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Entenda como a inteligência artificial pode ser aplicada aos vinhos

Sim, tem robô fazendo as vezes de sommelier. E de agrônomo. E até de enólogo

 (Catarina Bessell/Exame)

(Catarina Bessell/Exame)

Rodrigo Lanari
Rodrigo Lanari

Empresário

Publicado em 9 de agosto de 2023 às 08h50.

Sabe aquele vinho fantástico que você garimpou no site da importadora? Desculpe dizer, mas foi um robô que escolheu e convenceu você a comprar.

A inteligência artificial já influencia a tomada de decisões a respeito de qualquer coisa. Pense nos aplicativos de encontro: tem lá um programinha que analisa preferências para apresentar a você o possível amor da sua vida. Por que seria diferente com o vinho, tão mais corriqueiro? Sim, tem robô fazendo as vezes de sommelier. E de agrônomo. E até de enólogo.

Dois négociants do Languedoc, no sudoeste francês, puseram o ­Chat­GPT para criar um corte à base de grenache e syrah. O robô sugeriu a proporção de cada variedade, o envase em garrafa borgonhesa (de forma afunilada) e um preço ao consumidor entre 50 e 100 euros. “Esse é o único ponto em que não seguimos a recomendação”, disse Anthony Aubert, com inteligência natural de comerciante, ao site Vitisphere. No canal oficial da Aubert & Mathieu, cada garrafa do The End é vendida por 29,90 euros, com a promessa de entregar um vinho feito em colaboração com “um dos modelos de linguagem mais avançados do mundo”.

No campo, a inteligência artificial ajuda a determinar datas de plantio, poda e colheita, sugere correções de solo e de irrigação, mapeia vinhedos e indica as melhores parcelas para cada perfil de vinho. As respostas da máquina são fruto de análise e cruzamento de informações geológicas, meteorológicas, físico-químicas e botânicas. Um volume de dados que o cérebro humano é incapaz de processar numa vida inteira.

Para quem não trabalha com vinho, importa ainda mais a ação dos robôs nos hábitos de compra. Tem IA no aplicativo Vivino, por exemplo. A plataforma é um gigantesco coletor de informações dos usuários que a alimentam com impressões pessoais e que se tornam padrões computacionais. O mesmo se passa com os clubes de vinho, sites de compra e aplicativos de supermercado. A máquina detecta hábitos de consumo e sugere mais do mesmo, exaustivamente, até uma mudança de hábito reordenar as indicações robóticas.

Isso não condena os sommeliers à aposentadoria compulsória. De posse das informações obtidas por inteligência artificial, um bom profissional é capaz até de antecipar uma evolução no gosto do comprador, ou mesmo induzi-la. Nada substitui a conversa olho no olho.

Não haverá apocalipse robô, muito menos um paraíso de máquinas oniscientes. A inteligência artificial é limitada pela inteligência humana, que, como se sabe, é falha. O vinho está sujeito ao imponderável, à intempérie, à natureza. Algoritmo é ciência exata, vinho não é.

Assim como o Tinder nunca vai forçar o casamento de duas pessoas que ele julga 100% compatíveis, nenhum robô enófilo é capaz de impor escolhas somente com base em parâmetros matemáticos.

A máquina apenas sugere. Quem decide no fim é você.

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