José Padilha leva conflito palestino-israelense a Berlim
O cineasta apresenta o longa, sobre o sequestro de um avião nos anos 70, ao Festival de Berlim
EFE
Publicado em 20 de fevereiro de 2018 às 14h35.
Última atualização em 26 de março de 2018 às 11h46.
Berlim - O cineasta José Padilha levou para o Festival de Berlim nesta segunda-feira o conflito palestino-israelense com "7 Dias em Entebbe", um filme sobre o sequestro de um avião nos anos 70, que o levou a entrevistar em Israel muitos reféns e políticos da época.
Apresentado na seção oficial do festival fora de competição, o longa-metragem narra uma história real, o sequestro em 1976 de um Airbus da Air France pela Frente Popular para a Libertação da Palestina e pelas Células Revolucionárias alemãs de extrema-esquerda.
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O roteiro é construído a partir de histórias paralelas que refletem a complicada realidade política de uma região que segue em tensão décadas depois.
"Era importante a exatidão, levando em conta que a narrativa oficial focava na história militar" do resgate, explicou em entrevista coletiva o diretor brasileiro, que retorna ao festival dez anos depois de ganhar o Urso de Ouro por "Tropa de Elite".
Junto a Padilha estavam os protagonistas do filme, o hispânico-alemão Daniel Brühl e a britânica Rosamund Pike. Em "7 Dias em Entebbe", ambos interpretam os terroristas alemães que participaram da ação e que caíram na contradição interna de lutar por ideais supostamente de esquerda e serem vistos como "nazistas" pelos reféns israelenses.
Padilha diz não temer a possibilidade de ser acusado de oferecer uma visão condescendente dos protagonistas por mostrar que têm "consciência", por explicar que os terroristas também são "seres humanos", embora estejam totalmente equivocados e cometam atos horríveis.
"Não é sempre necessário sentir empatia pelo personagem, mas sim entender as suas motivações", explicou Brühl, que descobre a sua incapacidade de matar ao longo dos sete dias que durou o sequestro, após o avião aterrissar no aeroporto ugandense de Entebbe com apoio do ditador Idi Amin.
Um relato concentrado na relação entre terroristas e reféns e também no debate político em Tel Aviv sobre a possibilidade de negociar.
O filme mostra o impasse vivido em Israel entre o primeiro-ministro à época, Yitzhak Rabin (Lior Ashkenazi), e o seu ministro de Defesa, Shimon Peres (Eddie Marsan), decidido a iniciar a qualquer preço uma operação militar de resgate.
Padilha explicou que no filme é possível ver "o quão difícil que era e é negociar para políticos israelenses ou palestinos, já que perdem apoio político" entre o povo, o qual prometeram "defender do inimigo".
"Há um clima de medo constante nas duas sociedades, a israelense e a palestina, pelo conflito. E este medo é difundido por políticos de direitos e políticos radicais que dizem 'vote por mim e te defenderei do inimigo'", afirmou o diretor, que incluiu entre eles o presidente americano, Donald Trump, disposto a "salvar os Estados Unidos de não se sabe quem".
Brühl e Pike elogiaram a "energia" de Padilha, que chegava sempre com novas ideias às gravações e não hesitava em abandonar o plano original.
Uma dessas ideias foi que os protagonistas trocassem palavras em alemão em um filme que também conta com diálogos em árabe e francês. Mas os membros do gabinete israelense falam em inglês, e não em hebraico.
"Eu tentei", disse Padilha, ao lamentar o conservadorismo que leva a pensar que "quanto menos inglês tem um filme, menos comercial ele é".