O escritor Paulo Coelho no 65º Festival de Cannes, na França, em 2012. (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 15 de julho de 2021 às 14h09.
Última atualização em 15 de julho de 2021 às 15h16.
O escritor Paulo Coelho se ofereceu, nesta quarta-feira, 14, para financiar um festival de jazz que teve um pedido de recursos públicos rejeitado após se definir como "antifascista", em uma crítica ao governo de Jair Bolsonaro.
"A Fundação Coelho & Oiticica se oferece para cobrir os gastos do Festival do Capão", postou no Twitter o autor de O Alquimista, morando em Genebra, que desde 2015 tem uma fundação juntamente com a sua esposa, a artista plástica Christina Oiticica.
Os recursos, solicitados por meio da Lei Rouanet de incentivo à cultura, chegam a 145.000 reais, afirmou. A "única condição" desse apoio, acrescentou, é que o festival mantenha sua missão "antifascista e pela democracia", como foi anunciado em publicação de 2020.
O Festival de Jazz do Capão, organizado desde 2010 na Chapada Diamantina, na Bahia, afirma que teve seu projeto rejeitado pelo governo pela primeira vez, por motivos "ideológicos".
Segundo os organizadores, a Fundação Nacional de Artes (Funarte) alegou em seu parecer técnico que a verba deveria ser negada, entre outros motivos, porque a realização do Festival destaca seu caráter "antifascista" e "a favor da democracia".
“Não podemos aceitar o fascismo, o racismo e qualquer forma de opressão e preconceito”, afirmava uma publicação do Festival em junho de 2020, quando vários setores artísticos publicaram mensagens semelhantes em protesto ao governo.
Os organizadores relatam ainda que o parecer técnico da Funarte que justifica a recusa de entrega de dinheiro invoca a Deus em várias passagens.
“O objetivo e finalidade maior de toda música não deveria ser nenhum outro além da glória de Deus e a renovação da alma”, diz o parecer, atribuindo a frase ao compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750), segundo os organizadores.
A Funarte disse à AFP que as análises de projetos relacionados à Lei Rouanet são realizadas em primeiro lugar por consultores da área técnica e que ainda não foi tomada uma "decisão final" sobre o pedido de recursos.
"Neste caso, o parecerista concluiu que haveria 'desvio do objeto'. Neste momento, o parecer segue para análise da Funarte e da Secretaria Especial da Cultura, que podem acatá-lo ou recusá-lo", acrescentou a instituição, que negou praticar qualquer tipo de censura.
Em seus dois anos e meio de mandato, Bolsonaro esteve em pé de guerra contra grande parte da classe artística, que o acusa de censura e retrocessos por promover uma luta contra o que chama de "marxismo cultural".
Entre os episódios mais marcantes dessa "guerra cultural" estão a renúncia de um secretário de Cultura que fez um discurso com referências ao ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels e um presidente da Funarte que afirmou que o rock leva ao aborto e ao satanismo.
Assine a EXAME e acesse as notícias mais importantes em tempo real.