Nelson Rodrigues fala sobre si mesmo em mostra inédita
Itaú Cultural abre exposição com relatos do escritor e dramaturgo sobre a família, o teatro, a sociedade de seu tempo
Da Redação
Publicado em 20 de junho de 2012 às 11h19.
São Paulo - Nelson Rodrigues era um gênio. Ou seria um reacionário? Um devasso, um tarado. Ou um moralista, diriam outros. Não faltam lugares-comuns para definir o maior dramaturgo brasileiro, que completa 100 anos em 2012. Até mesmo quem assente em reconhecer o valor de seu teatro não tarda a sacar rótulos um tanto simplistas para dar conta de suas aparentes contradições.
Na contramão de todas essas definições, a exposição "Ocupação Nelson Rodrigues", que o Itaú Cultural abre nesta quarta para convidados e na quinta para o público, garante ao próprio Nelson a prerrogativa de falar sobre si. "Há muita coisa sobre meu pai que as pessoas desconhecem. Ele era um outsider", diz Maria Lucia Rodrigues, filha do escritor e curadora da mostra. "Não pretendo trazer a palavra final sobre ele. Mas é uma outra perspectiva."
Para traçar esse retrato, Maria Lucia foi aos escritos de Nelson Rodrigues em busca de seus relatos sobre a família, o teatro, a sociedade de seu tempo. Projetadas em dez telões ou impressas nas paredes, cerca de cem frases não corroboram a imagem do alardeado ultraconservador. Ou do criador pornográfico. Antes, mostram um pensador que ousava lucubrar para além do senso comum, que se arriscava a exagerar nos matizes para levantar outras questões, outras verdades. Alguém que nunca sacou as armas contra os inimigos óbvios. Uma voz dissonante em meio à unanimidade. "É interessante vê-lo como um homem da República Velha, momento histórico em que os intelectuais prezavam muito a sua liberdade", comenta Maria Lucia, explicando por que Nelson sempre se manteve deliberadamente sozinho, sem alinhar-se à direita ou à esquerda.
À entrada da exposição, uma grande fotografia do Recife, coberta por um espelho dágua, dá pistas sobre o outro grande norte da curadoria. A origem pernambucana dos Rodrigues também aparece como chave para desvendar a obra do autor. Formado por intelectuais e artistas, o clã sempre foi o esteio de Nelson. A mostra desvenda essas personalidades: o pai, a mãe, os irmãos. Revê o fim trágico de muitos deles, mais terrível do que qualquer uma das obras de ficção que Nelson escreveu. Coloca em lugar de destaque uma grande mesa de jantar, palco das reuniões familiares.
Ainda que surja apenas lateralmente como tema, o teatro pauta a concepção do espaço, que lembra o cenário de uma peça. Entre véus, portas e móveis, quatro monitores exibem fotografias e tablets trazem recortes dos jornais em que Nelson trabalhou. Há ainda fones de ouvido, que oferecem aos visitantes a chance de conhecer depoimentos de personalidades como Fernanda Montenegro e Ziembinski, além da entrevista que o próprio artista concedeu ao Museu da Imagem e do Som.
Uma série de eventos paralelos complementa a programação da "Ocupação". Haverá um recital, com Denise Fraga e Cleyde Yáconis. Além de debates com diretores que montaram suas peças, entre eles Cibele Forjaz e Ana Kfouri. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Ocupação Nelson Rodrigues
Itaú Cultural (Av. Paulista, 149, metrô Brigadeiro). Tel. (011) 2168-1776. 2ª a 6ª, 9 h/20 h; sáb. e dom., 11 h/20 h. Grátis. Até 29/7. Abertura quarta para convidados
São Paulo - Nelson Rodrigues era um gênio. Ou seria um reacionário? Um devasso, um tarado. Ou um moralista, diriam outros. Não faltam lugares-comuns para definir o maior dramaturgo brasileiro, que completa 100 anos em 2012. Até mesmo quem assente em reconhecer o valor de seu teatro não tarda a sacar rótulos um tanto simplistas para dar conta de suas aparentes contradições.
Na contramão de todas essas definições, a exposição "Ocupação Nelson Rodrigues", que o Itaú Cultural abre nesta quarta para convidados e na quinta para o público, garante ao próprio Nelson a prerrogativa de falar sobre si. "Há muita coisa sobre meu pai que as pessoas desconhecem. Ele era um outsider", diz Maria Lucia Rodrigues, filha do escritor e curadora da mostra. "Não pretendo trazer a palavra final sobre ele. Mas é uma outra perspectiva."
Para traçar esse retrato, Maria Lucia foi aos escritos de Nelson Rodrigues em busca de seus relatos sobre a família, o teatro, a sociedade de seu tempo. Projetadas em dez telões ou impressas nas paredes, cerca de cem frases não corroboram a imagem do alardeado ultraconservador. Ou do criador pornográfico. Antes, mostram um pensador que ousava lucubrar para além do senso comum, que se arriscava a exagerar nos matizes para levantar outras questões, outras verdades. Alguém que nunca sacou as armas contra os inimigos óbvios. Uma voz dissonante em meio à unanimidade. "É interessante vê-lo como um homem da República Velha, momento histórico em que os intelectuais prezavam muito a sua liberdade", comenta Maria Lucia, explicando por que Nelson sempre se manteve deliberadamente sozinho, sem alinhar-se à direita ou à esquerda.
À entrada da exposição, uma grande fotografia do Recife, coberta por um espelho dágua, dá pistas sobre o outro grande norte da curadoria. A origem pernambucana dos Rodrigues também aparece como chave para desvendar a obra do autor. Formado por intelectuais e artistas, o clã sempre foi o esteio de Nelson. A mostra desvenda essas personalidades: o pai, a mãe, os irmãos. Revê o fim trágico de muitos deles, mais terrível do que qualquer uma das obras de ficção que Nelson escreveu. Coloca em lugar de destaque uma grande mesa de jantar, palco das reuniões familiares.
Ainda que surja apenas lateralmente como tema, o teatro pauta a concepção do espaço, que lembra o cenário de uma peça. Entre véus, portas e móveis, quatro monitores exibem fotografias e tablets trazem recortes dos jornais em que Nelson trabalhou. Há ainda fones de ouvido, que oferecem aos visitantes a chance de conhecer depoimentos de personalidades como Fernanda Montenegro e Ziembinski, além da entrevista que o próprio artista concedeu ao Museu da Imagem e do Som.
Uma série de eventos paralelos complementa a programação da "Ocupação". Haverá um recital, com Denise Fraga e Cleyde Yáconis. Além de debates com diretores que montaram suas peças, entre eles Cibele Forjaz e Ana Kfouri. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Ocupação Nelson Rodrigues
Itaú Cultural (Av. Paulista, 149, metrô Brigadeiro). Tel. (011) 2168-1776. 2ª a 6ª, 9 h/20 h; sáb. e dom., 11 h/20 h. Grátis. Até 29/7. Abertura quarta para convidados