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Nada de sauna: a nova comodidade dos hotéis é ar livre de vírus

Hotéis e navios de cruzeiro estão investindo em uma tecnologia que já era comum nos aviões: sistemas de filtragem completa do ar

hotelaria: equipamentos de filtragem de ar podem eliminar até 99% dos vírus. (Tom Grillo/The New York Times)
MD

Matheus Doliveira

Publicado em 22 de dezembro de 2020 às 10h48.

Quando o coronavírus chegou, os hotéis rapidamente adotaram medidas de limpeza aprimoradas, incluindo a pulverização eletrostática e a exposição à luz ultravioleta, que matam germes, nos quartos e nas áreas públicas.

Mas, como a pesquisa sobre a propagação do vírus mudou o foco do contato para a transmissão aérea, alguns hotéis e navios de cruzeiro estão limpando o próprio ar que os viajantes respiram com uma variedade de sistemas de filtragem e tratamento.

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"A melhor comodidade que qualquer hotel poderia fornecer nessas circunstâncias é a segurança, especialmente no ar", disse Carlos Sarmiento, gerente geral do Hotel Paso del Norte, em El Paso, no Texas. O hotel vintage de 1912 reabriu recentemente depois de uma reforma de quatro anos, que incluiu a instalação de um novo sistema de purificação de ar chamado Plasma Air, que emite íons destinados a neutralizar o vírus e facilitar a filtragem de partículas.

Com as novas campanhas de limpeza de ar, os hotéis estão seguindo o exemplo de companhias aéreas, muitas das quais possuem filtros de partículas aéreas de alta eficiência de nível hospitalar, que são considerados mais de 99 por cento eficazes na captura de pequenas partículas virais, incluindo o coronavírus.

Hotéis e navios de cruzeiro podem garantir mais facilmente o distanciamento social do que os aviões, mas, dadas as recentes pesquisas sobre a importância de uma filtragem do ar aprimorada, alguns estão adicionando essa limpeza aos seus sistemas de aquecimento, ventilação e ar-condicionado (HVAC, na sigla em inglês), que já visam remover poeira, fumaça, odores e alérgenos.

Como o ar é purificado

Pesquisadores, incluindo os da Universidade Tulane de Nova Orleans, descobriram que as minúsculas partículas de aerossol do Sars-CoV-2, que são emitidas quando um portador do vírus fala ou respira, podem permanecer no ar por até 16 horas.

Além do distanciamento social, o uso da máscara é a primeira linha de defesa contra a inalação de ar contaminado em locais fechados, de acordo com o dr. Philip M. Tierno Jr., professor de Microbiologia e Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Nova York, que faz consultoria para empresas de HVAC. "Os sistemas HVAC são de grande importância na redução da quantidade de partículas transmitidas pelo ar, uma vez que esse vírus pode se espalhar de forma aérea", acrescentou, chamando os menores aerossóis de "os mais perigosos".

Ele explicou que há várias maneiras de remover essas partículas, incluindo a ventilação com ar fresco, que dilui os patógenos.

As tecnologias de limpeza do ar incluem sistemas de ionização bipolar, que, de acordo com seus fabricantes, liberam íons nas correntes de ar que danificam a superfície do vírus e o tornam inativo. Eles também podem se ligar aos aerossóis do vírus, fazendo com que sejam filtrados mais facilmente.

Alguns sistemas antivirais de HVAC apresentam luz ultravioleta germicida na tubulação (a FDA, agência norte-americana responsável pelo controle de alimentos e remédios, afirma que já foi provado que lâmpadas ultravioleta-C inativam o vírus). Esse sistema foi instalado no Destillery Inn em Carbondale, no Colorado, e inclui um ciclo de desinfecção de três horas.

Os sistemas geralmente usam uma combinação dessas tecnologias com filtros de ar eficientes que removem contaminantes. Os filtros com Valores Mínimos de Eficiência Relatados (Merv, na sigla em inglês), de 13 ou mais, são melhores na captura do coronavírus , de acordo com a Agência de Proteção Ambiental.

Segundo seu site, a agência "recomenda o aumento da ventilação com filtragem de ar externo e local como componentes importantes de uma estratégia mais ampla que inclui distanciamento social, uso de máscara de pano, limpeza e desinfecção de superfícies, lavagem das mãos e outras precauções".

"Em um ambiente com mais movimento, como um hotel, motel ou dormitório, não dá para saber quem esteve lá antes de você e qual era sua condição de saúde", disse Wes Davis, diretor de serviços técnicos da associação comercial Instaladores de Ar-Condicionado dos EUA, acrescentando que a boa limpeza é uma prioridade nesses lugares. "Quanto aos outros itens como exposição ultravioleta ou ionização, tudo ajuda, mas não tenho certeza de que algumas medidas são a solução perfeita. É mais como um show."

