Tequila: sete de cada 10 litros de tequila produzidos são consumidos no exterior (foto/Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 2 de maio de 2017 às 19h56.
Nova York - Vamos esclarecer duas coisas. Primeiro, o cinco de maio não é o dia da independência do México. Isso é em setembro.
O cinco de maio, apesar de ser hoje acima de tudo uma desculpa para beber doses de tequila e margaritas, na verdade marca a data de uma batalha de 1862 na qual as tropas mexicanas desafiaram as previsões e derrotaram o exército de Napoleão III.
Com isso, talvez elas tenham salvado o exército da União de enfrentar os franceses, aliados dos confederados, e assim ajudaram o norte a ganhar a guerra civil dos EUA. Mais um motivo para celebrar.
Segundo, dose de tequila não se bebe com sal e limão, diz Chantal Martineau em “How the Gringos Stole Tequila: The Modern Age of Mexico’s Most Traditional Spirit”.
Se você quiser honrar aqueles corajosos soldados mexicanos, tente beber coisa boa, ou tequila com 100 por cento de agave, ou mezcal, diz ela.
Diferentemente das tequilas “mistas” nas margaritas de US$ 5, a tequila e o mezcal são feitos exclusivamente com plantas de agave.
No caso da tequila, agave-azul, mas para o mezcal – o pai da tequila – pode ser usada qualquer variedade de agave, e muitas vezes várias.
Em seu novo livro, Martineau explora a história das bebidas de agave, do pulque asteca – que, segundo uma lenda, foi revelado à humanidade com um raio divino que caiu sobre um agave – até as Cuervo mixto e os mezcais que hoje estão aparecendo nos bares pelos EUA afora.
Martineau falou à Bloomberg sobre tequila, mezcal, história e a forma certa de desfrutar as versões mais novas de uma bebida antiga.
A seguir, fragmentos dessa conversa, editada por questões de clareza e extensão.
O nome do livro é How the Gringos Stole Tequila (como os gringos roubaram a tequila). Em poucas palavras, como eles a roubaram?
Gringos bebem muita tequila: Sete de cada 10 litros produzidos são consumidos no exterior. EUA engolem cerca de 80 por cento daquelas exportações.
Os gringos “originais” que roubaram a tequila seriam os espanhóis que chegaram com suas grandes famílias. Antes de a tequila ser tequila, ela era só mais um mezcal, feito em todo México [provavelmente desde o século 16].
Foram essas famílias que ainda reconhecemos hoje – os Cuervo, os Sauza e mais uma ou duas grandes famílias – que passaram a controlar a produção de tequila e a transformaram em um grande negócio.
Os gringos inventaram esse ritual do sal e do limão e até mesmo coquetéis de tequila, dos tipos incultos de margarita congelada até os coquetéis artesanais excelentes que encontramos hoje.
Na sua opinião, quais as concepções erradas e mais comuns sobre a tequila?
Eu ainda me encontro o tempo todo com pessoas que dizem que elas não podem beber tequila porque na primeira vez que a beberam, ficaram muito bêbadas e enjoadas.
Ou que a tequila causa certo tipo de embriaguez. Muitas pessoas ainda não sabem que a tequila pode ser um destilado que se pode tomar sozinho, em goles, ou com alimentos, e que ela não deveria ser bebida com sal e limão.
Voltemos à questão inicial e ao nome do livro. Por que a senhora diz “roubaram”? O que faz da história um caso de exploração?
É uma história antiga que começou antes de a tequila virar tequila, quando as famílias espanholas chegaram construíram sítios e passaram a controlar a produção. Mas é um problema por causa dessa nova categoria de mezcal em boom que temos.
Todos sabem muito bem o que poderia sair errado, e embora não necessariamente eles estejam fazendo tudo certo, eles estão tendo muito cuidado pelo menos para discutir e abrir o debate sobre as regulamentações das denominações de origem e como garantir que o mezcal não vire um produto para o mercado de massa.