Antônio Abujamra: "elas pensam que o aprofundamento das coisas medíocres é que dará certo" (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 28 de abril de 2015 às 19h30.
São Paulo - Ator e diretor de teatro, que morreu nesta terça-feira, aos 82 anos, falou ao jornal O Estado de S.Paulo em 2002: "Devem ter odiado o programa", afirmou.
"Se você me perguntar o que tem de bom na TV ou o que eu fiz de bom nesses 40 anos de TV, eu diria: alguns segundos": assim disse o ator, diretor e dramaturgo Antonio Abujamra a Renata Gallo, neste Estado, em entrevista feita em outubro de 2002.
Na ocasião, ele contou à repórter que, até ser aceito pela TV Cultura, seu Provocações havia sido oferecido à Band e ao SBT, em vão.
"Devem ter odiado o programa. TV é um rascunho, uma coisa virgem. As pessoas não sabem o que vai dar certo, como vai ser a primeira cópula. Elas pensam que o aprofundamento das coisas medíocres é que dará certo."
Abu dizia que, apesar do nome, o programa não era feito para causar medo em ninguém. Ele não estava ali para provocar, mas sim para ser provocado - daí fazer perguntas que, sabia, resultariam em respostas provocativas.
Sorte a nossa que a TV Cultura abraçou a ideia. Não fosse por esses 15 anos à frente do Provocações, a TV de fato teria nos dado muito menos de Abu do que ele merecia que fosse compartilhado com a massa. Seu personagem mais famoso na teledramaturgia, afinal, já era feito consumado há 26 anos, quando o célebre Bruxo Ravengar agitou aquelas bandas do Reino de Avilan, obra de Cassiano Gabus Mendes na novela Que Rei Sou Eu? (1989).
A TV lhe deu outros 14 personagens, galeria modesta para o tamanho do ator que era. Fez de tudo um pouco, até Cortina de Vidro (1989), um fiasco do SBT. Fez Amazônia (1991), na extinta Manchete, O Mapa da Mina (1993, também de Cassiano), na Globo, A Idade da Loba (1995), na Band, Os Ossos do Barão (1997) e Marcas da Paixão (2000), no SBT, Começar de Novo (2004), na Globo, Poder Paralelo (2009), na Record, e Corações Feridos, no SBT, a última novela, ainda em 2011.
Mas não foi mero golpe de sorte que o bruxo Ravengar tenha caído no colo de Abu. Gabus Mendes, o criador, e o intérprete de sua criatura já se conheciam de longa data, visto que o ator foi diretor de novelas, seriados e teleteatros da TV Tupi, o primeiro canal de TV da América Latina, comandado justamente por Gabus Mendes. Foi na emissora de Assis Chateaubriand que Abu dirigiu séries como O Estranho Mundo de Zé do Caixão e Confissões de Penélope, além das novelas O Décimo Mandamento, Yoshico, Um Poema de Amor, Nenhum Homem é Deus, O Homem que Sonhava Colorido, O Jardineiro Espanhol, O Pequeno Lord, Super Plá, A Gordinha, Salário Mínimo e Gaivotas.
Com o fim da Tupi, em 1980, foi dirigir novelas na TV Bandeirantes. Seus créditos estão em Um Homem Muito Especial, Os Adolescentes, Os Imigrantes e Ninho da Serpente. Na Globo, dirigiu Obrigado Doutor, ainda em 1981.
Participou ainda da nova série de seu filho, André Abujamra - Sonhos de Abu - que estreou há pouco mais de um mês no Canal Brasil. De semelhanças físicas que não deixam dúvidas sobre o DNA em comum, pai e filho contracenaram em mesa de cantina, a caráter, com guardanapo dependurado pelo colarinho, e boa comida à mesa.
Para todos os efeitos, foi um provocador disposto a ser provocado, mesmo quando lhe baixava aquela cara de mau do Ravengar.