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Oscar Niemeyer, as curvas da saudades

Como a morte do maior arquiteto brasileiro repercute no coração de quem teve o privilégio de conhecê-lo

A Escola da Cidade cobriu sua fachada de preto no dia da morte de Oscar Niemeyer (Divulgação)

A Escola da Cidade cobriu sua fachada de preto no dia da morte de Oscar Niemeyer (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 10 de dezembro de 2012 às 12h01.

São Paulo - A portas fechadas, Oscar Niemeyer se reunia com um grupo de alemães para decidir como projetar uma nova construção para o centro de Berlim. O projeto, rascunhado, era cheio de curvas. Diante dos traços que rompiam as previsíveis linhas retas, os estrangeiros começaram a lançar pedidos de alterações. Depois de ouvir, atento, um discurso de quase duas horas que clamava por uma arquitetura tradicional, Niemeyer apenas respondeu: “Assim, reto, não. Com curvas é melhor”.

Não houve questionamentos. Ciro Pirondi, arquiteto fundador da Escola da Cidade, presente à mesa, se lembraria daquele dia como um momento em que Niemeyer demonstrou tanta convicção no que acreditava e paixão pela arquitetura, que os alemães se renderam e respeitaram suas palavras. “Todos sabiam que estavam diante de um gênio”, conta Pirondi.

Pelos corredores de escritórios de arquitetura e pelas ruas, o dia amanheceu saudoso. “Eu o conheci quando ele estava projetando o Memorial da América Latina em São Paulo. Era uma jovem repórter impressionada com a rapidez com que ele desenhava. Lembro-me que ele jogava esses croquis fora e eu tinha vontade de pedir aqueles papéis para guardar de recordação. Estava fascinada com seu discurso, com suas ideias. Dessa época, nasceu uma de minhas principais inquietações com a arquitetura: os projetos arquitetônicos devem responder a um amontoado de necessidades do cliente ou provocar novas maneiras de habitar e induzir ao sonho?”, conta Lívia Pedreira, diretora do Núcleo Casa e Construção, da Editora Abril, para quem Niemeyer não era Niemeyer – era Oscar.

Para Ciro Pirondi, Niemeyer era um amigo de décadas, conhecido – “por sorte”, ele diria – há 29 anos. “Eu fazia mestrado na Espanha e estudava as curvas da arquitetura de Niemeyer. Concluí o estudo e tive a ousadia de enviar-lhe o trabalho, acompanhado de um bilhete ‘Caro Oscar, se isso lhe servir para alguma coisa, use-o; caso contrário, pode jogá-lo no lixo’”, conta. Três meses depois, recebeu uma revista editada por Niemeyer na qual constava seu artigo e um recado: “Quando voltar ao Brasil, me procure”. Eles, então, se conheceram.

No último encontro, Niemeyer perguntou a Pirondi: “Como está nossa escola?” Se referia à Escola da Cidade, onde ministrou a aula inaugural em 2002 e pela qual sempre teve um afeto. Estava interessado em ouvir, ensinar e conhecer a geração que, no futuro, desenhará o Brasil. A escola estava bem, respondeu Pirondi. Ontem, após a morte do arquiteto, a Escola tapou sua fachada de sete andares com um pano preto, reto. Humildemente reto.

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