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Documentário sobre genocídio é aclamado em Veneza

Horror do genocídio dos anos 60 na Indonésia invadiu o Festival de Veneza, em um documentário que coloca frente a frente assassinos e sobreviventes

O diretor Joshua Oppenheimer antes da apresentação do filme "The Look of Silence" (Tiziana Fabi/AFP)
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Da Redação

Publicado em 28 de agosto de 2014 às 13h16.

Veneza - O horror do genocídio dos anos 60 na Indonésia invadiu nesta quinta-feira o Festival de Veneza em um documentário de Joshua Oppenheimer, que coloca frente a frente assassinos e sobreviventes, vítimas e carrascos.

Sem mostrar uma gota de sangue, nem gestos ou atos violentos, o documentário do cineasta americano que mora na Dinamarca, com o título "The Look of Silence" (O Olhar do Silêncio, em tradução livre), estremece o público por sua terrível atualidade.

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Em 98 minutos, os depoimentos simples dos parentes das vítimas e dos torturadores, entrevistados por um oculista de 44 anos que teve o irmão assassinado por esquadrões da morte, deixam o espectador atônito e provocam perguntas sobre a impossibilidade do perdão e da reconciliação em sociedades que passaram por guerras civis devastadoras.

"Nem eu nem minha família vamos nos curar com este filme, porque não existe reparação para o que aconteceu. Mas acredito que vai ajudar meus filhos e as novas gerações", declarou Adi Rukun, protagonista do documentário, que entrevista os assassinos do irmão.

Oppenheimer, diretor do premiado "The act of Killing" (O ato de matar, 2012), que mostra os depoimentos dos autores dos massacres cometidos por integrantes dos esquadrões da morte da Indonésia, que com idades avançadas falaram sobre os crimes e reencenaram as aberrações que cometeram após a chegada ao poder do general Suharto, em 1965, fala agora com as vítimas que sofreram por décadas "o terror do silêncio".

"Meu filme é uma poesia sobre o silêncio gerado pelo terror, uma poesia sobre a necessidade de quebrar este silêncio, mas também sobre o trauma provocado por romper o silêncio", afirmou Oppenheimer.

Depois de ouvir no primeiro filme os autores dos massacres, que até hoje são considerados heróis no país, Oppenheimer completa sua investigação ao reunir os carrascos e os sobreviventes de uma família que descobriu, graças a seu documentário anterior, os responsáveis pela morte de seu irmão: vizinhos, quase parentes, que moravam a poucos metros de distância.

"Rezo todas as noites para que os assassinos de meu filho sofram tanto como nós", afirma a mãe, que não perdoa a violência sofrida pelo filho, agredido barbaramente e que teve o pênis decepado.

As perguntas, a raiva da mãe idosa impotente diante do horror, a falta de remorso dos assassinos que se justificam como pessoas que obedeciam ordens, a vontade de não querer saber a verdade, a mentira e o ódio representados por conversas filmadas não pretendem nem exigem um castigo para um regime que massacrou um milhão de opositores "comunistas", em um dos maiores genocídios do século XX.

O documentário, apesar da delicada elegância por se passar em um clima tropical, apresenta, na realidade, uma denúncia contundente da violência em um mundo marcado por guerras e massacres, descritos diariamente pela imprensa.

O filme, que disputa o Leão de Ouro, é apontado desde o início como um dos favoritos do Festival de Veneza, ainda mais depois que 'The act of Killing' foi indicado ao Oscar de documentário mas não foi premiado.

Produzido pelos consagrados cineastas Werner Herzog e Errol Morris, o filme contou com a colaboração de uma gigantesca lista de pessoas anônimas, que trabalharam com o diretor texano na Indonésia.

"Recebo ameaças o tempo todo. Não sou um cara corajoso, tenho medo", confessou o cineasta de 39 anos à AFP.

"Tomo precauções. A equipe técnica é dinamarquesa e sempre filmei com seguranças", contou Oppenheimer.

A exibição para a imprensa terminou com aplausos entusiasmados da crítica.

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