Filme indiano sobre drogas é censurado e caso vai à Justiça
A Comissão Central de Certidão Cinematográfica determinou 94 cortes no filme "Udta Punjab" e a retirada do nome do estado do título
Da Redação
Publicado em 9 de junho de 2016 às 10h37.
Nova Délhi - O mundo do cinema está em pé de guerra na Índia por conta da decisão do organismo de censura que determinou o corte de 94 cenas de um filme que aborda o obscuro mundo das drogas em Punjab, para que o nome do estado não seja lido ou ouvido em momento algum do longa.
A Comissão Central de Certidão Cinematográfica (CBFC), o órgão censor do governo da Índia, é frequentemente manchete de jornal, seja por vetar o nome da cidade de Mumbai em uma música, por proibir os beijos de longa duração nos filmes de James Bond ou por vetar a exibição de "Cinquenta tons de cinza" nos cinemas.
Agora a CBFC é notícia por ter sido levada ao Tribunal Superior de Mumbai após a Phantom Films, produtora do cineasta Anurag Kashyap, pedir para que ela explique por que determinou 94 cortes no filme "Udta Punjab" e a retirada do nome do estado do título.
A empresa também exige que o comitê dê marcha à ré em sua decisão sobre a obra, dirigida por Abhishek Chaubey, e emita uma certidão para que deixe de ser restrita somente ao público adulto.
Kashyap foi à Justiça depois que na segunda-feira se tornou público que a CBFC tinha proibido a palavra "Punjab" e declarado que qualquer outra referência real ao governo ou aos políticos nos diálogos não poderia aparecer no filme.
"São 94 cortes. Todas as referências a Punjab têm que ser eliminadas do filme", disse à Agência Efe Ashoke Pandit, um dos cinco membros do órgão censor.
Ao ser perguntado sobre os motivos para a proibição, Pandit disse: "A resposta a isso só pode ser dada pelo presidente da Comissão".
De acordo com a oposição, por trás da censura está o fantasma das eleições que acontecerão em Punjab no ano que vem. O estado está nas mãos de uma coalizão dos partidos SAD e BJP, do primeiro-ministro Narendra Modi, que foi acusada pelos opositores Partido do Congresso e AAP de não encontrar soluções para o uso de drogas nesse estado.
O presidente da CBFC, Pahlaj Nihalani, garantiu em declarações a jornalistas locais que a decisão "não tem nada a ver com as eleições" e que o governo "nunca interfere na Comissão".
"Só se você assistir o filme completo vai poder entender por que o 'Punjab' foi excluído", comentou.
Com sua decisão, agora ninguém poderá fazer esse exercício, mas o debate e as acusações cruzadas passaram do mundo do cinema à arena política.
Na segunda-feira, o cineasta dono da produtora reagiu dizendo no Twitter que sempre se perguntou como seria viver na Coreia do Norte. "Agora não é preciso nem mesmo pegar um avião", escreveu.
O governo não deixou por menos: "Você acha que está na Coreia do Norte? Aqui podemos votar. Isto é uma democracia", replicou o vice-ministro de Comunicação indiano, Rajyavardhan Rathore.
Sem perder tempo, a oposição também se manifestou para criticar a censura e o vice-presidente e líder de Partido do Congresso, Rahul Gandhi, publicou no Twitter que Punjab tem um "grande problema com as drogas" e que censurar o filme "não vai resolvê-lo".
"O governo deve aceitar a realidade e encontrar soluções", disse o filho, neto e bisneto de primeiros-ministros indianos.
O prefeito de Délhi, Arvind Kejriwal, do Partido do Homem Comum (AAP), também criticou a decisão da Comissão e afirmou que as declarações do presidente da CBFC "deixam muito claro que a censura do filme seguiu instruções do BJP".
No entanto, as palavras dos políticos opositores não agradaram o produtor, que quis marcar um limite claro e pediu para que eles se mantivessem de fora de uma batalha que ele classificou como pessoal.
"Esta é minha luta contra o ditatorial homem que se senta ali e atua como um oligarca em sua comissão. Essa é a minha Coreia do Norte", ressaltou.
O presidente da CBFC não se manteve em silêncio perante os ataques do cineasta e disse que se Kashyap podia falar o que quisesse.
"Pode falar porque existe liberdade de expressão", afirmou Nihalani, que em declarações ao jornal "Hindustan Times" disse que o produtor era como "um menino que teve um brinquedo negado".
Em meio a toda a briga, após comparecer à Justiça, Kashyap apareceu cercado de apoio vindo de cineastas, atores e diretores indianos, que também exigem o fim deste tipo de decisão na Índia.
