Restaurantes e chope feito no Brasil: o plano da Estrella Galicia para crescer no mercado brasileiro
Empresa escolheu o país como seu alvo para crescimento para além da Espanha
Repórter Exame IN
Publicado em 19 de junho de 2023 às 16h46.
Última atualização em 19 de junho de 2023 às 16h48.
Para um bolo que só cresce, o importante é garantir uma fatia. É nessa lógica que a espanhola Estrella Galicia está montando sua estratégia no Brasil. A empresa escolheu o país como seu alvo para crescimento para além da Espanha. Para isso, está aumentando seu portfólio no país, com a aposta principal no chope Estrella Galicia—que passou a ser importado e agora começará a ser feito nas cervejarias parceiras, enquanto mantém no horizonte a construção de sua primeira fábrica fora do território espanhol.
"Tem espaço para todo mundo. Quanto mais as grandes investem em cerveja premium, melhor para nós. Aumenta o público consumidor", explica Thiago Coelho, diretor geral da Estrella Galicia no Brasil, em entrevista exclusiva à EXAME. Com mais de 15 anos de passagem pela Coca-Cola, Coelho foi escolhido no fim do ano para o cargo.
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Há lógica por trás da fala do diretor. O portfólio de rótulos de maior valor agregado é mesmo o que mais cresce tanto para a Ambev quanto para a Heineken. No primeiro trimestre, os rótulos premium da Ambev avançaram 35%, capitaneados por marcas como Original, Corona e o Chopp Brahma, por exemplo. Já a Heineken reportou um avanço de algo em torno de 25% de receita e um dígito alto (algo em torno de 8% a 9%) de volumes no país, especialmente puxados pela marca Heineken, que tem o Brasil como seu maior mercado.
Ou seja, a Estrella Galicia não vem para ameaçar a presença de Ambev e Heineken, que hoje detêm 80% do mercado, mas quer surfar a onda do bom momento do setor.Em 2022, o mercado brasileiro consumiu 15,4 bilhões de litros de cerveja, 8% a mais do que um ano antes.O segmento premium já representa mais de 20% das vendas de cerveja no país. Na Estrella, todas as cervejas podem ser classificadas nesse patamar: levam 28 dias para produção, um padrão para rótulos premium - as cervejas "mainstrem" (mais populares, como Skol, Brahma, Schin e Kaiser) costumam ser feitas entre 7 e 14 dias.
Parceria com a Coca-Cola e espaço na prateleira
Desde 2021, a Estrella Galicia começou a dar tração às suas vendas no país, onde opera desde 2009. O passo mais relevante para isso veio com a parceria de distribuição com o Sistema Coca-Cola, que permitiu a cerveja espanhola a chegar a mais pontos no país, tanto no varejo quanto em bares e restaurantes. A parceria veio no vácuo deixado pelo redesenho do contrato de distribuição entre a Heineken e as engarrafadoras da Coca-Cola.
"Aqui no Brasil, ainda em estágio inicial de marca, nosso posicionamento é destacar e valorizar nosso produto, nossa cerveja, mostrando ao consumidor que somos diferentes, que somos únicos", argumenta Coelho. Para ganhar o consumidor, um dos caminhos adotados foi se posicionar com um preço mais acessível entre as cervejas premium. "Nosso foco ficou em apresentar o produto para o consumidor brasileiro."
"O repasse de custos da Estrella foi um dos menores que aconteceu no Brasil", observa um analista do setor. Por isso, segundo ele, é provável que a companhia passe por um processo de repaginação de preço e marca. "Estão tentando deixar mais barata por enquanto para ganhar participação."
Outro caminho para a Estrella está no marketing digital. A companhia lançou em abril uma nova campanha, intitulada 'Que Cerveja!', com foco nos canais digitais, em especial nas redes sociais. "Nossa atenção está no digital, porque 90% dos nossos consumidores estão conectados. Queremos mostrar para o consumidor que a Estrella Galicia é uma cerveja incrível, e esse 'claim' [Que Cerveja!] traduz isso de forma muito clara e direta", diz o diretor geral.
Chope espanhol feito no Brasil
Como estratégia para ficar mais conhecida no Brasil, a Estrella Galicia está fazendo parcerias com restaurantes que servirão seu chope. Em São Paulo, são mais de 20 estabelecimentos, entre eles: Rubayat, Torero Valese, Tanit, Nit, Mocotó e Mercado Ibérico.
O desafio tem sido a importação da bebida, vinda da Espanha. Esse ponto, no entanto, está prestes a mudar. A companhia vai começar a produzir nacionalmente o chope, com a fabricante parceira que já produz o rótulo Estrella Galicia vendido no país. Por enquanto, tudo é feito em uma fábrica parceira na região de Campinas, mas o plano é ter toda a produção na própria fábrica brasileira, que terá potencial de produção de 1,5 bilhão de litros por ano.
Anunciada no fim de 2021, a planta industrial a ser construída em Araraquara, no interior de São Paulo, está com as obras em ritmo mais lento. De acordo com Coelho, tem a ver com a reorganização dos negócios da Estrella Galicia no Brasil e, também, é claro, com o cenário macroeconômico. O aumento dos juros no país e no mundo elevaram os custos.