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D23, o evento para fãs hard core da Disney

É para os membros do fã clube oficial da Disney que a empresa prepara clips e trailers especiais, anuncia e confirma projetos novos em primeira mão

D23: fãs hardcore são essenciais para o modelo Disney de negócios, norteado pelo controle completo do conteúdo (Jesse Grant/Getty Images)

D23: fãs hardcore são essenciais para o modelo Disney de negócios, norteado pelo controle completo do conteúdo (Jesse Grant/Getty Images)

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EXAME Hoje

Publicado em 26 de julho de 2017 às 22h16.

Última atualização em 26 de julho de 2017 às 22h20.

Anaheim (EUA) - É mais um dos rituais essenciais do culto a todas as coisas Disney – a cada dois anos, desde 2009, rufam os tambores e soam os clarins do Império Que Mickey Construiu, chamando os fiéis para o grande congraçamento conhecido como D23 Expo. É sempre no alto verão do hemisfério norte – este ano, para sair na frente de outra reunião de tribos, a ComicCon, a D23 mudou-se de armas, bagagens e cosplay de agosto para julho, exatamente uma semana antes do evento de San Diego.

Batizada com a data de fundação dos studio – 1923 – a D23 ocupa inteiramente o gigantesco Centro de Convenções de Anaheim, convenientemente localizado a um quilômetro e meio do conjunto de parques Disneylândia e California Adventure, e cumpre várias funções importantes no multiverso Disney.

Os fãs hardcore são a prioridade da D23 –membros do fã clube oficial da Disney – que também se chama D23 – têm acesso prioritário a todas as atividades do evento, que vai da noite de quinta feira até a manhã do domingo.

A inscrição básica no fã clube D23 é gratuita, mas para comprar mais de um ingresso para a Expo, receber a revista D23 e brindes especiais e preciso ser membro gold, com um custo de $79 por ano; ingressos para a D23 Expo começam em 57 dólares por um dia para membros do fã-clube e vão até 81 dólares por um dia para não-membros.

Os fãs sérios são a viga mestra de sustento da Walt Disney Company – cativados desde cedo, na maioria dos casos dentro da família, eles são ao mesmo tempo a caixa de ressonância que indica os produtos mais adequados (“Na D23 anterior nós exibimos um clipe de Mogli: O Menino Lobo e a reação de vocês nos mostrou claramente o sucesso que o filme iria ser”, disse o chairman da Walt Disney Studios, Alan Horn, durante a apresentação dos novos filmes para 2017-2018) e o maior e mais barato instrumento de divulgação do mundo – com fervor apostólico e cobrindo os próprios custos com compra de ingressos e memorabilia, os fãs disseminam a paixão pelos produtos Disney da forma mais eficiente possível.

É para eles que a Disney prepara clips e trailers especiais, anuncia e confirma projetos novos em primeira mão, e traz dos quatro cantos do mundo os elencos e realizadores responsáveis por eles, para que acenem aos fãs e digam algumas palavras.

A mídia é uma distante segunda prioridade – rigidamente controlada e vigiada (todo e qualquer instrument de gravação é proibido no recinto da D23, e jornalistas têm que se resignar aos velhos bloquinhos para anotar eventos e entrevistas), ela é estrategicamente colocada, nos painéis que anunciam os novos lançamentos, em cadeiras especiais, rodeada pela multidão entusiasmada de fãs. (É uma estratégia que a Disney repete em suas premiéres, onde a imprensa não tem lugar à parte, mas é colocada bem no meio da área reservada
aos fã-clubes).

Conteúdo, conteúdo, conteúdo

Fãs hardcore são essenciais para o modelo Disney de negócios, norteado pelo controle completo do conteúdo. A Disney não está no ramo de serviços ou ideias ou mesmo inovações – seu produto é um só, conteúdo, conteúdo, conteúdo. Ao contrário de seus colegas na indústria, a Disney não se interessa por aquisições de produtos de terceiros, empréstimos, licenciamentos ou leases. A lição, deixada pelo fundador Walt e sua família, é levada à risca: o empresa é dona de todos os elementos de suas propriedades, da ideia ao roteiro ao produto final, incluindo aí personagens, vestuário, cores, tipologia, música.

