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Técnico estrangeiro na Seleção Brasileira pode seguir tendência que acontece no país

Série A em 2023 vai ter mais de 1/3 de treinadores de fora do país; Carlo Ancelotti é o mais cotado para assumir lugar de Tite

Brasil nunca foi liderado por técnico estrangeiro, mas isso pode mudar (CBF/Flickr)

Brasil nunca foi liderado por técnico estrangeiro, mas isso pode mudar (CBF/Flickr)

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Da Redação

Publicado em 15 de dezembro de 2022 às 16h23.

Após o anúncio da saída de Tite, o nome do novo treinador da seleção brasileira é o assunto do momento no Brasil. Nos programas esportivos de TV, na mesa do bar ou na roda de conversa dos amigos, só se fala nisso. Um nome que surgiu com força nos últimos dias foi o do italiano Carlo Ancelotti. De acordo com informações de bastidores, ele teria sinalizado positivamente, mas teria que esperar terminar a temporada com o Real Madrid, que se encerra em julho de 2023.

Outro estrangeiro que tem boa aceitação no país é o do palmeirense Abel Ferreira, campeão de tudo nos dois últimos anos e bastante querido por atletas e opinião pública.

Entre os jogadores que fizeram história com a camisa canarinho, o debate também está quente. Em entrevista concedida nesta semana no Catar, o ex-jogador e ídolo Ronaldo Fenômeno declarou: “Eu sou a favor de um nome estrangeiro. Não sustento o tabu de que o estrangeiro não pode contribuir com o futebol brasileiro. Temos grandes exemplos no Brasil, inclusive o meu treinador no Cruzeiro é uruguaio (Paulo Pezzolano)”.

Por outro lado, o também pentacampeão com a seleção em 2002, Rivaldo, ídolo de Palmeiras e Barcelona, vai no sentido oposto. Em sua conta no instagram, postou: "Eu não concordo e acho uma falta de respeito com os treinadores brasileiros que seja cogitado a contratação de um treinador estrangeiro para nossa seleção. Acredito que temos treinadores capacitados de assumir a seleção brasileira neste momento e fazer um bom trabalho, como : Rogerio Ceni, Fernando Diniz, Cuca, Renato Gaúcho e Dorival Jr. Trazer treinador estrangeiro não é certeza que seremos campeões mundias. Até porque se fosse certeza, acredito que o treinador estrangeiro gostaria de ser campeão mundial pelo seu país e alegrar sua nação, que com certeza a sua seleção precisa mais que o Brasil, porque apenas nós somos penta".

O volante Romulo, que estava no acesso do Cruzeiro para a Série A neste ano e tem passagens por Juventus, Lazio e Fiorentina, todos italianos, e possui a licença B de técnico da UEFA, conquistada em 2017, quando fez o curso da entidade, na Itália, entende que a oportunidade deve ser dada a profissionais do Brasil.

"Eu, particularmente, não gosto da ideia de termos um treinador estrangeiro no comando da seleção. É o nosso país, nossa cultura e nosso estilo de jogo. O que precisamos é de profissionais que se capacitem e que possam ser capacitados pelas entidades competentes. Creio que estamos buscando treinadores de outros países pela falta de profissionais capacitados aqui e porque nossas entidades demoraram a se aperfeiçoar na capacitação dessa categoria. Mesmo assim, acredito que vale investir agora para recuperarmos o tempo perdido e colhermos os frutos num futuro próximo".

Entre os nomes brasileiros que foram cotados para comandar a seleção brasileira a partir de 2023, estão o de Fernando Diniz, do Fluminense; Mano Menezes, do Internacional, e Dorival Júnior, ex-Flamengo e atualmente sem clube.

Caso opte novamente por um técnico de fora, a CBF estará seguindo os passos do que já fazem os clubes na sua principal competição, o Campeonato Brasileiro. 9 dos 20 clubes que vão iniciar a Série A em 2023 possuem treinadores estrangeiros. Além do português Abel Ferreira (Palmeiras), temos Juan Pablo Vojvoda (argentino/Fortaleza), Paulo Pezzolano (argentino/Cruzeiro), Luís Castro (português/Botafogo), Eduardo Coudet (argentino/Atlético-MG), Ivo Vieira (português/Cuiabá), Pedro Caixinha (português/Red Bull Bragantino) e Renato Paiva (português/Bahia). O nono é o português Vitor Pereira, que apesar de ainda não ter assinado contrato, foi anunciado um acordo por parte do Flamengo.

