Quase de rua: são feitas apenas mudanças pontuais nos veículos das categorias de base (Mitsubishi/Divulgação)
Gabriel Aguiar
Publicado em 1 de junho de 2021 às 08h00.
Participar de um rali não é brincadeira barata – e não é raro gastar mais de 250 mil reais por ano ao competir em categorias de ponta, como o Rali dos Sertões. Só que existe uma alternativa mais em conta para quem só procura diversão de fim de semana: a nova opção Mitsubishi Experience permite que o “piloto” viva as sensações da Mit Cup (uma das principais categorias do país) por 17 mil reais.
Para quem achou o preço meio salgado, a boa notícia é que o participante não precisa se preocupar com mais nada. De equipamentos obrigatórios a combustível, está tudo incluso no pacote. E não significa que o interessado só poderá correr no dia da prova, já que, antes disso, o programa prevê treinamentos com Guiga Spinelli, pentacampeão do Rally dos Sertões e duas vezes Top 10 no Rally Dakar.
“Primeiro, ensino todas as técnicas e o conceito geral do veículo. Algumas coisas tão básicas que podem até parecer banais, como a posição do banco e como soltar o cinto de segurança, mas são importantes. Depois, vamos à pista para executar, na prática, todas as orientações teóricas. Também mostro limites, o que é possível fazer ao volante e como pilotar com navegador ao lado”, diz Spinelli.
E daria até para enganar quem não conhece muito bem os carros de competição, já que, visto de fora, o Outlander Sport nem parece tão diferente daquele vendido nas concessionárias. Mas o SUV recebe uma série de mudanças para se adequar ao regulamento, como gaiola de proteção, cintos de segurança com mais pontos de fixação, bancos especiais, portas de fibra de vidro e janelas de acrílico.
Talvez menos visíveis estão as proteções de alumínio sob a carroceria e a suspensão com amortecedores da grife sueca Öhlins, que fazem parte dos “bastidores”, assim como a chave geral do sistema elétrico e o extintor de incêndio com saídas para diferentes pontos da cabine. Mas, como a intenção é manter boa parte da mecânica original, o motor só recebe uma reprogramação (o câmbio é igual).
E a EXAME participou da experiência no Autódromo Velocitta, em Mogi Guaçu (SP), onde estava prevista a primeira etapa do campeonato – ao todo, serão sete disputas, sempre no interior de São Paulo. Só que provamos o formato pocket, que dispensa treinamento antecipado e também a competição com outros pilotos. Essa opção ainda está em estudo para o público que sequer pensa em corrida.
Nos boxes, começam as explicações de cada função do carro. Só que a realidade é distante dos volantes da Fórmula 1, por exemplo, e quase tudo lembra modelos convencionais (exceto a buzina, acionada por um botão no painel). No fim das contas, quase todos os comandos são responsabilidade do navegador, que também faz leitura do mapa; indica as direções ao motorista; e controla o tempo.
Como esse serviço é pensado para quem não corre regularmente – e até mesmo para quem nunca foi às pistas –, tudo é emprestado pela própria Mitsubishi: macacão; luvas; sapatilha; balaclava; capacete; e o protetor cervical. Devidamente equipado, é hora de fazer algum malabarismo para finalmente ajustar o veículo e preparar a saída. Mas, que fique claro, não há “luxos” como ar-condicionado.
Confesso que a sensação pode ser claustrofóbica para quem nunca esteve a bordo de carros de corrida, com tubos de proteção tomando quase todo o espaço da cabine, corpo bem fixado ao banco e espelhos retrovisores bem menores. Por outro lado, a direção é mais leve que poderia imaginar e não é difícil sair da estreita vaga (que, por conta da visibilidade, demanda ajuda na hora de manobrar).
Na primeira etapa, estavam previstos três trajetos diferentes: na primeiro – e maior – trecho, o traçado aconteceria dentro de uma fazenda particular nas redondezas do autódromo, seguido por uma parte na rodovia SP-342, até, por fim, encerrar a prova nas trilhas do próprio Velocittà. Para quem está correndo, é necessário fazer três vezes o traçado para obter a pontuação conforme os resultados.
Durante a “disputa” do rali, há retas de alta velocidade, curvas fechadas e descidas íngremes, bem como aparece nos videogames e nas transmissões pela televisão. Como não há disputa com outros pilotos, dá para seguir no ritmo mais confortável sem colocar nenhum competidor em risco. Mas não é difícil criar a confiança necessária para tentar superar os próprios limites com a ajuda do navegador.
Claro que existe o regulamento, estabelecido pela Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), que deve ser seguido pelos participantes – mesmo fora da competição e durante o Mitsubishi Experience. Se ocorrer algum acidente com o veículo por culpa do piloto (como em casos comprovados de mal-uso), os custos de manutenção são repassados, já que não há cobertura de seguro para corridas.
E, mesmo com divulgações pontuais, o programa no estilo seat and drive fez sucesso de público: por ora, há duas unidades do Outlander Sport disponíveis, todos com interessados para as próximas cinco etapas da Mit Cup. Com tamanha procura pelo serviço, a organizadora já admitiu a possibilidade de incluir mais um SUV nas próximas disputas, além de pensar novos formatos, como o que testamos.
Para quem realmente quiser participar das competições regularmente, existem dois caminhos: comprar um modelo ou alugar diretamente das equipes. Dependendo da quantidade de pilotos, podem chegar a seis categorias, que incluem as separações entre “profissionais e amadores”, e três veículos – Outlander Sport, seguido por L200 Triton Sport nas opções diesel e etanol, além dos protótipos RS.
“Orientamos, principalmente para quem não tem experiência, a começar pela categoria de base, com os carros de custo mais baixo, fácil dirigibilidade e desempenho menor para se desenvolver primeiro. Mas é apenas uma orientação. Para participar, só precisa ter veículo, seja ele próprio ou alugado, e equipe. E também precisa respeitar o regulamento técnico do campeonato”, afirma Guiga Spinelli.
Para quem procura opções 0 km, só existe a picape L200 Triton Sport, oferecida sob encomenda por 250 mil reais (que podem ser pagas em 25 prestações de 10 mil reais). Neste caso, por dois anos – 14 etapas –, o comprador ainda recebe 3 mil reais de volta a cada participação. No mercado de usados, os preços variam de 60 mil reais para o Outlander Sport a até 250 mil reais no caso do protótipo RS.
“Esses carros são usados, mas, se bem mantidos e revisados antes de vender, podem ser considerados como 0 km eternamente. Quanto à desvalorização, os modelos de corrida quase não perdem valor se estiverem preservados. Os custos de manutenção variam de acordo com a categoria, mas podem sair a 7 mil reais por etapa, no caso da opção de entrada, e chegar a 25 mil reais”, diz o piloto.
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