Por isso a Disney trabalha prioritariamente com conteúdos originais e adaptações de material de domínio público. O interesse por conteúdos originais levou, recentemente, às aquisições da LucasFilm e da Marvel (por 4 bilhões de dólares cada uma), e, no passado, da Pixar (por 7,4 bilhões de dólares) três empresas, como a Disney, ficadas na criação de conteúdo rico e flexivel, capaz de várias iterações, interpretações e plataformas. (Notaram a diferença de preço? A Disney sabe como ninguém que animação tem mais vida de prateleira, custos mais razoáveis e maior adaptabilidade cultural que cinema ao vivo, além de gerar conteúdo consumível por várias plateias, de idades diversas, gerando fidelidade multi-generacional.)

A edição 2017 da D23 foi o exemplo perfeito do fortalecimento dessa estratégia na longa e produtiva gestão de Robert Iger como chairman e CEO da Walt Disney Company (Iger assistiu as apresentações da D23 sentado na plateia, constantemente apertando a mão dos fãs e posando para selfies).

No departamento animação – sempre o primeiro a ser anunciado porque, como disse Horn “animação é o coração do que fazemos, nada do que somos hoje seria possível sem animação” – 80% dos títulos a serem lançados entre o segundo semestre de 2017 e o final de 2019 são continuações ou spin-offs the lançamentos anteriores: Toy Story 4, Os Incríveis 2, Detona Ralph 2: Ralph Quebra a Internet, Frozen 2 e Olaf’s Frozen Adventure.

Apenas três projetos são inéditos: dois longas ainda sem título, um sobre aviação a jato e outro sobre um bairro habitado apenas por seres fantásticos, e Coco, lançamento deste final de ano, uma aventura musical no universo do Dia de los Muertos que tem semelhanças consideráveis com Festa no Céu (direção Jorge R. Gutierrez, 2014).

Os novos filmes para o período seguem na mesma linha de perpétua reciclagem e re-interpretação do conteúdo de catálogo do estúdio. Na linha de Cinderela, A Bela e a Fera e Malleficent, teremos versões com atores de Mulan, Aladim e Dumbo. Continuando com a tecnologia criada para o Mogli: O Menino Lobo ao vivo, veremos uma versão semelhante de O Rei Leão, com direção do mesmo Jon Favreau. Até Mary Poppins vai voltar, agora interpretada por Emily Blunt.

Isso sem falar em mais um episódio da saga Star Wars (O Último Jedi) e das franquias Vingadores e Guardões das Galáxias, unidos em Vingadores: Guerra Infinita. (O problemático filme sobre a juventude de Han Solo, que trocou de diretor a meio caminho da produção e cujo astro Alden Ehrencheich não estaria agradando os produtores, não foi sequer mencionado).

O foco em criar e manter conteúdo exclusivo e atemporal faz com que a Disney não tenha pressa em ser necessariamente a primeira em termos de novidades. Muito investimento é feito na tecnologia que cria conteúdo. Em termos de distribuição, a Disney não se importa em esperar.

Realidade virtual apareceu pela primeira vez nesta D23 Expo, com uma experiência VR do Rei Leão e dos “mundos de Star Wars” sendo oferecidos aos visitantes. Não foram, obviamente, escolhas casuais – o Rei Leão está na planilha de lançamentos (de novo) e os “mundos de Star Wars” são a mais nova atração dos parques da Disneylândia na Califórnia e de Disneyworld na Flórida.

Se a Disney não inventou a sinergia, chegou muito perto.

Ver a Disney como uma empresa em que o controle do conteúdo é tudo explica por que a indústria ficou tão alvoraçada, recentemente, quando a Apple parecia estar cortejando a Casa de Mickey. Apple e Disney têm esse poderoso traço em comum: gostam de criar produtos únicos e explorar cada centímetro de todos eles, sozinhos. Quem compraria quem? Que superempresa surgiria desse namoro?

No final das contas, a Apple resolveu contratar seus próprios executivos de produção audiovisual. E, sem grandes alardes, a Disney lançou, um par de meses atrás, sua primeira grande plataforma de streaming, a Disney Digital Network, dedicada a distribuição de conteúdo criado exclusivamente para a distribuição digital. Mas baseado no catálogo do estúdio. É claro.

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