De Eataly a Cirque du Soleil: a ambição sem limites dos cruzeiros
A italiana MSC, líder no mercado de cruzeiros no Brasil, aposta em navios cada vez maiores para fazer o mercado voltar aos melhores dias no país
Da Redação
Publicado em 13 de janeiro de 2018 às 07h37.
Última atualização em 23 de julho de 2018 às 11h12.
Santos – Para navios de cruzeiro, tamanho é documento. Mais passageiros embarcados significa mais receita para custos relativamente fixos, como despesas portuárias e combustível. Navios maiores também permitem a oferta de um maior e mais diversificado número de atrações como bares, restaurantes, piscinas, salas de jogos, cassinos, teatros. Por isso, o MSC Preziosa, com capacidade para 4.300 pessoas, é um trunfo da companhia italiana. É o maior navio de cruzeiro a atracar no Brasil. É também um exemplo de um mercado que não vê sinais de crise mundo afora, e que tenta se reerguer no Brasil.
Atracado no porto de Santos, aonde chegou em novembro para viagens até Salvador e até Buenos Aires, o Preziosa tem 333 metros de comprimento (o equivalente a três campos de futebol), 18 andares de altura e 140.000 toneladas de peso. A quantidade de atrações internas é surpreendente para quem, como eu, nunca havia pisado num navio de cruzeiro, mas também enche os olhos de passageiros habituados a navios, ouvidos pela reportagem. O navio tem um teatro para mais de 1.000 pessoas, um tobogã com 120 metros de comprimento, quatro piscinas, duas filiais da rede Eataly , pizzaria, boliche, spa e um cassino (aberto apenas em alto mar).
A decoração fica entre o suntuoso e o cafona, com escadas de cristais Swarovksi e colunas emulando antigas cidades romanas e gregas. O clima é de viagem em galera, com música alta e atrações por todos os lados. Como estamos no Brasil, o bar focado em jazz ao vivo toca, na verdade, forró e música popular estilo Wando. São cinco refeições diárias, numa rotina convidativa aos excessos. “É um público familiar e festivo, interessado num conceito de luxo a preços acessíveis”, diz Adrian Ursilli, diretor-geral da MSC Cruzeiros no Brasil. “São fatores que impulsionam a indústria mundo afora”. Um pacote de três noites pode sair por 600 reais, em dez vezes sem juros (sem bebidas).
Para os interessados em mais exclusividade, o navio tem uma área separada, batizada de Yacht Club. É como um hotel de luxo a bordo, com 79 quartos, piscina, bar e restaurante próprios. A diária, na casa dos 800 reais, dá direito a bebida, mas alguns itens, como espumantes, ficam de fora. Ainda assim, os preços são camaradas: por 20 dólares é possível pedir uma garrafa de champanhe. O restaurante exclusivo desta área, e outros espaços, como as unidades do Eataly, oferecem um menu internacional e sofisticado, na medida do possível. O prato de queijos é muito bom, assim como os pães, feitos a bordo. O filé com legumes salteados, nem tanto.
O fato é que cada vez mais pessoas mundo afora veem vantagens em passar suas férias a bordo de gigantescos navios de cruzeiro. O faturamento do setor passou de 23 bilhões de dólares em 2007 para 38 bilhões de dólares em 2017, com previsão de novo salto para 57 bilhões de dólares até 2027. Cerca de 25 milhões de pessoas viajaram em cruzeiros em 2017, em roteiros que vão de um passeio de dois dias nas ilhas gregas até uma volta ao mundo de três meses.
No Brasil, o setor sentiu o peso da crise econômica. Depois de bater 800.000 passageiros em 2010, o setor encolheu para 350.000 em 2017, com empresas como a MSC destacando menos navios para o país. Este ano, a marca vai voltar a subir, para 400.000 passageiros. “O mercado está voltando. Já estamos de olho em 2019. Para este ano, estamos lotados”, diz Ignacio Palacios, diretor commercial da MSC Cruzeiros no Brasil.
As maiores empresas do setor preveem inaugurar 27 navios nos próximos três anos, cada um deles custando 1 bilhão de dólares. O mercado é liderado por companhias como a americana Carnival, que faturou 16 bilhões de dólares em 2016, a norueguesa Royal Caribbean, que fatura 8,5 bilhões de dólares, e a MSC, que não divulga resultados. A companhia italiana tem 14 navios em operação e planeja triplicar a capacidade de passageiros até 2026, batendo de frente com as maiores. Os maiores deles terão capacidade para 6.800 pessoas. O mercado de cruzeiros, afinal, é um negócio de escala, o que permite, por exemplo, que um dos navios, o Meraviglia, tenha um teatro exclusivo para shows do Cirque du Soleil (com investimento de 20 milhões de dólares).
Para a MSC, o negócio de transportar turistas ainda é relativamente recente. Seu navio mais antigo em operação é de 2003. Fundada no anos 70, em Nápoles, e atualmente sediada na Suíça, a Mediterranean Shipping Company, é uma das maiores operadoras de contêineres do mundo, com faturamento estimado em 28 bilhões de dólares. Com o investimento anunciado para os próximos anos, a empresa, que lidera o mercado no Brasil, tem o plano de bater de frente com as duas líderes do setor nos mais diversos cantos do planeta.
Para isso, a disputa terá que ir muito além do Porto de Santos. Como não poderia deixar de ser, um dos focos de crescimento do setor é a China, onde a demanda de passageiros cresceu 79% em três anos. O grande mercado consumidor, o alto poder de compra, e a infraestrutura portuária do país são grandes atrativos para o crescimento da indústria.
No Brasil, o ponto fraco do tripé, evidentemente, é a infraestrutura. Em muitos dos destinos turísticos os navios da MSC e de concorrentes têm que atracar longe da costa e desembarcar seus passageiros em barcas. Ainda assim, o preço de estacionar um navio no Brasil chega a ser seis vezes maior que em outros países. Uma grande melhora foi vista, recentemente, com a modernização da área do Porto Maravilha, no Rio, e uma nova estrutura portuária em Ubatuba, em São Paulo. Balneário Camboriú, em Santa Catarina, também ganhou um novo píer. São exemplos isolados, mas que ajudam a dar novas perspectivas para um mercado em ebulição mundo afora.“O país tem muito espaço para crescer”, diz Adrian Ursilli.
Os navios de cruzeiro, também.