Geração Z: diminuição do consumo de bebida. (Klaus Vedfelt/Getty Images)
Repórter de Lifestyle
Publicado em 2 de julho de 2024 às 16h29.
Última atualização em 2 de julho de 2024 às 16h31.
A geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) está consumindo cada vez menos álcool. Dados de 2023 do Relatório Covitel, sobre hábitos de consumo dos brasileiros, mostram que a parcela de jovens entre 18 e 24 anos que consomem álcool três ou mais vezes por semana caiu de 10,7%, antes da pandemia de COVID-19, para 8,1% em 2023. Em comparação, na faixa de 45 a 54 anos, 9,1% dessa população tem o hábito de consumo de bebidas alcoólicas.
Um outro estudo, chamado Copo Meio Cheio e feito pela consultoria de pesquisa Go Magenta, quis aprofundar o tema e entender mais sobre os motivos que levam os brasileiros a beberem menos álcool. Sobre as principais motivações para a moderação no consumo de álcool, a análise, obtida com exclusividade por Casual EXAME, revela que há uma diferença notória entre gerações.
Aproximadamente 30% dos jovens da Geração Z afirmam beber menos para ter mais autocontrole, por medo da chamada “ressaca moral”. Isso contrasta com os millennials (nascidos entre 1984 e 1995), que se preocupam mais com os efeitos da ressaca física. "Para a geração Z também tem uma questão de preço. Eles estão menos dispostos a gastar valores mais altos em bebidas", explica Gabi Terra, fundadora da Go Magenta.
O estudo feito pela Go Magenta entrevistou 1.000 pessoas acima de 18 anos e que haviam consumido algum tipo de bebida alcoólica nos últimos dois meses. Além da amostra quantitativa, foi feita também uma entrevista qualitativa para aprofundar mais alguns números gerais.
Os dados mostram que cerca de 62% dos entrevistados já consideraram reduzir seu consumo de álcool no último ano, principalmente em busca de uma vida mais saudável e equilibrada. Além disso, 70% das pessoas que conhecem alguém com problemas relacionados ao álcool desejam reduzir a ingestão, na contrapartida, 34% encontram dificuldade em manter uma vida social ativa sem sustentar o hábito de beber.
"Também descobrimos o fenômeno 'sober shaming' que é quando há uma discriminação ou segregação quando uma pessoa opta por estar sóbria. Muitas vezes nem percebemos que ao questionar a escolha da pessoa pode estar obrigando-a a expor alguma condição que ela não quer, como uma doença, uma condição física, a ingestão de um remédio", explica Gabi Terra.
As empresas do setor estão atentas a essa mudança de comportamento e já começam a adaptar suas ofertas para atender às novas demandas. Marcas de bebidas, que antes focavam predominantemente em produtos alcoólicos, agora estão investindo em bebidas sem álcool, como mocktails, e outras opções que apelam para este público mais jovem e consciente.
No mundo do vinho, as vinícolas já investem há algum tempo em bebidas sem álcool. Mais recentemente, porém, houve um aumento significativo na venda de bebidas não alcoólicas ou com baixo teor. Segundo um estudo da IWSR, que analisa o setor de bebidas em 10 principais mercados – incluindo o Brasil –, as vendas atingiram US$ 11 bilhões em 2022, representando um crescimento de 37,5% em comparação com 2018.
No Brasil, uma das pioneiras no desenvolvimento desse tipo de produto foi a Cooperativa Vinícola Aurora, que lançou, em 2019, a linha zero álcool com um 'espumante' branco. No ano passado, introduziu o Zero Álcool Rosé.
Também no ano passado, a Casillero del Diablo, marca do grupo Concha y Toro, lançou no Brasil uma nova linha de vinhos, voltada justamente para atrair os jovens da geração Z. Chamada de Devil’s Carnaval, a linha conta com quatro rótulos, sendo três tintos (um deles suave) e um branco.
De acordo com a Concha y Toro, a comunicação dos rótulos é mais colorida que o convencional e apresenta de forma mais descontraída a máscara estilizada ícone da marca, o Diablo. Ainda segundo eles, as bebidas têm um perfil mais suave e fácil de apreciar. O nome leva Carnaval em referência à festa com clima mais descontraído.
Gabi Terra, fundadora da Go Magenta, avalia que há uma oportunidade de negócio para muitas empresas, mas que ainda não há uma atenção especial. Muitos entrevistados relataram, por exemplo, que não encontram uma variedade considerável de drinks sem álcool. "Há uma demanda enorme", diz.