"A força de qualquer comunidade, por exemplo, de uma empresa ou um time de futebol, vem da sua diversidade. E essa diversidade inclui culturas, mercados, línguas, etnias e orientações distintas. Mais importante do que discutir se é preciso ter uma reserva de mercado para técnicos, é importante discutir como se faz para melhorar o nível de conhecimento e de experiência dos técnicos, juízes e gestores do futebol brasileiro. Evidentemente não é trazer algo pronto do exterior e tentar implementar no Brasil sem respeitar as especificidades, a cultura, mas sim como trazer um novo ingrediente para esse caldeirão cultural que é o Brasil por natureza. E eu vejo isso com bons olhos", opina Jorge Braga, com passagens como executivo no mercado corporativo e ex-CEO do Botafogo, responsável pela implementação da SAF no clube carioca.

Para o presidente Marcelo Paz, do Fortaleza, que possui um dos técnicos estrangeiros mais cobiçados do país, o argentino Vojvoda, o momento nunca foi tão propício para poder se discutir, de fato, a presença de um treinador estrangeiro na seleção brasileira. "O futebol de grande nível permite essa internacionalização. Os nossos principais jogadores atuam em clubes no exterior e o futebol brasileiro vive um momento de grande presença de técnicos estrangeiros, acho que o maior da história. Todos que estão no futebol identificaram esse movimento e por isso a discussão é válida e cabível. Podemos, sim, abrir as portas para o desenvolvimento do futebol brasileiro e buscar a volta do protagonismo a nível mundial".

Ao longo da história, três treinadores estrangeiros já comandaram o Brasil: Ramón Platero, Joreca e Filpo Nuñez. Platero, de origem uruguaia, foi o primeiro durante o Sul-Americano de 1925. Já Jorges Gomes de Lima, conhecido como Joreca, era natural de Portugal e dirigiu a seleção em apenas dois jogos, dividindo o posto com Flávio Costa, em 1944.

O último foi justamente um palmeirense - assim como Abel Ferreira. Filpo Nuñez, argentino, e que depois veio a naturalizar-se brasileiro, foi o técnico da Seleção em 1965, mas numa situação atípica: a CBD, então CBF da época, indicou o time inteiro do Palmeiras, considerado o melhor do país, para representar o Brasil no festival de abertura do estádio do Mineirão. Na ocasião, venceu o Uruguai por 3 a 0, com gols de Rinaldo, Tupãzinho e Germano. O Palmeiras que vestiu a camisa verde a amarela era chamada de Academia de Futebol, tamanha a quantidade de craques em seu elenco.

"Eu vejo que todas as possibilidades são cabíveis de discussão, tanto de estrangeiros quanto de técnicos brasileiros. Temos excelentes profissionais em nosso mercado, mas também sabemos que alguns dos que vieram de fora provaram seu valor, e dos nomes que estão sendo especulados, estamos falando de multicampeões, como o Carlo Ancelotti. Ao mesmo tempo, a capacidade do treinador brasileiro é reconhecidamente comprovada, e basta ver a qualidade e o nível daqueles que estão aqui em nosso país. Eu acho que o que vale neste momento é gestão, competência, apego ao trabalho. Precisamos de um choque que transforme o Brasil novamente em protagonista", opina o presidente do Sport, Yuri Romão.

Já o especialista em marketing esportivo Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sport, empresa que cuida do gerenciamento de imagem do atacante Endrick, recém-negociado com o Real Madrid, e também da revelação do Palmeiras, Luís Guilherme, entende que deve ocupar o posto de treinador brasileiro a pessoa que tiver a melhor capacidade de assumir o lugar, independente de ser brasileiro ou estrangeiro.

"Se os estrangeiros estão performando, trazendo novidades, informações e tecnologias que são inovadoras, porque não tê-los aqui no Brasil? Nós estamos vendo a escola de treinadores portugueses, por exemplo, com Jorge Jesus, Abel Ferreira, entre outros, que estão vindo para cá e fazendo sucesso. É importante para nós esse intercâmbio técnico, vivenciar e ter a experiência de ter tão próximo um técnico de outro país para entender qual a metodologia, a cultura, a forma de lidar no vestiário. Tudo isso é muito importante e complementa a formação do técnico brasileiro. Também acho uma bobagem quando dizem que nós não precisamos de técnicos estrangeiros aqui. Claro que precisamos, do mesmo jeito que, se tivermos treinadores de ponta que queiram trabalhar na Europa, eles vão eventualmente ter características que vão completar os outros técnicos", explica.

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