México, o lar e berço da obra prima de García Márquez
No final dos anos 50, Gabo estava em apuros na Colômbia e foi convencido por seu amigo e escritor Álvaro Mutis a se mudar
Da Redação
Publicado em 17 de abril de 2014 às 20h26.
Cidade do México - O México , que recebeu exilados argentinos, espanhóis e chilenos em tempos ditatoriais, se tornou também o lar do Nobel colombiano Gabriel García Márquez, que chegou ao país há mais de meio século e o transformou em berço de seu romance mais universal, "Cem anos de solidão" (1967).
"Eu o fiz chegar ao México", dizia seu amigo e escritor Álvaro Mutis (1923-2013) sobre a chegada de Gabo, que no final dos anos 50 estava em apuros na Colômbia e foi convencido por ele a se mudar.
Uma viagem circunstancial que estava prevista que durasse apenas uma semana se tornou definitiva para García Márquez, que lembrou que sua chegada coincidiu com "o dia em que (Ernest) Hemingway se matou", em 2 de julho de 1961.
"Sei porque exatamente de manhã me ligou (o escritor mexicano) Juan García Ponce e lhe perguntei "o que há de novo?", e ele me respondeu: "o que há de novo? Que Hemingway se matou com um tirambaço!", lembrou o autor de "Crônica de uma morte anunciada" (1981).
O plano inicial de García Márquez era ficar no país por "uma semana" para visitar Mutis, "e isso faz 50 anos", chegou a dizer o laureado autor que, com o tempo, foi se ligando de maneira mais estreita ao México.
A ideia de Gabo foi então se dedicar ao cinema, uma arte cujos fundamentos tinha aprendido em Roma.
Naquela época, o México era "o país sonhado ao qual todos queríamos chegar, o ponto de referência na América Latina ao qual todos olhávamos do sul como o lugar assombroso e belo", comentou há anos Mutis, ao destacar que para ele e Gabo foi um "refúgio criativo, um país cuja gente e cultura são uma fonte de inspiração".
Precisamente foi Mutis quem recomendaria a García Márquez a leitura de "Pedro Páramo" (1955), o grande romance de Juan Rulfo no qual o autor colombiano encontrou o fio que o conduziu a "Cem anos de solidão".
Como contou García Márquez em várias ocasiões, foi em 1965, no sul do México, que sentiu a inspiração definitiva para escrever o romance que relata a história da família Buendía ambientada na cidade fictícia de Macondo.
Em janeiro de 1965, o escritor viajava de carro com sua família da Cidade do México ao balneário de Acapulco quando, perto de Cuernavaca, teve um percalço e decidiu desistir da travessia.
Uma das múltiplas conjeturas "macondianas" sobre o episódio indica que um animal atravessou o caminho, se chocou com o veículo e o obrigou a voltar para casa, mas todas as versões, incluindo as contadas por ele, concordam que nesse instante ele vislumbrou as chaves que buscava para escrever seu primeiro grande romance.
"Tinha tão claro que poderia ditar ali mesmo, na estrada de Cuernavaca, o primeiro capítulo, palavra por palavra, a uma datilógrafa", diria García Márquez muito depois, ao lembrar daquele momento mágico.
A partir de então, o autor colombiano se trancou para escrever durante 18 meses em seu escritório abarrotado de papeis e cigarros.
Mutis, Fuentes e Julio Cortázar (1914-1984), que leram parte dos originais, tiveram a impressão de que seu amigo e colega estava elaborando uma obra imortal desde as primeiras linhas: "Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía havia de lembrar daquela tarde remota em que seu pai o levou a conhecer o gelo".
Cidade do México - O México , que recebeu exilados argentinos, espanhóis e chilenos em tempos ditatoriais, se tornou também o lar do Nobel colombiano Gabriel García Márquez, que chegou ao país há mais de meio século e o transformou em berço de seu romance mais universal, "Cem anos de solidão" (1967).
"Eu o fiz chegar ao México", dizia seu amigo e escritor Álvaro Mutis (1923-2013) sobre a chegada de Gabo, que no final dos anos 50 estava em apuros na Colômbia e foi convencido por ele a se mudar.
Uma viagem circunstancial que estava prevista que durasse apenas uma semana se tornou definitiva para García Márquez, que lembrou que sua chegada coincidiu com "o dia em que (Ernest) Hemingway se matou", em 2 de julho de 1961.
"Sei porque exatamente de manhã me ligou (o escritor mexicano) Juan García Ponce e lhe perguntei "o que há de novo?", e ele me respondeu: "o que há de novo? Que Hemingway se matou com um tirambaço!", lembrou o autor de "Crônica de uma morte anunciada" (1981).
O plano inicial de García Márquez era ficar no país por "uma semana" para visitar Mutis, "e isso faz 50 anos", chegou a dizer o laureado autor que, com o tempo, foi se ligando de maneira mais estreita ao México.
A ideia de Gabo foi então se dedicar ao cinema, uma arte cujos fundamentos tinha aprendido em Roma.
Naquela época, o México era "o país sonhado ao qual todos queríamos chegar, o ponto de referência na América Latina ao qual todos olhávamos do sul como o lugar assombroso e belo", comentou há anos Mutis, ao destacar que para ele e Gabo foi um "refúgio criativo, um país cuja gente e cultura são uma fonte de inspiração".
Precisamente foi Mutis quem recomendaria a García Márquez a leitura de "Pedro Páramo" (1955), o grande romance de Juan Rulfo no qual o autor colombiano encontrou o fio que o conduziu a "Cem anos de solidão".
Como contou García Márquez em várias ocasiões, foi em 1965, no sul do México, que sentiu a inspiração definitiva para escrever o romance que relata a história da família Buendía ambientada na cidade fictícia de Macondo.
Em janeiro de 1965, o escritor viajava de carro com sua família da Cidade do México ao balneário de Acapulco quando, perto de Cuernavaca, teve um percalço e decidiu desistir da travessia.
Uma das múltiplas conjeturas "macondianas" sobre o episódio indica que um animal atravessou o caminho, se chocou com o veículo e o obrigou a voltar para casa, mas todas as versões, incluindo as contadas por ele, concordam que nesse instante ele vislumbrou as chaves que buscava para escrever seu primeiro grande romance.
"Tinha tão claro que poderia ditar ali mesmo, na estrada de Cuernavaca, o primeiro capítulo, palavra por palavra, a uma datilógrafa", diria García Márquez muito depois, ao lembrar daquele momento mágico.
A partir de então, o autor colombiano se trancou para escrever durante 18 meses em seu escritório abarrotado de papeis e cigarros.
Mutis, Fuentes e Julio Cortázar (1914-1984), que leram parte dos originais, tiveram a impressão de que seu amigo e colega estava elaborando uma obra imortal desde as primeiras linhas: "Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía havia de lembrar daquela tarde remota em que seu pai o levou a conhecer o gelo".