Do geral ao particular

Durante todo o verão, o Madison Beach Hotel, parte da Curio Collection de hotéis da Hilton, em Madison, Connecticut, usou seus espaços ao ar livre para servir o jantar e até mesmo realizar reuniões em tendas. Mas, com a aproximação do frio, as empresas de HVAC instalaram um sistema de purificação de ar que usa luz UV e peróxido de hidrogênio ionizado na maioria das áreas públicas do hotel, incluindo o restaurante interno e as salas de reunião. Cada uma das salas do spa tem o próprio sistema portátil de purificação de ar.

"Queríamos criar o ambiente mais seguro possível", afirmou John Mathers, gerente geral do hotel, acrescentando que cada quarto tem o próprio sistema fechado de HVAC, que não se mistura com os outros e, portanto, não requer purificação extra. "O ar que está sendo recirculado em seu quarto é seu ar."

Muitos hotéis, no entanto, estão trazendo unidades para os quartos como uma garantia extra. Em Rhode Island, os quartos dos hotéis Weekapaug Inn e Ocean House, ambos administrados pela Ocean House Management, têm purificadores de ar Molekule, que destroem poluentes e vírus a uma taxa superior a 99 por cento, de acordo com o grupo de testes independente Aerosol Research and Engineering Laboratories.

Unidades maiores foram recentemente adicionadas a restaurantes e espaços públicos, e as unidades portáteis se tornaram as mais vendidas, a partir de cerca de US$ 500, na loja de presentes da Ocean House.

Tentando respirar bem em navios de cruzeiro

O SeaDream I, de 112 passageiros, do SeaDream Yacht Club, tomou muitas precauções – incluindo testes pré-embarque, fumigação eletrostática de áreas públicas e esterilização de luz UV depois da parada noturna – antes de iniciar sua temporada de inverno, saindo de Barbados em sete de novembro, e ainda assim um passageiro pegou o vírus poucos dias depois da partida, interrompendo a viagem. No fim, nove infecções foram diagnosticadas e a linha cancelou suas futuras viagens de 2020. (A linha não respondeu a um pedido de comentário sobre se alguma melhoria havia sido feita no sistema de ventilação do navio.)

O cruzeiro fracassado da SeaDream exemplifica os desafios que toda a indústria enfrenta. Alguns especialistas em saúde acham que a filtragem de ar melhorada pode ajudar. A adoção de sistemas que visam reduzir a exposição dos ocupantes às gotículas infecciosas/aerossóis, e a atualização dos sistemas HVAC com filtros Merv 13 estavam entre as 74 recomendações críticas para navios de cruzeiros feitas pelo Painel de Saúde Náutica, grupo de especialistas em saúde pública montado pelo Grupo Royal Caribbean e pela Norwegian Cruise Line Holdings em setembro.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) sustenta que os navios permanecem vulneráveis à disseminação da infecção com base na densidade de pessoas e na incapacidade da tripulação, em particular, de manter a distância social em seus espaços de trabalho e alojamentos. Ainda assim, espera-se que os cruzeiros sejam retomados em águas americanas para navios que transportam 250 ou mais passageiros e tripulantes no primeiro semestre de 2021, enquanto se aguarda a certificação do Framework for Conditional Sailing Order do CDC, que estabelece padrões mínimos de distanciamento social, cobertura facial e higiene das mãos, mas não menciona sistemas de circulação de ar.

Apesar da falta de ênfase do CDC na filtragem de ar, algumas empresas de cruzeiros estão atualizando seus sistemas de ventilação, além de designar áreas de quarentena e reconfigurar as salas dos restaurantes.

A Norwegian Cruise Line, por exemplo, anunciou que seus navios usarão filtros Hepa. E a Princess Cruises divulgou que atualizará os sistemas HVAC de seus navios com filtros Merv 13, renovará o ar em cabines e espaços públicos a cada cinco ou seis minutos e instalará filtros Hepa em áreas como centros médicos e salas de isolamento.

A nova linha de cruzeiros Virgin Voyages, cujo lançamento foi adiado pela pandemia, confirmou ter instalado sistemas de ionização bipolar AtmosAir em seu navio inaugural, o Scarlet Lady, com capacidade para aproximadamente 2.700 passageiros, e vai fazer o mesmo em um segundo navio que chegará em 2021. "Foi um investimento multimilionário, e, com base em nossa pesquisa e compreensão crescente do vírus, foi um passo importante para navegar com segurança", escreveu Tom McAlpin, executivo-chefe da Virgin Voyages, em um e-mail.

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