Exposição "Ferrnando Pessoa, plural como o universo": a existência de textos inéditos alimenta o fascínio pelo autor português (Divulgação/Abr)
Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2013 às 12h05.
Brasília e Lisboa – A qualidade da obra faz de Fernando Pessoa um dos autores mais festejados da língua portuguesa, avalia Fernando Cabral Martins, professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, um dos maiores especialistas sobre o escritor.
“A grande poesia tem essa capacidade. Os grandes poetas são todos atuais no sentido que interessam ao leitor, a nós, da mesma maneira que interessaram aos que os conheceram à sua época”, destacou Cabral Martins.
No caso de Pessoa, a existência de textos inéditos alimenta o fascínio. “Há uma produtividade que parece escapar às leis da natureza. Apesar dos 125 anos [de nascimento], Pessoa continua a publicar e, melhor ainda, vai continuar a publicar nos próximos anos”, diz o acadêmico em referência ao espólio literário guardado na Biblioteca Nacional de Portugal.
No acervo, estão guardadas 27.543 folhas de papel escritas por Fernando Pessoa, compradas por Portugal em 1969, e mais 249 documentos também escritos pelo autor e adquiridos a partir de 1980. Todo o conjunto foi digitalizado e estará disponível ao público em 2014.
A poesia do heterônimo Alberto Caeiro, os originais do livro Mensagem e 29 cadernos de Fernando Pessoa depositados na biblioteca já podem ser vistos e lidos na internet.
Grande parte dos papéis ainda precisa ser estudada e classificada. Especialistas apontam que há textos sobre diversos assuntos - desde astrologia à sociologia -, mas não sabem com exatidão o que é de natureza literária e o que poderá vir a ser publicado.
A expectativa, no entanto, é que não haja mais poemas desconhecidos. “Nessas coisas é melhor não sermos categóricos, mas eu não creio que haja dentro do espólio poesia inédita”, opina Fátima Lopes, responsável na Biblioteca Nacional de Portugal pelo Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea onde estão os papéis de Fernando Pessoa.
Segundo Fátima, a principal dificuldade de identificação está na letra do escritor. “Há uma infinidade de documentação que tem que ser estudada ao pormenor, por investigadores que conheçam Fernando Pessoa e consigam ler a letra. Por vezes, é preciso um esforço muito grande para conseguir decifrar a letra corrida”, diz.
Fernando Cabral Martins, que pesquisou documentos originais do espólio literário, concorda com as argumentações de Fátima Lopes. Segundo ele, “é difícil ler os manuscritos de Pessoa”.
Cabral Martins ressaltou que as letras do poeta são legíveis em determinados documentos. Em outros, no entanto, pela rapidez com que escrevia, “torna-se um problema terrível de adivinhação”.
A Agência Brasil teve acesso a alguns textos manuscritos. Assim como as dificuldades da leitura, chama a atenção o caráter não sistemático das anotações. Em um mesmo papel é possível ver desenhos e cálculos de mapa astral, anotações e comentários do cotidiano, assim como apontamentos para incluir no Livro do Desassossego em meio a rasuras.
“Ele era múltiplo na escrita e na prática cotidiana”, explica Fernando Cabral Martins ao assinalar que além do vasto repertório de assuntos, o escritor dos três heterônimos “era variado e não obedecia a ideia de coerência. Ele não se sentia obrigado a dizer a mesma coisa”.
Parte da obra publicada de Fernando Pessoa no Brasil está disponível gratuitamente na internet nas páginas do Domínio Público (Ministério da Educação): http://www.dominiopublico.gov.br.