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Golpe nas alturas: os custos obscuros cobrados em jatos privados

Na era dos ultrarricos, os relatos sobre faturas pouco transparentes relacionadas a viagens em jatos particulares estão aumentando.

Jatinho: parte do problema são a enorme papelada e as faturas associadas às viagens aéreas particulares (SeongJoon Cho/Bloomberg)

Jatinho: parte do problema são a enorme papelada e as faturas associadas às viagens aéreas particulares (SeongJoon Cho/Bloomberg)

Marília Almeida

Marília Almeida

Publicado em 18 de março de 2019 às 05h00.

Última atualização em 18 de março de 2019 às 05h00.

Cinco mil dólares por um sushi misterioso. Sete mil por copos de plástico. E mais combustível do que o avião poderia armazenar.

Fraudes como estas atingem tanto os bilionários quanto os meros milionários que viajam em jatos privados na atualidade. Na era dos ultrarricos, os relatos sobre faturas pouco transparentes relacionadas a viagens em jatos particulares estão aumentando.

O fenômeno fala tanto dessa era de hiper-riqueza quanto dos fraudadores modernos. Há tanto dinheiro correndo pelo mundo que, inevitavelmente, operadoras espertalhonas estão buscando uma fatia, tentando se beneficiar com o que calculam não passar de um erro de arredondamento para um bilionário. Cerca de um terço dos donos de jatos privados têm fortunas de mais de US$ 500 milhões, segundo relatório de 2018 da VistaJet e da Wealth-X.

Algumas tentativas de fraude são quase cômicas. Um proprietário de jato descobriu que haviam cobrado dele 4.000 libras (US$ 5.300) por 240 caixas de sushi aparentemente servidas a bordo de seu jato em um momento em que este estava vazio, segundo a My Sky, uma empresa cujo software ajuda a controlar e gerenciar custos de jatos particulares. Outro recebeu uma cobrança de 6.000 euros (US$ 6.800) por copos plásticos depois que o provedor erroneamente adicionou dois zeros à fatura. A fatura de reabastecimento de outro cliente acabou excedendo a capacidade dos tanques de combustível do avião em mais de duas toneladas.

Monitoramento

Parte do problema são a enorme papelada e as faturas associadas às viagens aéreas particulares. Um voo pode gerar dezenas de faturas de combustível, alimentos, permissões de sobrevoo, taxas aeroportuárias, serviços em terra, hotéis para a tripulação, reposicionamento de voos e manutenção. E cada viagem é diferente. Com isso, é difícil os bilionários que viajam pelo globo manterem o controle sobre os custos.

No caso de ativos complexos como jatos e iates, “existe uma tendência de as pessoas não entenderem a estrutura de custos, por isso se alguém coloca uma fatura diante delas, elas assinam”, disse Mike Brodsky, diretor-gerente da Deloitte Financial Advisory Services.

Não está claro se essas tentativas de cobrança excessiva estão se tornando mais frequentes ou simplesmente mais visíveis no mundo atual das redes sociais e da tecnologia. Não existe uma contagem precisa dos valores perdidos por famílias ultrarricas devido a ineficiências e fraudes, mas a cifra provavelmente chega aos bilhões de dólares por ano.

“Qualquer número sobre a quantia perdida em fraudes contra pessoas de riqueza ultraelevada estará subestimado porque muita gente não vai admitir que isso é verdade”, disse Brodsky.

Existem, em todo o mundo, 21.000 jatos executivos cujo funcionamento custa aos seus proprietários cerca de US$ 32 bilhões. Essa soma poderia ser reduzida em um quarto se as operações fossem otimizadas, estima a My Sky.

Um corretor de jatos, que pediu para não ser identificado por falar sobre possíveis clientes, disse ter visto evidências de cobranças excessivas e que é comum que os proprietários de jatos se indisponham com suas empresas de gerenciamento.

Algumas operadoras de aeronaves afirmam que agora a transparência virou um argumento de venda essencial.

“Todas as nossas negociações se concentram em conseguir as melhores tarifas para os nossos proprietários de aeronaves”, disse Bjorn Naberhuis, vice-presidente de desenvolvimento de negócio da Global Jet Concept, acrescentando que seus clientes podem encontrar as faturas em seu portal on-line e analisar os custos separadamente. “Os proprietários e seus family offices estão cada vez mais informados e entendem cada vez mais esse mercado.”

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