Casual

Rick Bonadio: o homem de 12 milhões de discos

Com sucessos estrondosos de gosto discutível, Rick Bonadio, jurado do programa Ídolos, vale por uma gravadora

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 12 de agosto de 2011 às 16h43.

Visionário musical, descobridor de talentos ou um produtor mercenário? A resposta sobre quem é Ricardo Bonadio varia nessa gradação, dependendo de quem se entrevista. Paulistano da zona norte, 41 anos, Rick trabalha como produtor, empresário, músico e compositor. É também palmeirense roxo, bicampeão brasileiro de tiro prático, pai de dois filhos, workaholic, atleta e proprietário de um dos mais importantes selos independentes e estúdios do Brasil, o Midas Music, lançado em 2010. Mas hoje a maioria o conhece como o jurado gente-fina do programa Ídolos, da Record.

Além de descobrir, produzir, gravar e lançar bandas, Rick as empresaria, garantindo assim todas as fases do processo de uma gravadora multinacional. É uma pessoa física em um universo dominado por executivos de grandes corporações – das quais ele já fez parte. Ele acredita que música boa é a que faz sucesso. Tal pragmatismo e o talento para criar fenômenos pop o fizeram emplacar também na TV: foi jurado do Popstar, no SBT — do qual saiu uma de suas maiores vendagens, o grupo Rouge —, e do Country Star, na Band. Também é produtor do quadro Olha a Minha Banda, do programa Caldeirão do Huck.

Começou cedo. Aos 20 anos, montou o estúdio Bonadio Produções, onde gravava de tudo: gospel, pagode, sertanejo, evangélico, rock, peruanos da Praça da República… Trabalhando e crescendo sem parar, aos 23 anos teve o primeiro surto de estresse. Não comia direito e, de tanto virar madrugadas gravando, de repente não conseguia mais dormir. “Não se sabia na época o que era crise de ansiedade misturada com pânico, depressão e falta de sono”, lembra. Como não saiu de casa durante meses, viciou-se em destrinchar os manuais dos equipamentos de estúdio. Grande parte da qualidade técnica dos álbuns que gravou se deve a isso — mesmo seus críticos elogiam a riqueza de nuances na gravação e na mixagem: ele domina como poucos uma das melhores mesas de som do país.

Antes de atingir seu atual sonho de consumo — o Midas Music tem três estúdios —, muita água passou por debaixo da ponte. Em 1991, Bonadio se tornou “o cara que descobriu os Mamonas Assassinas”. Após 2 milhões de cópias vendidas e o fim trágico do grupo em um acidente aéreo, foi convidado para ser diretor artístico da Virgin Records do Brasil, ligada à EMI, onde contratou seu próximo grande sucesso: a banda santista Charlie Brown Jr. “Já estava produzindo os caras e falei: ‘Vocês deram sorte. Não vou arrumar gravadora. Eu sou a gravadora’ ”, lembra Bonadio.

Nove meses depois, assumiria a presidência da filial brasileira. Tinha 27 anos. A partir daí colecionou discos de ouro, platina e diamante com bandas e artistas, como Surto, Br’oz, Deborah Blando, Moraes Moreira, Ultraje a Rigor, Pepê e Neném, Art Popular e Tihuana. Em quatro anos, as vendas da Virgin Records no Brasil passaram de 50 mil discos por ano para 500 mil discos por mês. Então Rick achou que o ciclo estava completo e pediu as contas. “Queria trabalhar com show novamente. Aí abri a Arsenal Music, uma gravadora que empresaria artistas”, conta.


Em 2001, o velho esquema aplicado aos Mamonas Assassinas voltou a operar com outro sucesso do produtor: o CPM 22. No formato proposto por Bonadio, quem grava e lança os músicos também vende os shows. É assim que a conta fecha em uma época em que o tombo nos números da indústria fonográfica impressiona. Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), em 2002 foram vendidas no Brasil 75 milhões de unidades (CDs e DVDs), enquanto 2009 fechou em 25,7 milhões. Tal impacto se deve aos downloads gratuitos. “As pessoas que dão música de graça não têm outra alternativa: se o cara não vende, tem de dar para tentar recuperar no show”, explica.

O músico e produtor paulistano Daniel Ganjaman critica o estilo mercantilista de Bonadio: “O cara investe uma nota na banda e quer pegar o que investiu. Ele só vê a música como produto”, diz. José Flávio Junior, curador do Sesc/SP e crítico musical da revista BRAVO!, é mais incisivo: “Bonadio é guiado por mau gosto e falta de pudor de lucrar com o público em formação de personalidade. Ele exerce a profissão desprezando qualquer conceito sobre arte e aposta em coisas tão desprezíveis que causa uma repulsa estética em quem tem alguma noção de cultura pop”. ALFA procurou várias bandas e profissionais do mercado de música, que preferiram não se manifestar. Algo que só aumentou a percepção de sou mais temido do que amado do produtor.

Badauí, o vocalista da CPM 22, é dos poucos que assumem que já teve problemas com Bonadio. A banda, hoje independente, critica o comportamento autoritário do ex-chefe. “Quando você tem uma gravadora parceira, beleza. Numa gravadora que vira uma ditadura, a melhor solução é cada um para o seu lado”, diz o guitarrista Luciano Garcia. Empresários de casas noturnas também lamentam sua estratégia de impor bandas secundárias ao contratante de suas atrações principais — uma maneira nada sutil de dominar o mercado com suas estrelas.

Surfando a onda de sua popularidade no programa Ídolos, Rick não dá ouvidos ao tiroteio. “As pessoas que me criticam não fazem ideia de como trabalho”, diz. Com o Midas Music e a distribuição da Universal, ele produziu o último disco dos Titãs, Sacos Plásticos, que faturou o Grammy Latino de melhor disco de rock brasileiro — o sétimo de sua coleção. No ano passado, lançou também Projeto Paralelo, que une os integrantes da banda NX Zero a DJs e MCs brasileiros e americanos. O ouvido de Bonadio para talentos atingiu até a reportagem de ALFA. Durante a sessão de fotos, perguntado sobre algum nome bom da nova safra do rap, o repórter citou Rincón Sapiência, rapper que fazia sucesso no YouTube. No dia seguinte, Bonadio pedia seu contato, e dez dias mais tarde, Sapiência telefonava para agradecer: tinha acabado de assinar contrato. ALFA, obviamente, não ganhou nada com isso — a não ser constatar que o produtor não pisca nem na hora de posar para a foto.

Acompanhe tudo sobre:ArteEntretenimentoIndústria da músicaMúsicaTelevisãoTV

Mais de Casual

Crudos e fritos: as tendências gastronômicas para o verão

"Não existe mais casual friday": o novo momento da moda masculina

Os 10 melhores restaurantes do Brasil em 2024: veja o ranking

Os olhos atentos de Juliana Pereira, CEO da Montblanc no Brasil e observadora de pássaros