Do private label ao e-commerce, o crescimento da Lafort com a pandemia
Com a paralisação total da empresa e mais de 200 colaboradores de férias, as caixas com sobras de tecidos viraram uma estratégia para a marca: fabricar máscaras
Julia Storch
Publicado em 9 de março de 2022 às 15h07.
Última atualização em 9 de março de 2022 às 15h34.
Como uma empresa de moda de 60 anos pode se reinventar? Segundo Irit Czerny Schilis, diretora criativa da Lafort, não faltava vontade para reformular a empresa, mas impulso. Fundada pelo patriarca, até 2017 a marca tinha o foco na produção de tricô para marcas como Daslu, NK Store, Iódice, Zoomp, Lelis Blanc. Porém, há dois anos, a pandemia impôs mudanças na Lafort.
Com a paralisação total da empresa, com a fábrica no Paraná fechada e mais de 200 colaboradores de férias, as caixas com sobras de tecidos viraram uma estratégia para a marca: fabricar máscaras. No começo, 500 peças foram doadas para o Instituto Médico Legal de Curitiba, mas as demandas continuaram e mais peças foram destinadas a outras empresas como a 99 Taxi e escolas.
Assim surgiu uma nova oportunidade de negócio para a marca, que aproveitou o momento para trocar diretores de diversos setores e lançar o e-commerce.
“Eu sentia que isso precisava acontecer, mas não sabia como fazer. Às vezes como empresária você pensa que, se a empresa está funcionando, é preciso manter as estratégias. É difícil você ter aquele clique e falar ‘para tudo, vamos como começar de novo’, e arriscar para mudar”, comenta.
Com o canal de vendas online, que também é feito através do WhatsApp, em 18 meses, a empresa alcançou a cifra de R$ 1 milhão em vendas mensais. Com esse montante, foi construído um galpão de mil metros quadrados voltado para a expedição de vendas feitas através dos canais.
Mesmo com a digitalização da marca, Irit ainda vê no "boca a boca" como um grande veículo de crescimento da empresa. “Começamos a trabalhar com varejo e comecei a abrir o mercado de multimarcas. Foi onde eu mais fiquei conhecida no mercado, porque começam a vender em Recife, em Porto Alegre e as pessoas viajam e acabam comentando sobre a marca”, diz.
Atualmente são mais de 150 pontos de contato com clientes entre canais próprios e multimarcas. Com isso, a Lafort está presente em 70% das capitais do país com algum ponto físico de contato com o cliente. A meta é atingir em três anos mais de 200 pontos de venda.
Para a diretora criativa, o ponto de venda físico é essencial para a marca. “Se marcas de luxo não tiverem pontos físicos, é muito difícil ficar conhecido”, diz. Assim, nos últimos anos, a marca focou em sua expansão com o retorno aos shoppings, com duas aberturas em São Paulo nos shoppings JK Iguatemi e Villa-Lobos, além da inauguração do Studio Lafort na Vila Olímpia, um espaço para receber lojistas.
A demanda das lojas é explicada pela necessidade do contato físico. “Para ter uma experiência com as roupas, não adianta só ter o digital”.
Ainda que os consumidores conheçam diferentes tecidos, a necessidade do toque se faz com as peças tecnológicas desenvolvidas pela marca, como o Technoblock. Parecido com um neoprene, porém mais leve e maleável, é um tecido que proporciona conforto térmico, não marca o corpo e não amassa.
Uma calça feita com o tecido pode custar até R$ 1,5 mil. Já os vestidos ficam entre R$ 900 e R$ 2,5 mil.
Com as diversas mudanças na empresa nos últimos anos, 2021 foi o melhor ano em mais de seis décadas da marca, com crescimento do faturamento em 65% nos últimos três anos, sendo 30% só em 2021.
A expectativa é fechar 2022 com crescimento de 42% acima de 2021, chegando em R$ 60 milhões. Já para os próximos três anos, a empresa pretende faturar R$ 100 milhões.
Entre outros planos para a marca está a expansão internacional, com showroom, loja física e e-commerce nos Estados Unidos, e o lançamento de novas linhas de roupas entre o esporte e o casual.