O ciclista americano Lance Armstrong participa do Tour de France: o ciclismo mudou com o atleta, mas nunca sem deixar de levantar suspeitas sobre seus métodos de preparo (Joel Saget/AFP)
Da Redação
Publicado em 24 de agosto de 2012 às 19h32.
Paris - Lance Armstrong, que perderá os sete títulos da Volta da França depois de sua decisão de não apelar da sentença que for adotada pela Agência Americana Antidoping (Usada), foi durante muito tempo a imagem de um atleta fora do comum, capaz de superar o câncer, antes de ser alvo das acusações de doping.
Tenaz, perfeccionista, exigente. Até os muitos detratores reconheceram estas qualidades no texano que, levadas ao máximo, construíram uma personalidade única.
O câncer que superou em 1997 estabeleceu o antes e o depois na vida de Lance Armstrong. Campeão do mundo em 1993 em Oslo, antes da doença, o ciclista passou por uma transformação.
Após o duro tratamento para superar a doença que provocou uma metástase (no pulmão e cérebro), o americano virou outro homem, com uma carreira impressionante na Volta da França, sob os conselhos do belga Johan Bruyneel, seu diretor esportivo.
Insuperável na prova contrarrelógio, muito forte nas montanhas, Armstrong estabeleceu o recorde de sete títulos no 'Tour de France' entre 1999 e 2005, levantando muitas dúvidas sobre seus misteriosos métodos de preparação.
Paralelamente, o fenômeno Armstrong só aumentava. A história de superação era impactante. As marcas esportivas disputavam sua imagem e o ciclista virou um dos atletas mais bem pagos dos Estados Unidos.
Chegou a participar do filme "Dois é Bom, Três é Demais" em 2006, no qual interpretava ele mesmo.
Na vida privada, após a separação da esposa Kristin, mãe de seus três primeiros filhos, passou a conviver com figuras do mundo do espetáculo, incluindo um relacionamento de três anos com a cantora Sheryl Crow. Depois teve mais dois filhos com sua atual esposa, Anna Hansen.
Com Armstrong, o ciclismo mudou, mas nunca sem deixar de levantar suspeitas sobre o entorno do texano.
Um mês depois de sua primeira aposentadoria, anunciada na tarde de sua sétima vitória na Volta da França, o jornal francês L'Equipe publicou em 23 de agosto de 2005 uma reportagem na qual afirmava que seis amostras de urina de Armstrong retiradas durante o Tour de 1999 continham EPO.
O ciclista negou ter tomados substâncias ilegais durante a carreira e, como as amostras citadas na investigação foram as chamadas provas B, não foi possível comparar os resultados.
Armstrong voltou às competições em janeiro de 2009 e terminou a Volta da França em terceiro lugar. A competição foi vencida pelo espanhol Alberto Contador, seu companheiro na equipe Astana. Em 2010, ele terminou o Tour na 23ª posição.
O primeiro grande golpe em Armstrong foi dado pelo compatriota Floyd Landis, campeão da Volta da França em 2006 e que perdeu o título posteriormente por ter sido flagrado em um exame pelo uso de testosterona.
Landis disse que viu Armstrong, líder da equipe US Postal entre 2001 e 2004, fazer uso de doping em várias ocasiões.
As declarações levaram a uma investigação federal, dirigida pelo agente Jeff Novitzky, que havia investigado o caso Balco, que recebeu o nome de um laboratório da região de São Francisco que foi origem de um grande escândalo de doping nos anos 2000, especialmente no atletismo.
Várias pessoas testemunharam em um grande júri reunido a portas fechadas em Los Angeles, mas a investigação foi abandonada em fevereiro deste ano.
Quatro meses mais tarde, a Usada anunciou, no entanto, a abertura de um processo contra o ciclista, acusado de ter se dopado entre 1999 e 2005.
Armstrong negou novamente as acusações e entrou com recurso no tribunal federal de Austin, Texas.
Ao ver o recurso rejeitado, o ciclista, atualmente com 40 anos, anuncia que "vira a página" e que desiste de lutar contra a Usada, mas critica o processo.
Em seguida, a agência antidoping anuncia a anulação de todos os resultados esportivos de Armstrong a partir de 1º de agosto de 1998 e sua exclusão definitiva do ciclismo profissional.
Lance Armstrong, que retornou ao esporte nos últimos meses no triatlo, afirma que a partir de agora se dedicará a continuar "servindo as pessoas e as famílias afetadas pelo câncer" por meio da Fundação Livestrong.