Novos tempos nos residenciais luxuosos para idosos em Nova York
Antes da pandemia, as residências com assistência em NY atingiram taxa de ocupação de 96% graças à demanda e a 15 anos sem novos empreendimentos do tipo
Daniel Salles
Publicado em 14 de outubro de 2020 às 09h48.
Até o final do ano, serão inauguradas na cidade de Nova York três torres de apartamentos com assistência para idosos, oferecendo tratamentos de beleza, refeições gourmet e passeios com motorista, além de cuidados no dia a dia.
Os edifícios foram construídos com base na aposta de que uma população crescente de idosos ricos pagaria valores substanciais — a partir de US$ 13.000 por mês em Manhattan — para morar perto de filhos adultos em um centro urbano vibrante quando não pudessem mais viver sozinhos.
A Covid-19 virou tudo de cabeça para baixo.
O coronavírus, que afeta desproporcionalmente os mais velhos, se espalhou rapidamente nos EUA entre as instituições que cuidam de idosos. Eventos sociais em locais fechados, como degustações de vinho e outros pontos altos dos projetos de vida assistida, tornaram-se insustentáveis. Filhos adultos de potenciais clientes ainda não retornaram a seus escritórios no centro e podem até ter se mudado para cidades mais calmas. Com a Broadway fechada e atrações culturais funcionando com capacidade mínima, o vigor da Nova York (e o consequente valor dos aluguéis) está indefinidamente em compasso de espera.
“Nova York realmente precisa estar a todo vapor para que isso funcione”, disse John Kim, analista da BMO Capital Markets que cobre empreendimentos como a incorporadora Welltower, uma das criadoras do projeto Sunrise, no endereço East 56th Street, com inauguração marcada para novembro. “Acho que será muito desafiador conseguir inquilinos.”
Pouco antes da pandemia, as residências com assistência em Manhattan atingiram taxa de ocupação recorde de 96%, graças à demanda elevada e a um período de 15 anos sem nenhuma construção desse tipo, segundo o Centro Nacional de Investimentos em Alojamento e Cuidados para Idosos.
O vírus mudou a equação de uma hora para outra. Durante o segundo trimestre, quando Nova York entrou em lockdown, a ocupação caiu para 88%, a menor desde 2010. Com a interrupção das novas chegadas nos estabelecimentos da cidade e do resto do país, não era possível ocupar o lugar dos residentes que saíram, faleceram ou migraram para locais que oferecem cuidados mais intensos.
“Certamente, pode demorar um pouco mais para a área absorver esse novo produto junto com a queda na ocupação causada pela pandemia”, disse Lana Peck, diretora sênior da organização sem fins lucrativos com sede em Maryland.
As luxuosas torres para idosos em Nova York, onde os residentes pagam por serviços exclusivos e design moderno comparável aos prédios mais vistosos da cidade, ainda eram um conceito novo em 2016, quando foram anunciados os dois primeiros projetos que seriam erguidos do zero. Com as vendas de apartamentos de luxo diminuindo e os dados demográficos apontando para um enorme número de pessoas da geração Baby Boomer (nascida entre 1946 e 1964) chegando à terceira idade, as incorporadoras perceberam uma nova oportunidade.
Conexão Humana
“Os idosos merecem ter opções e não considerar a residência assistida somente na última hora”, disse Bevin Littlehale, diretora administrativa da Hines, sócia da Welltower no projeto Sunrise, que será operado pela Sunrise Senior Living.
A inauguração do edifício durante uma pandemia tem seus desafios, mas o residencial pode reduzir a sensação de isolamento dos idosos em uma época de afastamento das visitas, explicou Jenifer Salamino, diretora operacional da Sunrise. Até atividades com distanciamento social proporcionam alguma conexão humana, segundo ela.
“Temos uma equipe completa de gastronomia, equipe de limpeza, porteiro 24 horas por dia e teremos enfermeiros 24 horas”, disse Salamino, acrescentando que algumas atividades, como artesanato, podem ser realizadas nos apartamentos dos moradores.