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Maratonista e mãe; é possível!

Três das melhores corredoras da atualidade engravidaram faltando só dois anos para a Olimpíada, e já mostram boa forma para a competição

Ao contrário do que se pode pensar, a gravidez não traz desvantagens para as esportistas: volume sanguíneo da gestante aumenta até 50%  (Getty Images)

Ao contrário do que se pode pensar, a gravidez não traz desvantagens para as esportistas: volume sanguíneo da gestante aumenta até 50% (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 14 de dezembro de 2011 às 10h41.

São Paulo - O "Good. Thank you" não me ajudou muito. Pelo Twitter, eu havia perguntado a Paula Radcliffe, inglesa recordista mundial da maratona, como ela estava se sentindo na volta aos treinos, depois de dar à luz seu segundo filho. Até fico feliz que ela esteja bem, mas, pô, eu queria saber sobre sua performance!

Se a resposta no esquema "se oriente, Mané!" (que, em inglês, deve ser algo como "East yourself, yo average Joe!") não me trouxe subsídios, pelo menos rendeu-me uma legião de simpatizantes. Talvez com pena da tentativa pífia, meio vergonha alheia, vários leitores, também pelo Twitter, demonstraram solidariedade. Tudo bem que em 140 caracteres não seja possível dar detalhes do parto e suas dores, nem dissertar sobre a última sessão de fartlek. Agora, "Good. Thank you" já é abusar da síntese.

O que me aperreava é que três das melhores corredoras da atualidade engravidaram faltando só dois anos para a Olimpíada. As americanas Kara Goucher e Deena Kastor seguiram o exemplo de Radcliffe e tiveram seus rebentos há pouco. Todas têm chances de medalha em Londres 2012. O senso comum diria que ficar afastada dos treinos por meses e ganhar peso pela gravidez colocaria tudo a perder. Mas descobri que o senso comum não manja nada de fisiologia. Várias corredoras já demonstraram isso ao longo da história.

Enquanto a mulherada está lá se acabando na maratona, são os glóbulos vermelhos que estão encarregados de levar oxigênio para o corpo. E o sangue também transporta nutrientes essenciais para diversas reações metabólicas que acontecem durante o exercício. Quanto mais sangue e glóbulos vermelhos, maior o volume de nutrientes e oxigênio; mais contrações musculares poderão ser realizadas; mais elas conseguirão sentar a bota.

Durante a gravidez, o volume sanguíneo da gestante aumenta até 50% e o número de glóbulos vermelhos eleva-se entre 25% e 30%. E continuam elevados mesmo depois do parto. Com isso, quem acabou de parir consegue voltar aos treinos em vantagem. Sem contar que gestantes estão psicologicamente mais preparadas para tolerar dor. Lembra alguma parte do seu corpo que não estivesse doendo lá pelo km 36 da maratona? Então.

Esses efeitos são similares aos gerados por EPO (eritropoietina), hormônio secretado pelo rim que estimula a produção de glóbulos vermelhos. Quando é fabricado pelo rim, beleza. Mas vira doping se vier em cápsulas da farmácia. A gravidez é uma espécie de doping natural. Aí você vai dizer: "Só falta as atletas começarem a engravidar e abortar para aumentar a performance". Chegou atrasado. A questão foi tema do 1º Fórum Mundial Antidoping, em Ottawa (Canadá), em 1988, quando cresciam os bochichos de que corredoras do Leste Europeu faziam inseminação artificial e abortavam dois ou três meses depois, para treinarem melhor. E ainda diziam para o fiscal do doping: "Foi a cegonha, meu filho. A cegonha".

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