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Novo Godzilla deixa de lado a tradição nuclear e expõe o medo de desastres naturais

Filme segue a proposta de Godzilla, mas foca mais em terremotos, furacões e tsunamis; monstros batalhas são destaque, mas atuações são relativamente fracas

godzilla (Divulgação)

godzilla (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 12 de maio de 2014 às 17h50.

Um dos pontos mais interessantes na história de Godzilla, cuja origem remete a 1954, é a inspiração para sua criação. O “pai” do monstro gigante, o japonês Tomoyuki Tanaka, pretendia desde o início aproveitar o medo de um holocausto nuclear, ainda muito presente no Japão nove anos após o traumático bombardeio de Hiroshima e Nagasaki. Dessa ideia, então, surgiu a representação de um desastre atômico que é o “réptil”, hoje o kaiju (“criatura estranha”) mais famoso da história.

O monstro gigante, chamado de Gojira em seu país natal, deixava um rastro de destruição e ruínas por onde passava. E pelas décadas seguintes, apesar de o gigante ter perdido o papel de vilão, a essência de um filme-desastre nunca foi deixada de lado: cidades devastadas e pessoas aterrorizadas seguiram presentes. E esses dois elementos principais estão de volta em mais uma história envolvendo o Rei dos Monstros japonês – mas dessa vez, com foco em um medo recente da população mundial.

Chamada simplesmente de Godzilla, a nova obra dirigida por Gareth Edwards (que tem no currículo um filme chamado Monstros), visa recontar a história do kaiju, que passa a representar desastres naturais em vez de uma bomba atômica em movimento. É uma proposta arriscada, definitivamente: a última tentativa norte-americana, de 1998, foi um filme-desastre no sentido ruim da expressão. Mas Edwards obtém bem mais sucesso ao trazer o monstro de volta – embora isso não signifique que esse seja o filme do ano.

Filme e enredo – A história do novo Godzilla se passa entre 1999 e 2014, e tem como personagem principal Ford Brody (Aaron Taylor-Johson). Tenente no exército, casado com Elle (Elizabeth Olsen) e pai de Sam (Carlson Bolde), o rapaz tem as férias interrompidas pela prisão do pai, Joe (Brian Cranston, interpretando um ótimo engenheiro paranoico), no Japão.

O patriarca da família Brody, aliás, perdera a esposa Sandra (Juliette Binoche) no final da década de 90, após um estranho terremoto. Passou, então, a última década e meia tentando descobrir o que havia provocado os abalos próximos à usina nuclear em que os dois trabalhavam, não importando os riscos ou as leis.

De qualquer forma, como estamos falando de um filme de monstros, já dá para imaginar as causas dos tremores. Mas o enredo demora um bom tempo para explicitá-las, tentando não deixar muito espaço para bocejos enquanto as criaturas gigantes não aparecem. O sucesso na empreitada é relativo, no entanto. Edwards consegue criar um bom suspense em algumas das partes sem os kaijus, como na visita de pai e filho às ruínas da antiga casa dos Brody, no Japão.

Em outras, porém, a tensão dura tempo suficiente para cansar. O trecho que antecede o nascimento do primeiro Muto (na verdade, uma sigla para "Massive Unidentified Terrestrial Organism") é um exemplo: enquanto a mistura de insetos segue presa no casulo, Joe Brody é interrogado, cientistas discutem e Ford Brody tenta escapar do carro em que está preso.

Só depois do falatório é que o monstro voador sai do casulo – e o enredo começa a andar. As forças da natureza voltam a aparecer aqui: a fuga de Muto é tratada como outro terremoto pela imprensa, e a reação da esposa de Ford ao saber da notícia é a mesma de parentes de vítimas de desastres naturais. As notícias de tremores só param de surgir nos noticiários quando a mariposa gigante – que não é a mariposa Mothra, dos filmes da década de 60, vale dizer – finalmente é mostrada na TV.

Monstros e ação – A revelação dos monstros é um ponto muito bem trabalhado pelo diretor Edwards, aliás. Para começar, mesmo fora do ovo, o gigante voador demora a ser mostrado por inteiro: primeiro uma pata, depois a segunda, um pedaço do corpo e a cabeça. Essa “revelação gradual” é repetida para apresentar o mocinho Godzilla (do qual surgem primeiro os espinhos dorsais, depois a cauda, o pescoço e as mãos) e o segundo Muto, visto ao longe por um binóculo embaçado. Não é algo inovador – foi feito em Cloverfield e em Monstros, este do próprio Edwards, e funcionou em ambos –, mas é muito bem-vindo nesse tipo de filme.

Esse aparecimento do Rei dos Monstros é outra referência aos desastres que os kaijus representam: sua aproximação da costa provoca tsunamis, como se ele fosse um furacão – e a destruição causada por ele e por suas batalhas contra os Mutos em São Francisco e no Havaí lembra a deixada pelo Katrina, por exemplo. E essa relação com o furacão volta a aparecer no fim, quando os sobreviventes da cidade californiana vão se refugiar em um estádio, como fizeram os de Nova Orleans no cessar do destruidor fenômeno natural.

Em relação às lutas, uma pena que não sejam exatamente frequentes: diferentes das que aparecem em Círculo de Fogo, são poucas e relativamente breves as cenas de combate envolvendo o trio, embora sejam tão memoráveis quanto às da obra de Guillermo Del Toro. Spoilers a seguir: as mortes dos dois Mutos são espetaculares, por exemplo, assim como a primeira vez em que Godzilla começa a brilhar para soltar sua rajada azul.

Os próprios monstros não ganham tanto destaque assim, aliás, também ao contrário do que acontece no filme dos robôs gigantes. Mesmo com a pompa das apresentações, das batalhas e dos visuais – ponto para a Legendary –, o foco fica quase sempre em Ford, no exército e nas relações e reações das pessoas. É algo que acaba enfraquecendo a narrativa: apesar de não pecar na atuação, o personagem de Taylor-Johson não tem tempo de criar laços com ninguém ao seu redor, e nem mesmo com quem está assistindo. Para falar a verdade, com exceção da história de Joe Brody e das reações de Godzilla e mesmo dos dois Mutos, é difícil se comover com algo no filme.

Conclusões – Mas relações interpessoais e emoções à parte, o Godzilla de Gareth Edwards está longe de ser decepcionante. Muito pelo contrário, aliás: os pontos positivos, em especial as cenas de ação com os kaijus e alguns suspenses criados pelo diretor, seguram muito bem as tensas duas horas de filme, muito bem apoiadas pelos ótimos efeitos sonoros – o rugido do monstro gigante e os sons da movimentação são excepcionais – e trilha igualmente boa.

A introdução da obra também é digna de nota, e traz imagens de arquivo fictícias que revelam como o exército lidou com o primeiro despertar do gigante, em 1954. É uma das muitas referências à história de Godzilla que o roteiro traz: o nome de Mothra, monstro que inspirou o Muto voador, ainda aparece em uma das cenas, e a expressão “King of the Monsters”, do filme de 1956, também é mostrada no telão ao fim do filme. Isso sem contar que tudo começa no Japão, terra natal do kaiju. Em suma, é quase certo que fãs do clássico Gojira e de filmes cheios de destruição não sairão desapontados.

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