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Como respirar certo pode te ajudar a viver melhor

Para Rajshree Patel, advogada e ativista humanitária africana, esse é o segredo para enfrentar momentos difíceis no trabalho e na vida pessoal

“A cadência equilibrada do inspirar e expirar é fundamental para colocar nossa mente no presente, já que uma das grandes causas do conflito humano é a oscilação dos pensamentos” (Stockphoto)

“A cadência equilibrada do inspirar e expirar é fundamental para colocar nossa mente no presente, já que uma das grandes causas do conflito humano é a oscilação dos pensamentos” (Stockphoto)

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Da Redação

Publicado em 5 de agosto de 2013 às 09h30.

São Paulo - "Mude sua respiração e mudará sua mente. Mudando sua mente, mudará suas emoções.” A tese defendida pela advogada e ativista de direitos humanos Rajshree Patel, 50 anos, percorre o mundo há 25 anos, desde que se tornou instrutora sênior e embaixadora internacional da Arte de Viver. A fundação, criada pelo indiano Sri Sri Ravi Shankar, prega uma mente livre de stress por meio da respiração e está presente em 150 países, inclusive no Brasil.

“A cadência equilibrada do inspirar e expirar é fundamental para colocar nossa mente no presente, já que uma das grandes causas do conflito humano é a oscilação dos pensamentos que remoem o passado e/ou o futuro”, explica. Da Organização das Nações Unidas (ONU) à Universidade Harvard, as palavras de Rajshree se fizeram ouvir em mais de 35 países. O objetivo é ensinar às pessoas ferramentas que darão a elas os pilares para uma vida mais produtiva, feliz e livre de preocupações e da violência.

Também estão entre os temas de sua fala sempre serena a responsabilidade social nas empresas, a ética nos negócios, os direitos humanos e o meio ambiente. Nascida na Uganda, na África, mora nos Estados Unidos desde os 10 anos de idade. Lá, formou-se em direito e vive até hoje, em Los Angeles, ao lado do marido. Nesta entrevista, Rajshree fala sobre relações de trabalho e familiares, gerenciamento do tempo e depressão, discute a importância do resgate do sentimento de interdependência para construir uma sociedade mais justa e harmoniosa e ensina ferramentas para uma vida mais produtiva e feliz.

Uma das queixas dos novos tempos é a pressão no trabalho. Como lidar com isso?

Na verdade, não é como você lida com a pressão no trabalho, mas sim como você lida com a pressão de uma maneira geral. O estresse é algo que ninguém entende. Por isso mesmo, as pessoas não sabem muito bem lidar com ele. O estresse surge quando a demanda é maior do que nossa energia. Existem duas formas de gerenciar isso: uma é reduzindo a carga de trabalho, o que não costuma ser possível, e a outra é aumentar a energia. Quando se está cansado, mesmo o menor dos trabalhos parece muito grande.

Qual é, então, a melhor forma de ganhar energia?

Já se sabe que a boa qualidade do sono e da alimentação e um pouco de exercício físico são bons aliados antiestresse. Poucos sabem, porém, que uma das formas mais eficientes de se energizar é por meio da respiração. Toda vez que você inspira, você recebe energia; toda vez que expira, se desfaz do cansaço e do estresse. A respiração faz com que sua carga de trabalho pareça menor.


Você poderia ensinar uma técnica de respiração específica para ser feita no trabalho?

Sugiro que se faça o curso parte I da Arte de Viver. Ele irá, com certeza, gerar uma grande mudança. No entanto, para quem não puder participar do curso, basta parar alguns poucos minutos por dia ou no momento de maior tensão e respirar profundamente de cinco a dez vezes. Com certeza, vai ajudar muito.

Saber gerenciar bem o tempo é também importante nesse processo?

Tempo e mente são sinônimos. Quando você se sente pressionado, estressado, preocupado, ou quando está com raiva, as horas do dia parecem infindáveis, quer você esteja em casa, quer no trabalho. Por outro lado, quando você está feliz, de alguma forma o tempo parece voar. A dimensão do tempo é outra. Antes de mais nada, é preciso entender que a melhor maneira de ganhar tempo não é aprendendo a gerenciar ou priorizar tarefas. É, sim, aprendendo a gerenciar sua mente.

E como fazer isso?

Basta prestar atenção em como ela funciona. Normalmente, sempre oscilando entre o passado e o futuro. Quando sua mente está presa no passado, você sente raiva, arrependimento, culpa e dor. Já se ela se concentra no futuro, você fica preocupado, tem medo e ansiedade. Concluindo: tempo e energia são desperdiçados quando se pensa no passado ou no futuro. Muitas vezes, as pessoas precisam, por exemplo, ler um documento ou um processo. No entanto, têm que reler várias vezes. Por quê? Porque os olhos estão apenas olhando as palavras, mas a mente não está presente. Então, se gasta tempo. É por isso que eu digo que o melhor caminho para gerenciar o tempo é gerenciando sua mente, o que significa trazê-la para o momento presente. Respirar profundamente e com atenção é um grande aliado.

Algumas relações de trabalho são muito difíceis. O que pode ser feito para reverter essa situação?

Do mesmo jeito que você lida com os relacionamentos em casa. É preciso parar e pensar que as pessoas do trabalho também são muito próximas. Afinal, você passa em média cinco vezes mais tempo com elas do que com as pessoas em casa. Além disso, é do trabalho e dessas relações que derivam seu sustento e o de sua família. Sentimentos vêm e vão, humor vem e vai, as pessoas concordam e discordam em qualquer lugar. Comece a perceber que os colegas de trabalho também pertencem a você e as coisas ficarão mais fáceis.


