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Milan: sai Berlusconi, entra Li. Quem?

Carlo Cauti, de Roma “Deixo com muita dor”. Foi essa a primeira declaração do ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, imediatamente após assinar o contrato de venda do Milan, time de futebol do qual foi presidente por 31 anos. Um longo período de fortes paixões, grandes negócios e muita política. Às 14:04 de da quinta-feira 13 de […]

LI YONGHONG, AO CENTRO: o novo dono do Milan tem um histórico pra lá de suspeito / Alessandro Garofalo/ Reuters
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Da Redação

Publicado em 14 de abril de 2017 às 17h10.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h32.

Carlo Cauti, de Roma

“Deixo com muita dor”. Foi essa a primeira declaração do ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, imediatamente após assinar o contrato de venda do Milan, time de futebol do qual foi presidente por 31 anos. Um longo período de fortes paixões, grandes negócios e muita política. Às 14:04 de da quinta-feira 13 de abril terminou a era Berlusconi e começou a do obscuro empresário chinês Li Yonghong.

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Após dois adiamentos da assinatura por falta de liquidez e três depósitos de garantia de 100 milhões de euros pagos (dois dos quais provenientes de paraísos fiscais), o bilionário chines conseguiu juntar os restantes 290 milhões de euros que faltavam e assinar assim o contrato. No total o Milan, um dos times mais vitoriosos da história, foi vendido na bacia das almas por 740 milhões de euros, dívidas incluidas.

Um negócio que demorou trinta meses para ser fechado e que deixou um lastro de dúvidas na imprensa italiana, nos torcedores e especialmente nos bancos credores do Milan. Afinal, quem é esse misterioso empresário chinês, desconhecido na Europa tanto quanto em seu país, e envolvido em uma gigantesca fraude nos anos 1990? De onde vêm suas fortunas?

Li Yonghong, 48 anos, comprou o Milan somente após um longo purgatório em que parecia não conseguir juntar a liquidez necessária para concluir a operação. O chinês se tornou o novo presidente do time somente graças a um empréstimo de 300 milhões de euros do fundo especulativo americano Elliott Management. Um empréstimo com juros bem salgados para os padrões europeus, cerca de 11% ao ano, e que o chinês se comprometeu a devolver até 2018, sob pena da perda da propriedade do clube e também de todos seus bens.

Não existem dados oficiais, mas segundo o jornal economico italiano Il Sole 24 Ore, Li teria uma fortuna pessoal de pelo menos 500 milhões de euros, distribuída em negócios na China em seu nome e no de sua esposa, Huang. Quem comprou o Milan foi a Rossoneri Sport Investiment Lux, off-shore do Luxemburgo, paraíso fiscal europeu onde ainda hoje o segredo bancário é protegido por lei.

Segundo a imprensa italiana, o novo proprietário do Milan teria investimentos em empresas de embalagens, em minas de fosfato e propriedades imobiliar. Esta última parece ser a atividade mais importante de Li, que possuiria, sempre através de uma off-shore, 28% de um prédio de 48 andares em Guangzhou: o Edifício New China. Um arranha-céus de escritórios e lojas, no valor de cerca de um bilhão de euros.

Este jovem chinês tenta se apresentar aos italianos como um empresário descolado, que prefere usar camisetas ao invés de ternos e gravatas, mas que teria sido capaz de cavalgar o boom imobiliário chinês dos últimos anos se tornando rico. A decisão de se lançar à conquista do Milan seria motivada pelo desejo de diversificar sua carteira por medo que a bolha chinesa exploda cedo ou tarde.

Só que hà muitas dúvidas sobre a proveniência e a real consistência do patrimônio de Li. O Shanghai Zhengquan, jornal econômico controlado pelo governo chinês, escreveu que o dono do Milan foi envolvido no final dos anos 1990 em uma gigantesca fraude contra 18.000 poupadores que haviam investido em empresas de Li e de sua família no setor da agricultura sustentável e que teriam perdido tudo. Um calote calculado em mais de 100 milhões de euros.

A pergunta que aparece em todos os jornais italianos è a mesma: o que acontece agora? Li prometeu “levar novamente o Milan ao topo do futebol mundial”, após cinco anos do último campeonato italiano conquistado e uma década da última Champions League levantada. Mas para conseguir isso será preciso investir centenas de milhões de euros no time.

Para muitos ainda é pouco claro como Li conseguirá administrar um time que tem um custo de gestão mensal em volta de 12 milhões de euros. Até mesmo Berlusconi, um dos homens mais ricos da Itália, cujo patrimônio familiar é calculado pela Forbes em mais de 6 bilhões de euros estava com dificuldades de pagar as contas recentemente.
O fundo Elliott Managment que emprestou o dinheiro para Li é um dos “fundos abutres” envolvidos na crise da dívida argentina. Após o calote de 2001, o fundo se recusou a aderir à reestruturação proposta pelo governo e exigindo o reembolso integral das obrigações, obtido no final de uma longa batalha legal e que se tornou umas das causas do segundo default de 2014. Ou seja, considerado o histórico, dificilmente terá piedade em caso de inadimplência do chinês. O que deixa ainda mais dúvidas sobre a futura propriedade do time.

Os exigente torcedores do Milan estavam cobrando uma solução, mas talvez fiquem rapidamente com saudade do bufão Berlusconi.

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