitando as ações de concreto auxílio ao tratamento, como a tomada das medicações e menores queixas de sintomas adversos.
“Na experiência da fé entendemos que as pessoas aprenderam a não mais desejar controlar seus destinos, o que em algumas situações causa muita frustração, pelas perdas, lutos e estigmas, e então submetiam-se seus desejos a uma força maior. Muitos chamaram de Deus, de natureza ou de força interior”.
Para o pesquisador, fica claro que é necessário compreender e facilitar as redes de apoio aos portadores. O autor da pesquisa acredita que os elementos subjetivos contam muito no enfrentamento. Desse modo, aqueles que não têm muitas experiências positivas em sua história estão mais desamparados. Para esses, as redes de apoio e afetivas, poderiam ser oferecidas de modo preventivo pelas unidades de saúde e assistência social, como uma forma de favorecer a resiliência e a capacidade de superação de lutos e perdas.
Schezzi acredita que os resultados são úteis principalmente para os profissionais que trabalham na área, trazendo uma nova reflexão para eles. “Eles podem pensar em perspectivas de atuação que vão ao encontro das necessidades socias dos portadores do vírus, além de estabelecer um maior diálogo entre essas necessidades e as equipes de cuidado. A aids envolve várias questões, pensar só na questão da saúde de um modo restrito não resolve os problemas de quem possui a doença”, conclui.
A pesquisa Função psicológica do trabalho como elemento de enfrentamento ao HIV/Aids de Dario Schezzi foi orientada pelo professor Marco Antonio de Castro Figueiredo.
São Paulo - O trabalho e as redes que ele forma ajudam os portadores do vírus HIV a enfrentar a doença. Além disso, experiências anteriores ao diagnóstico da aids também têm função importante no processo de enfrentamento. Um estudo da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, do psicólogo social Dário Schezzi, analisou, por meio de 10 entrevistas com portadores do HIV, quais fenômenos melhoram o processo de enfrentamento da doença e ajudam a viver melhor com ela.
A pesquisa observou que o enfrentamento da doença não é tão influenciado por questões posteriores à descoberta do vírus, mas sim por experiências e compromissos anteriores, como vínculos afetivos e projetos em andamento, que motivam os portadores e influenciam na imagem que formam deles mesmos.
Segundo Schezzi, a identidade é uma questão importante, pois a aids é uma doença com um estigma de alto impacto e com capacidade de transformar a auto-imagem da pessoa, “e as vivências coletivas influenciam muito na construção de uma nova auto-imagem de cada um. O trabalho influencia na questão da identidade, até por causa de sua própria estrutura e de suas redes, principalmente as afetivas”, diz ele.
O “trabalho” foi entendido na pesquisa não só como uma atividade remunerada, mas como qualquer atividade realizada que envolva a transformação de algo e traga um sentimento pessoal de realização e de utilidade, o que englobou ações como o próprio trabalho profissional, cuidar de uma horta, cuidar dos filhos e a militância política.
O autor da pesquisa destaca que o trabalho traz uma grande estima social à pessoa, sendo uma perspectiva para que ela se realize. Relacionado a isso, o psicólogo observou também que as condições materiais de vida influenciam o enfrentamento da doença.
“A falta de perspectiva de trabalho e ter uma auto-imagem em que não se acredite na sua capacidade produtiva e de realização de seus desejos e projetos de vida são coisas que dificultam muito o resgate de um novo projeto de vida que é essencial ao trabalho de enfrentamento à aids. Quanto maiores as condições de pobreza e dificuldade de acesso à vida material, maior a sua vulnerabilidade ao HIV, pois essa pessoa depende também de aspectos relacionados às suas condições de vida”, diz ele.
Schezzi explica que há três tipos de enfrentamento para a doença: o biológico, que é feito com os remédios, o psicológico (em que se avalia a capacidade de reorganização da vida da pessoa frente ao diagnóstico) e o social, que busca incluir a pessoa a realizar seus projetos de vida. “O enfrentamento ao HIV não é só o enfrentamento a uma infecção, ele é muito mais do que isso, até pela questão do estigma”, enfatiza. Por isso, o pesquisador sugere que a questão seja tratada com a perspectiva de inclusão do portador na sociedade.
Apoio
Outras variáveis ajudam na questão do enfrentamento da aids pelo portador. Além do trabalho e das condições de vida, a própria história de vida de cada um e a fé também influenciaram os soropositivos. “Nada que eles fizeram era tão gratuito, tudo podia ser explicado”, diz o psicólogo. Schezzi destaca que aqueles que tinham forte relação com a religiosidade apresentaram maior aceitação à sua condição de soropositivo, facilitando as ações de concreto auxílio ao tratamento, como a tomada das medicações e menores queixas de sintomas adversos.
“Na experiência da fé entendemos que as pessoas aprenderam a não mais desejar controlar seus destinos, o que em algumas situações causa muita frustração, pelas perdas, lutos e estigmas, e então submetiam-se seus desejos a uma força maior. Muitos chamaram de Deus, de natureza ou de força interior”.
Para o pesquisador, fica claro que é necessário compreender e facilitar as redes de apoio aos portadores. O autor da pesquisa acredita que os elementos subjetivos contam muito no enfrentamento. Desse modo, aqueles que não têm muitas experiências positivas em sua história estão mais desamparados. Para esses, as redes de apoio e afetivas, poderiam ser oferecidas de modo preventivo pelas unidades de saúde e assistência social, como uma forma de favorecer a resiliência e a capacidade de superação de lutos e perdas.
Schezzi acredita que os resultados são úteis principalmente para os profissionais que trabalham na área, trazendo uma nova reflexão para eles. “Eles podem pensar em perspectivas de atuação que vão ao encontro das necessidades socias dos portadores do vírus, além de estabelecer um maior diálogo entre essas necessidades e as equipes de cuidado. A aids envolve várias questões, pensar só na questão da saúde de um modo restrito não resolve os problemas de quem possui a doença”, conclui.
A pesquisa Função psicológica do trabalho como elemento de enfrentamento ao HIV/Aids de Dario Schezzi foi orientada pelo professor Marco Antonio de Castro Figueiredo.