Vinyes Ocult 2020: 170 reais a garrafa (Vinyes Ocult/Divulgação)
Ivan Padilla
Publicado em 17 de abril de 2022 às 08h30.
Existe dia disso, dia daquilo, dia de profissionais, do amigo, dos namorados, do pai e da mãe. Também existe o dia do malbec, comemorado neste domingo, 17 de abril. Sim, essa uva originária da França e que encontrou na Argentina seu melhor hábitat tem uma data de celebração. Fácil de entender, dada sua popularidade e expressividade. Vinhos malbec costumam ser bastante aromáticos, com bom volume e boa acidez.
Os argentinos que me perdoem, mas não sou o maior apreciador de malbec. O problema está comigo mesmo, admito. Prefiro vinhos com outras características. Por isso recebi com surpresa o convite para conhecer o Vinyes Ocults Malbec COT 2020, da vinícola Vinyes Ocults, no Valle del Uco, na Argentina.
“Acredite em mim, é um malbec que não parece malbec, parece um pinot noir”, me disse Carolina Orantes, assessora de imprensa da importadora desse vinho, a Boca a Boca. Arrisquei e compareci à degustação para conhecer esse e outros vinhos argentinos do mesmo produtor que acabam de chegar ao Brasil.
“A diferença do Vinyes Ocults é o processo de maceração carbônica”, explica o simpático argentino Franco Giorgiutti, que abriu a importadora com sua mulher Juliana Hage, formada em sommelier pela Le Cordon Bleu Paris e pela Ecole de Vin Paris WSET 3. “Por isso ele fica tão leve, bom para beber gelado.”
Grosso modo, maceração carbônica é um processo de fermentação em que os cachos são utilizados inteiros, sem desengaçar as uvas para extrair o mosto. Em um tanque hermético, são colocados para reagir com dióxido de carbono em vez de oxigênio.
O processo de fermentação começa dentro das uvas. Ao atingir uma graduação alcóolica em torno de 2%, as cascas se rompem e o suco é liberado. Quando as leveduras nativas que as uvas já traziam desde o vinhedo entram em contato com o açúcar do mosto, a fermentação alcoólica continua.
O mais importante desse processo é entender que essa forma de extração bastante sutil resulta em vinhos de cor suave, frutados, delicados. O método geralmente é usado em variedades como gamay, pinot noir, tempranillo. Por sua estrutura leve, recomenda-se que esses vinhos sejam bebidos ainda jovens e resfriados na geladeira.
O malbec costuma ser apreciado justamente pela sua expressividade e não é tão comum que passe por esse processo. “Por isso o Vinyes Ocult é revolucionário”, diz Juliana Hage. Ela explica que seu potencial de guarda não é alto, entre três e cinco anos. E que levou 93 pontos no guia Descorchados, o que indica padrão de excelência.
O malbec que parece pinot noir tem cor vermelha com tons violáceos, aroma de frutas frescas como framboesa, corpo leve. A salivação fica sob controle, a acidez é refrescante. Foi servido resfriado, caiu bem na noite quente da degustação. O custo benefício é bastante adequado: o preço para o consumidor final é 170 reais.
A produção é pequena, 18.000 garrafas por ano. A vinícola fica aos pés da Cordilheira dos Andes, em um dos micro terroirs mais destacados do Vale do Uco, La Consulta. Fica nas margens do rio Tu[1]nuyan, em um solo rochoso da montanha com a inuência aluvial, a 1.100 metros de altitude.
O responsável é Tomás Stahringer, um dos mais importantes jovens produtores de vinho da Mendoza. Em 2021 ele recebeu o prêmio de enólogo revelação da Argentina pela Descorchados. Ele passou pelo grupo Concha y Toro e Nieto Senetiner e há 20 anos decidiu começar seu projeto pessoal, a Vinyes Ocults
Esse é o trabalho do casal Juliana Hage e Franco Giorgiutti: procurar pequenos produtores como Stahringer, com paixão pela produção de vinhos de alta qualidade.
No dia da degustação também foram apresentados outros rótulos da Vinyes Ocults, como um refrescante viognier 2020 e um clássico malbec 2018 envelhecido em barricas de carvalho de segundo e terceiro uso. Esse sim, um malbec como se deve, forte, mais ácido, em tom vermelho vivo. Um belíssimo vinho, a 520 reais. Mas não adianta. Meu coração bateu mais forte pelo malbec fraquinho.