"Há 32 anos, quando escrevi The Wall, acreditava que era minha história. Agora vejo que é algo maior, é de todas as pessoas que lutam contra a guerra", disse Roger Waters, sobre seu show (Kevin Winter/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 5 de março de 2012 às 11h40.
Santiago - Helicópteros parecem se aproximar ferozmente, e o som quadrafônico espalha o rugido dos motores pelo estádio, enquanto explosões pontuam toda a extensão do telão. Uma réplica de um avião de guerra da Royal Air Force desce da torre de iluminação e colide com o muro, como se estivéssemos dentro de um Vietnã portátil. Logotipos da Shell e da Mercedes caem no abismo junto a símbolos como a estrela de Davi, a cruz católica. Um retrato de Mao Tse Tung é estilhaçado na tela, assim como outros de aiatolás e generais. Nos tijolos do muro (de 137 metros de largura), fotos de centenas de retratos de perseguidos políticos.
Dificilmente se verá um show visual mais impressionante do que esse em 2012. Custa US$ 200 mil por dia (R$ 340 mil), segundo disse à reportagem o chefe de produção da turnê, Chris Kansy. The Wall, do Pink Floyd, vai encher o Morumbi nos dias 1º e 3 de abril com 70 mil pessoas por dia (ainda há ingressos para o segundo). É um titã tecnológico. Seis torres gigantes de som circundam o público. Marionetes colossais de mais de 100 metros de altura contracenam com a banda. Um muro continental é construído e demolido.
Ópera-rock de 1979 do grupo britânico Pink Floyd, revisitada sob a batuta do seu compositor, o baixista Roger Waters, levou 80 mil pessoas em duas noites ao Estádio Nacional de Santiago, sexta e sábado.
Idealizada há três décadas para espaços fechados, agora foi repaginada para estádios e arenas gigantes. "Dedico esse show a Victor Jara, e a todos os torturados e desaparecidos", discursou Waters em Santiago. O dramaturgo e poeta Victor Jara foi torturado e fuzilado pela ditadura Pinochet em 1973.
A atualização política do show é tão vertiginosa quanto a metralhadora que Waters dispara na segunda metade do concerto. Uma das canções foi dedicada ao brasileiro Jean Charles de Menezes, assassinado pela polícia britânica com nove tiros em 2005, ao ser confundido com um terrorista (Waters chega mesmo a cantar seu nome improvisadamente dentro de um verso).
"Há 32 anos, quando escrevi The Wall, acreditava que era minha história. Agora vejo que é algo maior, é de todas as pessoas que lutam contra a guerra. Abarca temas amplos e a luta do indivíduo contra a autoridade", afirmou, em entrevista coletiva.
Se o leitor puder, não perca o show: a reportagem visitou suas "engrenagens" no Chile, a convite da produção, e ficou estupefata. O interior do Estádio Nacional virou um hotel 5 estrelas, com buffets gigantescos, lounges, bunkers de produção local e internacional - no Chile, 400 pessoas trabalhavam no backstage, 160 delas chilenos. Leva 6 dias para montar o circo inteiro. As informações são do jornal O Estado de Paulo.