"Isto não é sobre um filme, isto é sobre a liberdade de expressão em nosso país", enfatizou Kashyap, afirmando que "só o público tem o direito de rejeitar um filme".
Nova Délhi - O mundo do cinema está em pé de guerra na Índia por conta da decisão do organismo de censura que determinou o corte de 94 cenas de um filme que aborda o obscuro mundo das drogas em Punjab, para que o nome do estado não seja lido ou ouvido em momento algum do longa.
A Comissão Central de Certidão Cinematográfica (CBFC), o órgão censor do governo da Índia, é frequentemente manchete de jornal, seja por vetar o nome da cidade de Mumbai em uma música, por proibir os beijos de longa duração nos filmes de James Bond ou por vetar a exibição de "Cinquenta tons de cinza" nos cinemas.
Agora a CBFC é notícia por ter sido levada ao Tribunal Superior de Mumbai após a Phantom Films, produtora do cineasta Anurag Kashyap, pedir para que ela explique por que determinou 94 cortes no filme "Udta Punjab" e a retirada do nome do estado do título.
A empresa também exige que o comitê dê marcha à ré em sua decisão sobre a obra, dirigida por Abhishek Chaubey, e emita uma certidão para que deixe de ser restrita somente ao público adulto.
Kashyap foi à Justiça depois que na segunda-feira se tornou público que a CBFC tinha proibido a palavra "Punjab" e declarado que qualquer outra referência real ao governo ou aos políticos nos diálogos não poderia aparecer no filme.
"São 94 cortes. Todas as referências a Punjab têm que ser eliminadas do filme", disse à Agência Efe Ashoke Pandit, um dos cinco membros do órgão censor.
Ao ser perguntado sobre os motivos para a proibição, Pandit disse: "A resposta a isso só pode ser dada pelo presidente da Comissão".
De acordo com a oposição, por trás da censura está o fantasma das eleições que acontecerão em Punjab no ano que vem. O estado está nas mãos de uma coalizão dos partidos SAD e BJP, do primeiro-ministro Narendra Modi, que foi acusada pelos opositores Partido do Congresso e AAP de não encontrar soluções para o uso de drogas nesse estado.
O presidente da CBFC, Pahlaj Nihalani, garantiu em declarações a jornalistas locais que a decisão "não tem nada a ver com as eleições" e que o governo "nunca interfere na Comissão".
"Só se você assistir o filme completo vai poder entender por que o 'Punjab' foi excluído", comentou.
Com sua decisão, agora ninguém poderá fazer esse exercício, mas o debate e as acusações cruzadas passaram do mundo do cinema à arena política.
Na segunda-feira, o cineasta dono da produtora reagiu dizendo no Twitter que sempre se perguntou como seria viver na Coreia do Norte. "Agora não é preciso nem mesmo pegar um avião", escreveu.
O governo não deixou por menos: "Você acha que está na Coreia do Norte? Aqui podemos votar. Isto é uma democracia", replicou o vice-ministro de Comunicação indiano, Rajyavardhan Rathore.
Sem perder tempo, a oposição também se manifestou para criticar a censura e o vice-presidente e líder de Partido do Congresso, Rahul Gandhi, publicou no Twitter que Punjab tem um "grande problema com as drogas" e que censurar o filme "não vai resolvê-lo".
"O governo deve aceitar a realidade e encontrar soluções", disse o filho, neto e bisneto de primeiros-ministros indianos.
O prefeito de Délhi, Arvind Kejriwal, do Partido do Homem Comum (AAP), também criticou a decisão da Comissão e afirmou que as declarações do presidente da CBFC "deixam muito claro que a censura do filme seguiu instruções do BJP".
No entanto, as palavras dos políticos opositores não agradaram o produtor, que quis marcar um limite claro e pediu para que eles se mantivessem de fora de uma batalha que ele classificou como pessoal.
"Esta é minha luta contra o ditatorial homem que se senta ali e atua como um oligarca em sua comissão. Essa é a minha Coreia do Norte", ressaltou.
O presidente da CBFC não se manteve em silêncio perante os ataques do cineasta e disse que se Kashyap podia falar o que quisesse.
"Pode falar porque existe liberdade de expressão", afirmou Nihalani, que em declarações ao jornal "Hindustan Times" disse que o produtor era como "um menino que teve um brinquedo negado".
Em meio a toda a briga, após comparecer à Justiça, Kashyap apareceu cercado de apoio vindo de cineastas, atores e diretores indianos, que também exigem o fim deste tipo de decisão na Índia.
"Isto não é sobre um filme, isto é sobre a liberdade de expressão em nosso país", enfatizou Kashyap, afirmando que "só o público tem o direito de rejeitar um filme".