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“Jersey Boys” recria biografia de banda dos anos 1960

Filme de Clint Eastwood reconta a trajetória da banda The Four Seasons, sucesso nos anos 1960

Christopher Walken e Clint Eastwood durante a pré-estreia de “Jersey boys – em busca da música" (Andrew Kelly/Reuters)

Christopher Walken e Clint Eastwood durante a pré-estreia de “Jersey boys – em busca da música" (Andrew Kelly/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 25 de junho de 2014 às 16h57.

São Paulo - Quando não se tem mais nada a provar a ninguém, pode-se dar-se ao luxo de ampliar as próprias fronteiras.

Embora sendo um diretor que entende muito de música, sendo inclusive compositor, Clint Eastwood, 84 anos, não havia feito ainda um musical propriamente dito, ainda mais vindo diretamente da Broadway.

Realiza o feito em Jersey boys – em busca da música, que reconta a trajetória da banda The Four Seasons, sucesso nos anos 1960, com canções como Sherry, Rag Doll e Big Girls Don’t Cry.

E, se conta uma história ao alcance de qualquer público, ao mesmo tempo procura de todas as formas escapar das amarras de uma cinebiografia tradicional.

Se é lógico esperar bastante música no filme, o foco está em algo mais.

Fiel ao estilo de cineasta capaz de extrair diversas camadas de uma história, fugindo ao maniqueísmo, Clint revela os caminhos tortos da ascensão destes artistas suburbanos de New Jersey, que a origem parecia condenar a um destino obscuro ou criminoso, alguns deles inclusive com passagens na prisão. 
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A fama que se apresentou a eles é atingida de forma acidentada.

Em alguns momentos, seu caminho só se abre por intermédio de relações perigosas, mantidas pelos cantores e músicos com o submundo local – simbolizado pela figura dúbia do chefão político Gyp DeCarlo (Christopher Walken).

Verdade que Clint partiu de material preexistente, no caso um livro, de Marshall Brickmann (roteirista de Manhattan e Noivo Neurótico, Noiva Nervosa) e Rick Elice, que se transformou num musical de sucesso na Broadway, onde o cineasta colheu três dos quatro protagonistas, repetindo na tela seus papeis no palco: John Lloyd Young, Erich Bergen e Michael Lomenda.

Se esta parece uma opção segura, na verdade reserva igual potencial de riscos. Na passagem do teatro à tela, muitos desastres são possíveis. Todos perfeitamente evitados por um mestre de equilíbrio e bom gosto como Clint Eastwood, ainda mais com o conhecimento musical que tem, já demonstrado de sobra em filmes como Bird (1988) e Piano Blues (2003).

O equilíbrio está, em primeiro lugar, em não abrir mão de contar a história de Tommy DeVito (Vincent Piazza), Frankie Valli (John Lloyd Young), Nick Massi (Michael Lomenda) e Bob Gaudio (Erich Bergen) com o devido realismo, mas sem deixar de temperar o lado sombrio de sua vida com o humor apropriado.

Jersey boys... é, por isso, um filme muito divertido e alto astral, em que o público que procura entretenimento terá muito com que se ocupar.

Outro ponto forte está na qualidade da recriação da época, que não se limita a cenários e figurinos. Por isso, as situações e dramas de cada um dos personagens parecem vívidos e reais.

O recurso à fala diretamente para a câmera contribui para a criação de um clima confessional e de cumplicidade entre os personagens e a plateia.

Para quem, ainda assim, estranhar o interesse de Eastwood na história do quarteto de New Jersey, basta atentar para o dilema ético que se produz a partir do endividamento de Tommy DeVito com agiotas, que causa a ruptura do grupo – mas oferece ocasião também para revelar o comprometimento de Frankie com o amigo.

Mesmo entre garotos suburbanos de New Jersey pulsam as mesmas escolhas difíceis que movem os heróis dos faroestes ou dramas que celebrizaram Eastwood, como Os Imperdoáveis (1992) e Menina de Ouro (2004).

Nem por isso se esquece do espetáculo. Que ninguém se levante da cadeira do cinema antes de as luzes se apagarem, porque o final não fica nada a dever a um grande show para apresentar os créditos.

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