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Em novo livro, Isabel Allende narra fuga de espanhóis com ajuda de Neruda

Isabel Allende escreveu o livro "Longa Pétala de Mar" com base no depoimento de imigrantes que fugiram da Guerra Civil Espanhola

Chile: Há 80 anos, espanhóis desembarcaram em Valparaíso para escapar da Guerra Civil (Oscar Gonzalez/Getty Images)

Chile: Há 80 anos, espanhóis desembarcaram em Valparaíso para escapar da Guerra Civil (Oscar Gonzalez/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 2 de dezembro de 2019 às 10h29.

"Que a crítica apague toda a minha poesia, se achar por bem. Mas este poema, que hoje recordo, ninguém poderá apagar." O "poema" citado por Pablo Neruda em uma antiga entrevista não é uma de suas tantas obras literárias, mas, sim, a façanha humanitária que se tornou um grande marco da história do Chile.

Há exatos 80 anos, mais de 2 mil espanhóis desembarcaram em Valparaíso para escapar da Guerra Civil Espanhola que dividiu o país entre 1936 e 1939. Os refugiados fizeram a travessia com a ajuda do governo chileno e, em particular, de Neruda. Como diplomata, o poeta foi o responsável por viabilizar a complexa missão, realizada já com a Segunda Guerra Mundial deflagrada.

A saga dos espanhóis em fuga pela Europa e sua posterior acolhida no Chile é o tema do novo livro de Isabel Allende, Longa Pétala de Mar (ed. Record), lançado neste mês no Brasil. A escritora chilena se baseou nas histórias reais dos imigrantes e do poeta para recontar o episódio no ano em que completa oito décadas.

Saga

Com o fim da guerra civil e a ascensão do franquismo, milhares de republicanos estavam vivendo em campos de refugiados na França em condições precárias. O presidente do Chile na época, Pedro Aguirre Cerda, nomeou Neruda cônsul especial para a imigração espanhola com sede na França.

Neruda, que já tinha sido cônsul em Barcelona e Madri, se mostrou determinado a cumprir a missão. Antes de chegar à França, o poeta passou por Buenos Aires, Rosário e Montevidéu, onde pediu ajuda financeira de organismos de solidariedade argentinos e uruguaios.

O barco escolhido para a missão foi o Winnipeg, um antigo cargueiro que não transportava mais do que 100 passageiros bem acomodados. Com algumas alterações, a embarcação ampliou sua capacidade para transportar mais de duas mil pessoas.

"Desde o começo eu gostei da palavra Winnipeg", escreveu Neruda em setembro de 1969, quando comemorava os 30 anos da travessia. "As palavras têm asas ou não as têm. A palavra Winnipeg é alada. A vi voar pela primeira vez em um porto perto de Bordeaux. Era um charmoso barco velho, com essa dignidade que os sete mares dão ao longo do tempo. É certo que aquele barco nunca tinha levado mais de setenta ou oitenta pessoas a bordo. De resto, foi cacau, copra, sacos de café e de arroz, minerais. Agora, estava destinado a um carregamento mais importante: a esperança." Foi o próprio Neruda quem selecionou os passageiros.

A recomendação era que levasse trabalhadores, mas o poeta resolveu também incluir na lista intelectuais e artistas. Um dos escolhidos foi o engenheiro e jornalista Víctor Pey, que contou toda a história da travessia a Isabel Allende.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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