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Herói do filme 'Hotel Ruanda' é condenado por terrorismo

O longa relata como este hutu moderado salvou mais de mil pessoas no genocídio de 1994, que deixou 800.000 mortos

Paul Rusesabagina: ativista se tornou um crítico ferrenho do regime do presidente Paul Kagame. (Reprodução/AFP)

Paul Rusesabagina: ativista se tornou um crítico ferrenho do regime do presidente Paul Kagame. (Reprodução/AFP)

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AFP

Publicado em 20 de setembro de 2021 às 10h11.

Última atualização em 20 de setembro de 2021 às 15h02.

Paul Rusesabagina, cuja história inspirou o filme "Hotel Ruanda" e que se tornou um crítico ferrenho do regime do presidente Paul Kagame, foi declarado culpado de "terrorismo", ao final de um julgamento classificado como "político" por seus simpatizantes.

"Fundou uma organização terrorista e contribuiu economicamente para atividades terroristas", afirmou a juíza Beatrice Mukamurenzi sobre o caso de Rusesabagina, por seu suposto apoio à Frente de Libertação Nacional (FLN), um grupo rebelde acusado de cometer ataques fatais em 2018 e 2019 no país africano.

O tribunal ainda precisa anunciar a sentença de Rusesabagina. Promotores de Ruanda pediram a prisão perpétua para o réu.

Ele se tornou famoso, graças ao filme "Hotel Ruanda", que estreou em 2004. O longa relata como este hutu moderado salvou mais de mil pessoas no genocídio de 1994, que deixou 800.000 mortos, principalmente tutsis.

Foi detido em condições controversas em Kigali, em agosto de 2020. E, de de fevereiro a julho deste ano, este ferrenho opositor de Kagame foi julgado com outras 20 pessoas, por nove acusações, incluindo terrorismo.

Em 2017, Rusesabagina participou da fundação do Movimento de Ruanda pela Mudança Diplomática (MRCD), do qual a FLN é considerada o braço armado. Sempre negou, no entanto, qualquer envolvimento nos ataques.

Nem o réu, que pode apelar da decisão, nem seus advogados estavam presentes durante a leitura do veredicto. Eles boicotaram as audiências a partir de março, quando denunciaram um processo "político", possível apenas por seu sequestro organizado pelas autoridades ruandesas. Também denunciaram o tratamento humilhante durante sua detenção.

Sua família e seus simpatizantes afirmam que o julgamento é "um espetáculo montado pelo governo de Ruanda para silenciar um crítico e impedir qualquer dissidência futura".

Sequestro

Os Estados Unidos, que concederam a Rusesabagina a Medalha Presidencial da Liberdade em 2005, o Parlamento Europeu e a Bélgica expressaram preocupações com a legitimidade do julgamento.

Em uma entrevista recente, o presidente de Ruanda respondeu às críticas e declarou que Rusesabagina "seria julgado da maneira mais justa possível".

Este processo "não tem nada a ver com o filme, ou seu status de celebridade. Trata das vidas perdidas dos ruandeses por suas ações e pelas organizações, às quais pertencia, ou dirigia", afirmou Kagame.

Rusesabgina acusa o presidente de autoritarismo e de promover o sentimento anti-hutu.

Desde 1996, viveu exilado nos Estados Unidos e na Bélgica, onde obteve a nacionalidade do país europeu, até ser detido em Kigali em 2020, quando viajava de avião para o Burundi.

O governo de Ruanda admitiu ter "facilitado a viagem" a Kigali, mas afirmou que a prisão foi "legal" e que "seus direitos nunca foram violados".

No julgamento, que durou cinco meses, testemunhos contraditórios sobre seu papel foram registrados.

Um porta-voz da FLN afirmou que Rusesabgina "não deu ordens aos combatentes" do grupo rebelde. Outro réu alegou que ordens procediam do ex-gerente de hotel.

Sua notoriedade em Hollywood provocou críticas. Alguns sobreviventes do Hotel Mille Collines reprovam-no, em particular, por se aproveitar de sua desgraça e até mesmo por destacar seu papel no resgate de mais de mil pessoas.

Ele usou sua fama para dar ressonância global às suas posições cada vez mais virulentas contra Kagame, o que provocou ataques de partidários do governo.

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