Imagem aérea de divulgação do projeto do complexo Cidade Matarazzo (Cidade Matarazzo/Divulgação)
Agência O Globo
Publicado em 13 de março de 2022 às 08h46.
Última atualização em 13 de março de 2022 às 19h35.
Um olhar desatento pela rua Itapeva, com seus predinhos comerciais a uma quadra da Avenida Paulista, pode fazer com que não seja visto o novo representante do ultraluxo paulistano. Uma observação mais atenta, contudo, permite identificar — por trás de um portal de arcos — o grandioso mural do artista visual Speto, ladeado de seguranças. É por ali que se chega à entrada do hotel seis estrelas Rosewood São Paulo, pontapé inicial da Cidade Matarazzo, complexo de pegada sustentável idealizado pelo francês Alexandre Allard.
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O que está em funcionamento agora na Matarazzo serve como uma espécie de comissão de frente. É a alegoria responsável por abrir o desfile, inaugura o que será visto adiante. Além do hotel, com cerca de 40 quartos abertos, há dois bares e três restaurantes — um deles exclusivo aos hóspedes — além de uma capela construída há um século.
A abertura parcial já é suficiente, pelas contas dos empreendedores, para atrair uma média de 500 pessoas por dia. No futuro, espera-se que o complexo todo conte com 34 restaurantes, 300 lojas de moda, teatro e sala de shows, além da operação de mais uma torre de apartamentos residenciais e hotelaria.
O interesse que o complexo gerou tem garantido grandes filas de espera. Responsável por todos os menus do circuito gastronômico aberto até agora, o chef Felipe Rodrigues —ex-Palácio Tangará — joga na falta de costume do brasileiro de fazer reservas a razão para o acúmulo de gente tentando acessar os salões de última hora.
— As pessoas estão aprendendo a fazer reserva — brinca Rodrigues.
O local com maior apelo entre os visitantes é o bar Rabo di Galo — que não aceita reservas, é importante destacar. Para acessar uma das pouco mais de 30 mesas, as filas ultrapassam às 2h30 de espera, o que faz alguns baterem em retirada pisando firme, diante da frustração. Os mais pacientes, munidos de suas bolsas Moschino, Chanel e Dior, esperam nas poltronas presentes no hall ou na biblioteca do Rosewood.
A clientela vista no lobby e nos restaurantes é formada, sobretudo, por famílias e casais que já se conhecem. Não há hordas de solteiros, nem de pessoas com 20 e poucos anos. O que impera ali —apesar dos celulares estarem sempre em mãos, mirados em obras de arte, tapetes, paredes e toda sorte de enfeites —é a discrição.
Uma das estrelas do cardápio do Rabo di Galo é o bolovo — ou “bolove”, como foi batizado — que leva um toque de caviar. O preço acompanha a inventividade: R$ 135, a unidade. O chef explica que o valor reflete o custo das ovas — que, segundo ele, chegam a R$ 10 mil, o quilo.
— É uma combinação clássica e eterna: ovo e caviar. Realmente a receita combina — afirma.
Tem outro bolovo, com maionese de trufas, a 52 reais, mas isso ninguém fala.
O “bolove” não está só. No restaurante Blaise, brilha um frango de padaria assado na clássica “televisão de cachorro” das padarias brasileiras. O chef defende que o prato tem preparo sofisticado — ao longo de 48 horas — e chega à mesa ao lado de cogumelos, salada ou batatas fritas, além de guarnições. O custo do prato, para até quatro pessoas, é de R$ 275.
É evidente que clientes que estão dispostos a abrir a carteira em busca do ultraluxo têm seus caprichos. Causa revolta por ali, por exemplo, a falta de água mineral estrangeira — que, segundo o hotel, seria pouco sustentável para importar e, portanto, vetada do cardápio. Outra falta sentida pelos visitantes é a colherinha de madrepérola que normalmente acompanha as latas de caviar. Por ali, usa-se de chifre de boi. Com procedência mais fácil de rastrear.
O local, porém, não dá de ombros aos seus adeptos. Eles se dizem, na realidade, interessados em oferecer luxo atrelado a uma experiência. Trata-se de uma ideia repetida à exaustão. Exemplo disso, explica o gerente geral do hotel, Edouard Grosmangin, são as suítes Matarazzo. Mais importantes do complexo, a diária sai por cerca de R$ 7,5 mil — pouco mais de seis salários mínimos. O pacote de mimos aos hospedados inclui pijamas da Trousseau, calçados exclusivos da marca Melissa, hidratantes labiais, aparelhos de barbear, cafés expressos e sabonetes. Tudo pronto para ser usado e levado para casa, em embalagens individuais.
— A experiência do luxo hoje em dia tem necessariamente que englobar a arte, a cultura. Aqui faz toda a diferença o hotel estar instalado em um prédio histórico, que abrigou uma maternidade em que mais de 500 mil pessoas nasceram — diz Edouard.
Um dos bebês que chegou ao mundo naquele endereço hoje é padre da capela que funciona no local. Trata-se de Maurício Matarazzo, tataraneto da Condessa Filomena, cujo nome batizou a maternidade. O religioso, de postura discreta, comanda uma única — e concorrida — missa aos domingos de manhã. Também atende confissões no mesmo dia. Ao GLOBO, o padre se disse feliz em retomar ao local em que seus antepassados “ajudaram nossa cidade”.
Nos próximos meses, o Rosewood abrirá novos quartos. Ao todo serão 161 suítes. A Cidade Matarazzo só será conhecida em sua totalidade entre o fim de 2023 e o início de 2024. Aos que torcem o nariz para o alto custo praticado no complexo, Alexandre Allard tem uma resposta na ponta da língua.
— Com esse luxo nós criamos uma cadeia de valor enorme para o país. É luxo, mas tem que responder às novas aspirações da sociedade — afirma o empreendedor, que considera o endereço uma “fonte de autoestima” para o Brasil.
Na nova toada de inaugurações, está prevista a abertura da suíte que será a mais elaborada do complexo. É estimado que o custo da diária fique por volta de R$ 10,5 mil. Allard não esconde que quer receber visitantes de alto quilate na acomodação.