Por que a IWC é a mais americana das relojoarias suíças
A marca investe pesado em marketing e inaugurou recentemente uma sede que concentra criação, produção e logística
Guilherme Dearo
Publicado em 27 de agosto de 2019 às 08h00.
Última atualização em 27 de agosto de 2019 às 08h00.
AIWC Schaffhausen é uma das marcas de alta relojoaria mais antigas e de maior apreço pelos colecionadores. Suas linhas, muito bem definidas, já são clássicas. A Portofino, mais elegante. A Ingenieur, ligada à velocidade. A Aquatimer, para amantes do mergulho. E, talvez a mais icônica das famílias, a série Mark, relacionada à aviação.
Integrante do grupo Richemont, a IWC é provavelmente a mais americana das manufaturas suíças. Viajamos até a nova sede do grupo, em Schaffhausen, na Suíça alemã, para contar essa história.
Atenção ao marketing
Dentro do grupo Richemont, que tem Montblanc, Cartier e Panerai entre as marcas, a IWC é das que mais faz barulho. No Salão Internacional da Alta Relojoaria, ou SIHH, evento anual do grupo em que são apresentadas as novas coleções, em Genebra, a manufatura já exibiu um carro de Fórmula 1 no estande e suas celebridades patrocinadas sempre estão entre as mais badaladas – basta dizer que recentemente a marca assinou com Tom Brady.
Na mais ousada ação de marketing até hoje, a IWC acabou de lançar uma volta ao mundo a bordo de um legítimo Spitfire, avião de caça britânico usado na Segunda Guerra Mundial, de 1943. Os pilotos Steve Boultbee Brooks e Matt Jones partiram de Boston, numa aventura que vai percorrer mais de 43.000 quilômetros e 26 países na icônica aeronave. O avião passou por um processo de restauração por mais de dois anos para esse projeto. O Spitfire terá de pousar a cada 25 horas de voo, para reparo, e a cada 750 quilômetros para abastecer, pois não tem tanque reserva.
A dupla vai se revezar no cockpit. O produtor de filmes Ben Uttley e o cinegrafista John Dibbs esperam documentar a jornada de um avião de escolta. E, por fim, os desenhos do artista francês Romain Hugault, um dos ilustradores mais conhecidos no campo da aviação clássica, garantirão que o voo de volta ao mundo do "Silver Spitfire" nunca seja esquecido.
Uma nova sede, única e completa
Pela primeira vez, a chamada manufakturzentrum – é quase uma ofensa chamar de fábrica algo tão peculiar – faz o recebimento de mercadorias, logística, criação, produção e montagem de peças (componentes, caixas e movimentos), além do controle de qualidade, debaixo do mesmo teto em um só lugar.
A um custo de 43,2 milhões de dólares, o edifício de 145 mil metros quadrados, inaugurado neste segundo semestre, foi praticamente projetado pelo próprio Cristoph Grainger-Herr, jovem arquiteto e CEO da IWC. Feito de vidro, madeira e aço, ele contrasta com o prédio histórico de 1874 da empresa, no centro da cidade, que foi fundado seis anos depois de a International Watch Co. – abreviada para IWC na década de 1940 – ter sido criada pelo engenheiro americano Florentine Ariosto Jones.
Produção industrial aliada à artesanal
Com a intenção de mesclar o sistema americano de produção de relógios totalmente industrial com a arte relojoeira suíça, Jones mudou-se de Boston para Schaffhausen em 1868 para fabricar movimentos de relógios de bolso, que eram enviados para os Estados Unidos para montagem e comercialização. “O edifício de Jones foi ampliado várias vezes ao longo dos anos, mas a única maneira de expandirmos era para cima”, disse Grainger-Herr.
“Para a relojoaria e a fabricação moderna, isso não é muito eficiente. Esta é a primeira vez que tivemos a chance de projetar e planejar a fabricação desde o início, criar fluxos de trabalho ideais e também uma experiência para que visitantes [a expectativa é de até 10 mil por ano] pudessem ver todas as etapas da produção, de uma barra bruta de metal até um relógio suíço pronto.” A marca vê o turismo como uma ferramenta de vendas muito importante. “Queremos levar os visitantes o mais próximo possível dos relojoeiros”, diz Christian Knoop, diretor de criação da IWC.
Para Andreas Voll, diretor de operações da IWC Schaffhausen, o novo edifício oferece a oportunidade de configurar novos processos de produção com precisão, para garantir que eles funcionem de maneira ideal e produzam a qualidade perfeita. “Todo o processo de criação, da matéria-prima ao movimento progride em uma ordem lógica em uma única história”, diz. No interior, os visitantes do edifício são recebidos em um lobby de 29,5 pés de altura que dá acesso direto à oficina de produção de componentes de movimento.
Boas condições de trabalho, uma prioridade
As novas instalações, que levaram 21 meses para ficarem prontas e envolveram 80 empresas, são mais do que apenas utilitárias. Segundo o CEO, o prédio precisava oferecer estruturas ideais para a produção e excelentes condições de trabalho para os funcionários. “Foi muito importante para nós proporcionar aos visitantes uma experiência única.
Mas não queríamos apenas construir uma fábrica funcional – queríamos um edifício que não fosse apenas esteticamente agradável, mas que também encapsulasse perfeitamente o espírito da nossa marca”, afirma. Antes de sair de Schaffhausen, cada relógio é cuidadosamente testado em relação à funcionalidade. Além disso, os modelos são testados quanto ao impacto, desgaste, clima, corrosão e os efeitos da exposição aos raios UV, juntamente com as atividades cotidianas.
Diversidade e formação contínua
É contínua a missão que F. A. Jones instituiu há 150 anos: produzir com responsabilidade os melhores relógios que o dinheiro pode comprar. Além disso, a marca defende a diversidade e a inclusão, afirmando que recruta funcionários que podem prosperar independentemente de gênero, raça, cor, religião, idade, orientação sexual, origem étnica ou deficiência. Uma das metas para 2020 é dobrar a parcela de mulheres em cargos de gerência, alcançando a igualdade.
A IWC conta ainda com um programa de aprendizagem que incentiva jovens ao emprego local, apoiando programas de formação profissional. E oferece um amplo espectro de formação, que abrange da parte técnica ao desenvolvimento criativo. O programa de treinamento de funcionários é baseado em uma estrutura 70/20/10, com 70% de treinamento, durante as horas normais de trabalho, 20% completados por meio da sessão de autoestudo e 10% em cursos de formação específicos. As opções do programa de treinamento incluem habilidades digitais, liderança, soft skills, gerenciamento de projetos, cursos de idiomas, especialização em TI, treinamento em legislação trabalhista e preparação para aposentadoria.