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Design | Arte para descansar

Cadeiras e poltronas assinadas por designers e arquitetos incensados estão em alta e ganham status de peças de colecionador

BARDI’S BOWL: A arquiteta italiana Lina Bo Bardi viveu em São Paulo e é bastante conhecida pelo projeto do Masp, de 1968. Em 1951, ela desenhou a poltrona Bowl. Moldada em fibra de vidro revestida de couro ou tecido, parece uma tigela que se move sobre um anel. Em 2013, a marca italiana Arper fez uma reedição com tiragem de 500 exemplares, que ainda estão à venda. Há diferentes opções de revestimento, desenvolvidas com base em desenhos da própria Lina. Custa 61.750 reais na Dpot. (Dpot/Divulgação)

BARDI’S BOWL: A arquiteta italiana Lina Bo Bardi viveu em São Paulo e é bastante conhecida pelo projeto do Masp, de 1968. Em 1951, ela desenhou a poltrona Bowl. Moldada em fibra de vidro revestida de couro ou tecido, parece uma tigela que se move sobre um anel. Em 2013, a marca italiana Arper fez uma reedição com tiragem de 500 exemplares, que ainda estão à venda. Há diferentes opções de revestimento, desenvolvidas com base em desenhos da própria Lina. Custa 61.750 reais na Dpot. (Dpot/Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 12 de setembro de 2019 às 05h26.

Última atualização em 4 de junho de 2020 às 15h12.

Quem gosta de design aplaudiu a novidade. A empresa americana Knoll anunciou recentemente a volta da produção da famosa poltrona Butterfly, uma criação dos argentinos Juan Kurchan e Jorge Ferrari-Hardoy e do catalão Antoni Bonet. A Knoll havia deixado de fabricar a peça quando seu design caiu em domínio púbico, nos anos 70, e um sem-número de cópias, algumas malfeitas e baratas, passou a ser vendido em todo canto. Agora, a fabricante considera haver mercado para móveis mais caros, feitos de acordo com as especificações do designer, e voltou atrás.

Móveis de design estão em alta. “O mercado se interessa pela assinatura”, diz o consultor de estilo Aldi Flosi, que faz curadoria de mobiliário e obras de arte para projetos de grandes escritórios de arquitetura e decoração. Principalmente cadeiras e poltronas de design estão em voga. “Mobiliar a casa inteira com móveis assinados sai caro. Uma poltrona com grife cumpre a função de demonstrar o conhecimento em design.” O interesse é tão grande que virou moda colecionar miniaturas de cadeiras icônicas, algumas feitas em impressoras 3D e vendidas em lojas como as da rede de decoração Westwing.

Muitos designers produziram peças de mobiliário que ficaram famosas, principalmente cadeiras e poltronas. “É uma peça difícil de desenhar”, diz a historiadora do design Ethel Leon. “É fácil encontrar uma cadeira desconfortável. Por isso, tornou-se um desafio.” E não só para os designers. “Todo grande arquiteto desenhou uma poltrona”, diz Maria Cecília Loschiavo dos Santos, professora titular na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e autora do livro Móvel Moderno. “Elas são manifestos de ideias e princípios de seus projetistas.” 

Quem tem uma poltrona clássica — como a Mole, de Sérgio Rodrigues — gosta de mostrar. Quem reconhece faz questão de dizer. O Brasil ficou conhecido no mundo pela qualidade das madeiras e pelo preciosismo do trabalho de seus designers do mid-century (1940-1970). Tanto que vêm sendo relançadas obras de artistas e coletivos como Sérgio Rodrigues, Jorge Zalszupin, Branco & Preto. As novas versões, por sua vez, realimentaram o interesse do público brasileiro. “Quando comecei as reedições em 2002, ninguém se lembrava do nome desses designers”, diz Etel Carmona, dona da empresa Etel, especializada em reproduções. “Hoje as pessoas entram na loja sabendo o que querem.”

Filho do designer baiano Zanine Caldas, o designer carioca Zanini de Zanine decidiu reeditar ele mesmo a obra do pai. “O legado dele é um dos mais profundos da arquitetura e do mobiliário brasileiros”, diz Zanini, fundador do Museu da Cadeira, em Belmonte, na Bahia. “Ele foi um pesquisador da cultura e das florestas brasileiras.”

Há quem prefira cadeiras de época. “Não é a mesma coisa”, diz Téo Vilela, da Loja Téo, em São Paulo, especializada em móveis do século 20. “Muitas peças eram feitas de jacarandá, o que hoje está proibido. Se você muda a madeira, precisa mexer na proporção.” Segundo ele, peças que não são reeditadas são as de maior valor. Hoje, um móvel de Joaquim Tenreiro, português radicado no Brasil, custa dezenas de milhares de dólares no exterior. Por aqui, os colecionadores também pagam fortunas. Uma cadeira Três Pés, de Tenreiro, foi vendida há alguns anos por 350.000 reais.

O problema é que não é raro encontrar falsificações. Há cópias baratinhas e falsificações caras. O importante é escolher um modernariato (antiquário do século 20) de confiança ou um fabricante autorizado. Confira a seguir algumas das principais cadeiras em produção.


Poltrona Barcelona

Junto com Le Corbusier e Frank Lloyd Wright, o alemão Ludwig Mies van der Rohe é considerado um dos maiores expoentes da arquitetura moderna. Diretor da Bauhaus, Rohe foi encarregado de projetar o pavilhão alemão para a Feira Internacional de Barcelona de 1929. A poltrona faz parte do mobiliário desse pavilhão. Hoje quem a edita é a Knoll. No Brasil, é importada sob encomenda pela Escinter e demora 120 dias para chegar. Custa 56.731 reais.