Quais valores humanos estão faltando nas pessoas?

Os valores em grupo, ou seja, o amor, a compaixão e a conexão. De que adianta uma grande casa, um carro caro, uma conta gorda no banco, se você não tem ninguém para amar ou por quem ser amado. Esse valor em grupo é o que nos dá o senso de time no trabalho e a sensação de inter-relação em casa. Não há nada maior que isso. Pare e pense: você acha que, quando estiver morrendo, se lembrará da promoção que recebeu no trabalho ou dos momentos de sua vida em que compartilhou algo?

Como é possível desenvolver esse sentimento?

Parando de achar que você está sozinho ou que é independente. Isso é ilusão. Olhe ao redor, você depende de tudo, nada no mundo é independente. O alimento que você come foi plantado e colhido por outras pessoas para chegar até você. Pare de ver o mundo com olhos que separam. Temos dificuldade de entender isso porque pensamos que a maneira para crescer é sendo independente, mas não é assim, e isso vale também para o crescimento profissional. Nem a dependência nem a independência são suficientes. A interdependência, o trabalhar em conjunto, faz com que as coisas sejam mais fáceis.

É possível crescer profissionalmente sem ser individualista?

Sim, tendo senso de equipe. Não importa o quão longe você vá, sempre haverá alguém à sua frente. Lembre-se de que a vida é muito mais do que aquilo que você coleciona. Imagine ter tudo mas não ter um sorriso em seu rosto. É válido? Então você tem que se perguntar: “O que eu estou disposto a perder para seguir em frente?”; “Vou perder meu sorriso?”; “O senso de mim mesmo?”. Se acha que vale a pena, vá em frente. Se não, encontre uma linha onde possa se mover com ética, encontre uma maneira de servir. A natureza encontrará uma forma de retribuí-lo.

Por que muitas pessoas, mesmo sabendo dos sérios problemas ambientais atuais, não se preocupam nem mesmo em reciclar o próprio lixo? Por que isso acontece?

É uma espécie de miopia, uma ignorância, uma maneira muito estreita de ver as coisas. Você pensa: “Eu vou é cuidar de mim, não vou cuidar do meio ambiente. Outras pessoas que façam isso”. Mas e seus filhos, netos e bisnetos? Eles são parte de você e, depois que você se for, eles continuarão aqui. Se você não cuidar hoje, como será o mundo deles depois que você se for? Fique atento, essa ignorância, esse olhar estreito, cria uma desconexão, não só com nós mesmos mas com as pessoas ao nosso redor e com o meio ambiente.


Além desse olhar estreito, como você disse, há outras razões?

Muitas vezes, o estresse impede que tenhamos esse cuidado, pois, para ter consciência, devemos parar, olhar para dentro de nós, tranquilizar nossa mente. Em um estado de mente calma, ninguém faz nada para prejudicar o outro, inclusive o meio ambiente. Então, por alguns instantes, todos os dias, todo mundo precisa se acalmar, relaxar, mesmo no escritório. Por volta das 14 ou 15 horas a energia cai. A habilidade funcional, a efetividade e a produtividade diminuem, porque a mente está cansada de pensar, planejar, fazer estratégias. Nesses momentos no trabalho, onde quer que esteja, feche os olhos e preste atenção em sua respiração.

Como os pais podem contribuir para que esse pensamento e atitude de interdependência se desenvolvam em seus filhos?

Dar educação sobre valores humanos, ensinando-os a ser amigáveis, a dividir. Antigamente, na Índia, o aniversariante recebia dos convidados um presente que pudesse levar, no dia seguinte, a um hospital, orfanato ou asilo. O presente não era para ele, mas para outras pessoas. Somente depois que esse fosse doado é que a criança ganhava de seus pais o presente que havia sido comprado para ela. Senso de doação deve ser cultivado. Você tem que instruir seus filhos a esticar suas mãos primeiro, não ter ressentimentos, fazer um novo amigo todos os dias, trazer as pessoas para sua casa. O que ensinamos na Índia é primeiro servir a comida a todas as pessoas e depois fazer seu prato. Quanto mais você divide, mais sua alegria cresce, porque a natureza da alegria é dividir.

Por que é tão difícil para as pessoas se sentirem bem, em paz e felizes?

Porque elas só ficam pensando no eu, eu, eu. Esse é o ambiente perfeito para a depressão e a infelicidade. Então, quando você se sentir triste, a melhor coisa a fazer é olhar para as pessoas que têm menos que você, e assim encontrará um pouco de gratidão. Mexa-se, faça algum serviço comunitário, isso faz a diferença. Em países de primeiro mundo, que são tão abundantes em conforto, encontramos facilmente pessoas jovens tomando remédios para depressão, as taxas de suicídio são altas, as doenças mentais estão crescendo. Mas, nas sociedades que são interdependentes, em que a referência não é só o “eu”, ou “eu, minha mãe e meu pai”, os níveis de depressão e distúrbios mentais não são tão altos. Estive recentemente na Noruega e fiquei muito surpresa em ver quantos jovens não só estão sob medicação como também cometendo suicídio sem razão. É hora de todos nós acordarmos e vermos que acumular não é suficiente. Dividir é necessário!

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