China: Wuhan ficou isolada do mundo por 76 dias entre janeiro e abril de 2020 (Sébastien RICC/AFP)
Matheus Doliveira
Publicado em 24 de janeiro de 2021 às 08h08.
Os DJs estão animados, a música é estrondosa e os jovens se preparam para uma noitada. Essa boate em Wuhan, cidade chinesa considerada o berço da pandemia de covid-19, agora simboliza a liberdade recuperada enquanto o resto do mundo se fecha e se confina.
Um ano depois de ser colocada em quarentena, em 23 de janeiro de 2020, a metrópole de 11 milhões de habitantes, onde surgiram os primeiros casos de covid-19, deixou de ser a cidade fantasma que assombrou o resto do mundo.
E enquanto grande parte do planeta impõe toques de recolher, confinamentos e distanciamento social, em Wuhan a vida noturna está no auge.
Para entrar na "Super Monkey", uma enorme boate no centro da cidade, não é necessário estar em uma lista VIP e não há exigência de vestimenta. Mas a máscara é obrigatória e os seguranças na entrada controlam a temperatura dos clientes: acima de 37,3 graus, não podem entrar.
No interior, o clima é agitado, com raios laser e fumaça, enquanto os jovens - a maioria na casa dos 20 anos - liberam toda a sua energia na pista de dança.
Outros são meros espectadores, felizes por se reunir em torno de uma bebida, após a quarentena sombria de um ano atrás, quando o que era então um vírus misterioso apareceu.
"Fiquei preso em casa por dois ou três meses. O país tem enfrentado a epidemia muito bem, agora posso sair com absoluta paz de espírito", disse à AFP Xu, um cliente de 30 anos.
Nesse ambiente, que pouco tem a ver com a austeridade oficialmente defendida pelo regime comunista, Chen Qiang, um jovem de 20 anos, está satisfeito que a China tenha praticamente controlado a epidemia em seu território, e isso apesar de pequenos surtos nos últimos dias.
"O governo chinês é bom. O governo chinês faz de tudo pelo seu povo e o povo é supremo. É diferente dos países estrangeiros", afirma.
A mídia chinesa cobre em detalhes as dificuldades dos países ocidentais diante da pandemia, que contrasta com o retorno à normalidade na China. Veem nisso a prova inequívoca da superioridade do modelo autoritário chinês.
A autoridade, no entanto, não é respeitada em todos os lugares.
Na Super Monkey, embora a máscara seja obrigatória, nem sempre é usada pelos clientes, que não hesitam em acender um cigarro. E nenhuma regra sobre distanciamento social foi prescrita.
Chen Qiang reconhece, porém, que a pandemia mudou as coisas. Nas boates "há menos gente do que antes", observa, e garante que, em termos gerais, as pessoas "saem menos e gastam menos".
Nem o protocolo muito rígido aplicado em alguns locais ajuda: clientela limitada, reserva obrigatória e apresentação de aplicativo com código verde, sinônimo de boa saúde... embora nem sempre seja suficiente para entrar.
Assim, vários jornalistas da AFP não puderam entrar no clube "Imhan" porque seu código de saúde indicava origem de Pequim, onde uma fonte de contágio da variante britânica da covid-19 foi descoberta na região sul da capital chinesa.
Wuhan ficou isolada do mundo por 76 dias entre janeiro e abril. Após uma campanha massiva de testes, a vida normal gradualmente recuperou seu curso.
No verão passado, as imagens de uma megafesta em um parque aquático lotado geraram surpresa e mal-entendidos entre os internautas no resto do mundo, onde o coronavírus continua causando muitas vítimas.