Novela é baseada na obra de Janete Clair, de 1977 (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 12 de julho de 2011 às 11h05.
São Paulo - Enquanto a novelista Janete Clair (1925 - 1983) folheava os jornais cariocas e decidia o futuro dos personagens de "O Astro" (1977) de acordo com as notícias que estampavam os noticiários, o governo assinava a lei que regulamentava a profissão de ator no Brasil. Daniel Filho, diretor do folhetim, assim como outros artistas, foi comemorar a conquista em Brasília. Assim que chegou ao plenário, ele constatou: "O Astro" estava mexendo com todo o Brasil, inclusive com a classe política de primeiro escalão. Especialmente com o presidente Ernesto Geisel. Poucos sabiam, mas ele não perdia um capítulo de "O Astro". E, claro, assim que pôde ficar sozinho com Daniel Filho, Geisel perguntou: "Diga uma coisa: 'Quem matou Salomão Hayalla?'". Discreto, Daniel respondeu: "Isso é segredo de Estado. E disso sei que vocês entendem".
O presidente ficou sem saber. O elenco não recebeu informações privilegiadas. E Janete Clair fomentou na dramaturgia brasileira o primeiro grande mistério em torno de um crime. Onze anos depois, o autor Gilberto Braga teve seu mérito com o 'Quem matou Odete Roitman?', em "Vale Tudo" (1988). Mas a fórmula de sucesso, tão repetida ao longo dos anos na teledramaturgia, começou com Janete, a única autora até hoje a conquistar 100 pontos de audiência com uma novela - nesse caso, em "Selva de Pedra" (1972).
Sendo assim, para comemorar os 60 anos da novela no País e inaugurar o horário das 23h de novelas, a Globo escolheu a escritora carioca para ser homenageada. E hoje, a partir das 23h, a emissora estreia o remake de "O Astro". Com a mesma sinopse da década de 70, com Alcides Nogueira e Geraldo Carneiro adaptando e doses de flashback. Francisco Cuoco, que viveu o protagonista que dá título à trama, aparece, agora, como um conselheiro do novo Herculano Quintanilha (Rodrigo Lombardi). Enquanto isso, Daniel Filho, depois de 14 anos sem atuar na TV - o último trabalho foi na série "A Justiceira" -, vive o milionário Salomão Hayalla. E ele vai morrer? Sim. O assassino, porém, será outro. De resto, o enredo será quase o mesmo. "Não há razão para mexer no que já foi sucesso", diz Alcides Nogueira.
O que promete balançar o remake é a participação de Cuoco. Na trama, Herculano (Rodrigo Lombardi) convence o povo da cidadezinha de Bom Jesus do Rio Claro a fazer uma reforma na igreja local. Depois que arrecada a grana para a obra, ele tenta fugir. O golpe, porém, dá errado e Herculano acaba preso. Na penitenciária, no entanto, tem a sua vida mudada. Lá, conhece Ferragus (Francisco Cuoco), uma espécie de rei do presídio, com quem aprende astrologia, vidência e telepatia, o que fará dele uma espécie de show man da mágica e arrebatador de corações. Entre eles, o da ricaça Amanda (Carolina Ferraz). "Isso tudo me deu uma nostalgia. Mas deixei o Rodrigo (Lombardi) livre para criar", diz Cuoco. Rodrigo confirma: "O Cuoco é um gentleman". Alcides completa: "Será outro grande personagem".
Herculano foi o primeiro anti-herói da teledramaturgia brasileira. Aliás, Janete Clair inovou no que pôde. A novela chegou a superar até mesmo a audiência dos jogos da Seleção Brasileira na Copa de 1978, na Argentina. Índices que só comprovam o acerto da Globo ao escolher "O Astro" para comemorar os 60 anos da novela no Brasil. A festa oficial, porém, será só em dezembro. Afinal, foi no dia 21 de dezembro de 1951 que foi ao ar o primeiro folhetim do País, "Sua Vida Me Pertence", na TV Tupi. Diante de tudo isso, vale a pena assistir ao remake de "O Astro", marco histórico desse gênero que mexe tanto com a vida do brasileiro. As informações são do Jornal da Tarde.