Tartuferia: uovo tartufaio com trufa negra (Juliana Primon/Divulgação)
Repórter de Casual
Publicado em 6 de dezembro de 2025 às 08h21.
A mesa de 2026 tem tudo para ser marcada por contrastes pouco discretos. A tendência high and low, que mistura elementos sofisticados com itens populares, saiu do universo da moda e ganhou força nos bares e restaurantes mais descolados do mundo, sendo a próxima grande tendência gastronômica. É a celebração da elegância sem frescura e, principalmente, da liberdade de experimentar.
O movimento começou a aparecer ainda em 2023, quando casas da Europa e dos Estados Unidos começaram a servir combinações ousadas como caviar com batatas chips industrializadas, espumante com cachorro-quente artesanal e até degustações completas acompanhadas por refrigerantes clássicos. O que parecia uma provocação, virou linguagem.
Em 2024 e 2025, restaurantes de Tóquio, Copenhague, Nova York e São Paulo adotaram o contraste como assinatura ao unir o artesanal ao trivial e o elaborado ao afetivo.
Para quem acompanha o comportamento do consumidor, o sucesso do movimento não é surpresa. Em um mundo cansado de excessos e, ao mesmo tempo, ávido por experiências marcantes, essa mistura funciona como um código contemporâneo: um pé na nostalgia e outro na sofisticação.
“Acredito que essa é a resposta para uma geração que não quer escolher entre o simples e o elegante, mas que quer ambos, juntos”, diz Leandro Mattiuz, proprietário do Elevado Bar, que tem no menu um combo de hambúrguer artesanal servido com uma taça de champanhe Lanson. Mattiuz justifica a harmonização inusitada pela complexidade do espumante e o seu poder de balancear a gordura do hambúrguer.
Ele explica que um bom champanhe, quanto mais envelhecido, mais cremoso fica na boca. “O casamento é ideal, porque o frescor e o gás delicado do champanhe combina bem com a gordura do hambúrguer e com a intensidade do queijo, proporcionando uma sensação de leveza e bem-estar no final da experiência”.
Coda bar: combinação de dry martini e batata frita (Karim Rojas/Divulgação)
Em São Paulo, poucos lugares traduzem tão bem essa tendência quanto o Coda. O bar, comandado por Alê D’Agostino, abraçou a tendência ao oferecer uma das combinações mais improváveis: fritas com dry martini clássico.
“É curioso, mas juntos, eles representam o espírito do bar: zero pretensão, máximo sabor. O high & low não é uma moda passageira, é um jeito de viver a gastronomia com mais personalidade”, diz D’Agostino.
A combinação de ovos com trufas frescas é um clássico da cozinha italiana e francesa há muitas décadas. Muito antes de receber o rótulo de high ans low, ela já mostrava que um ingrediente raro, de excelência e muito valorizado na gastronomia pode ser melhor apreciado quando encontra um preparo simples.
“No fundo, é um diálogo direto com a natureza: a trufa nasce escondida na terra e chega ao prato quase sem interferências, com o ovo funcionando como uma moldura neutra que deixa a trufa falar”, diz Mônica Claro, à frente da Tartuferia San Paolo, empresária e especialista em trufas frescas.
Especialistas apontam que a tendência dominará 2026, porque ele surge como uma fuga natural do excesso gourmet dos últimos anos. Após uma década marcada por pratos milimetricamente montados e combinações hipercomplexas, o público começou a buscar uma gastronomia mais simples, direta e prazerosa, sem abrir mão da técnica.
O consumidor de 2026 rejeita performances e procura experiências verdadeiras, que misturem excelência com humor, espontaneidade e memória afetiva. Além disso, a tendência conversa diretamente com uma estética global: ambientes minimalistas com toques kitsch, menus inteligentes com doses de irreverência e cartas de bebida que transitam do clássico ao popular sem pedir desculpas.