Poltrona Wassily

Desenhada em 1925 pelo arquiteto húngaro Marcel Breuer, a Wassily mudou a história do mobiliário doméstico ao reduzir a poltrona estofada às linhas e aos planos básicos. Foi o primeiro móvel doméstico a usar aço tubular. Quem detém o direito de reprodução é a americana Knoll, representada no Brasil pela Escinter. A Wassily oficial é importada sob encomenda e demora 120 dias para chegar. Custa 25.331 reais.


Poltrona Cuca

O baiano Zanine Caldas nunca se formou, mas deu aulas na escola de arquitetura da Universidade de Brasília. Ficou famoso por seu trabalho com madeira tanto na construção de casas quanto na fabricação de móveis. A Cuca tem a estrutura de madeira, mas é estofada. Lembra uma poltrona clássica, mas os pés, em forma de tesoura, e o apoio para os braços de madeira dão à peça um toque de modernidade. Foi projetada nos anos 50. Em 2016, seu filho, o também designer Zanini de Zanine, lançou uma reedição. A peça em veludo corcovado sai por 8.741 reais na Dpot.


Poltrona Alta

As curvas que marcaram as construções de Oscar Niemeyer também estão presentes em suas peças de mobiliário. A poltrona Alta é de 1971, feita em conjunto com a filha, Anna Maria Niemeyer. Inicialmente, o pé em arco, que faz uma curva e se encontra com o encosto, era de madeira compensada. No fim da década de 70, Niemeyer criou uma versão com pés de aço para a sede do Partido Comunista francês. A Etel reeditou as duas versões. A peça em madeira custa 33.000 reais.


Poltrona Paulistano

Ganhador do Prêmio Pritzker, Paulo Mendes da Rocha é autor de projetos como o Mube e a revitalização da Pinacoteca do Estado, ambos em São Paulo. A poltrona Paulistano foi projetada junto com o ginásio do Clube Paulistano em 1957. A limpeza do desenho, que usa como estrutura uma única barra de aço curvada, logo chamou a atenção para o então jovem arquiteto. Hoje é editada pela francesa Objekto e distribuída no Brasil pela Futon Company. A peça em couro custa 6.458 reais.


Poltrona Charles Eames

Uma luva de beisebol foi a inspiração dos designers americanos Ray e Charles Eames. Em 1956, o casal lançou esta poltrona com a banqueta. São três conchas de madeira laminada com almofadas fixas de couro, montadas manualmente. Serve para a sala e para o escritório. A autêntica é produzida pela Herman Miller. A poltrona custa 34.154 reais e o conjunto 42.838 reais.

 

Poltrona dinamarquesa

Poltrona dinamarquesa (Divulgação/Divulgação)

Poltrona Dinamarquesa

Polonês formado em arquitetura na Romênia, Jorge Zalzupin chegou ao Brasil em 1949. Veio passear, mas acabou aceitando um convite de trabalho. Logo de início, começou a desenhar os móveis para os seus projetos arquitetônicos. As peças fizeram tanto sucesso que, em 1960, fundou a L’Atelier. A poltrona dinamarquesa, de 1959, com suas linhas que lembram o Palácio da Alvorada, já o tinha consagrado como designer. Muitos prédios de Brasília têm móveis assinados por ele. A poltrona tem uma reedição feita pela ETEL, que custa R$ 16mil.

Poltrona Kiri

Poltrona Kiri (Divulgação/Divulgação)

Poltrona Kirk

Percival Lafer também é arquiteto, mas seu trabalho sempre foi mais voltado para a produção de móveis. Nos anos 60, assumiu com os irmãos a empresa do pai e se dedicou a produzir design de qualidade para a classe média, criando projetos que possibilitavam a produção em escala. Em atividade até hoje, conta que a poltrona de maior sucesso de todos os tempos é a Kiri, lançada nos anos 70. O apoio retrátil para os pés e a possibilidade de inclinação total, até à posição deitada fazem dela um ícone de conforto. O modelo em couro custa R$ 7.295,00 na Intermodus Lafer.

Poltrona Mole

Poltrona Mole (Divulgação/Divulgação)

Poltrona Mole

Uma das peças mais procuradas pelos admiradores do design modernista brasileiro, cheia de curvas e elementos, a poltrona mole desenhada em 1957 pelo arquiteto e designer carioca Sérgio Rodrigues foi considerada uma resposta ao racionalismo minimalista da Bauhaus. Suas formas livres, adaptam-se ao corpo. O conforto aparece em primeiro lugar. O designer desenhou inúmeros móveis e ficou muito conhecido por suas cadeiras e poltronas. A mole, no entanto, permanece a mais famosa. Fabricada pela LinBrasil, em tauari e couro natural pigmentado, em São Paulo ela é vendida pela Dpot por R$ 23.348,00


A cadeira dos poderosos

Criada por Bill Stumpf e Don Chadwick em 1994, a Aeron da Herman Miller é até hoje a cadeira mais cobiçada do mundo corporativo. Na época, representou uma renovação ergonômica. Foram vendidos mais de 7 milhões de cópias em 134 países desde o lançamento. É, por exemplo, a cadeira do ex-presidente americano Barak Obama. Em 2016, sem fugir do conceito original, incorporou novas tecnologias e novos materiais. Agora tem, entre outras diferenças, suporte de coluna com ajustes independentes para o sacro e para a lombar. Custa a partir de 8.139 reais na Herman Miller.

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