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Como anfitriões do Airbnb estão sentindo a dor do coronavírus

A crise que o vírus está causando à indústria de viagens online é comparada à crise no setor aéreo e hoteleiro

Ashley Thredgold e Tracey Northcott, anfitriãs no Airbnb (Loulou d'Aki/The New York Times)

Ashley Thredgold e Tracey Northcott, anfitriãs no Airbnb (Loulou d'Aki/The New York Times)

Guilherme Dearo

Guilherme Dearo

Publicado em 25 de março de 2020 às 07h00.

Última atualização em 25 de março de 2020 às 18h39.

Livia De Felice, que é dona de duas propriedades para alugar e que gerencia outras quatro em toda a Itália, teve todas as suas reservas para março canceladas, o que a deixou extremamente preocupada.

Austin Mao, que recebe 2.000 hóspedes por mês em sua rede de mansões em Las Vegas, reduziu os preços das propriedades em 10% e planeja continuar diminuindo, pois os hóspedes vão escasseando.

E Tracey Northcott e seu marido, que administram 12 apartamentos de férias em Tóquio, informaram que a taxa de ocupação passou de 80% para zero desde janeiro.

"Tenho de continuar pagando minha hipoteca de alguma forma", disse Northcott, que emprega uma equipe de três faxineiros e administradores em tempo integral e cinco em meio período e começou a tirar dinheiro de suas economias de aposentadoria para pagar as contas.

De Felice, Mao e Northcott fazem parte de uma rede de pessoas por trás de 7 milhões de ofertas no Airbnb, o site de compartilhamento de casas e aluguéis, que agora está sentindo o peso da epidemia do coronavírus. Com as viagens parando em muitos lugares para limitar a propagação do surto, os problemas enfrentados pelo Airbnb e outros sites de viagens online, como Booking.com e o VRBO, aumentaram rapidamente.

A crise que o vírus está causando à indústria de viagens online, de 688 bilhões de dólares, é compartilhada por companhias aéreas e grandes redes de hotéis. Mas, ao contrário do Marriott e do Hilton ou de companhias aéreas como United e JetBlue, muitos sites de viagens são sustentados por anúncios de proprietários individuais e pequenas operadoras de hotéis, que normalmente têm menos recursos para suportar uma baixa prolongada.

O problema já é generalizado. A Booking.com, que tem 6,3 milhões de anúncios de "acomodações alternativas", incluindo apartamentos e casas de férias, e também vende estadas de hotel e passagens aéreas, cancelou sua previsão financeira em 9 de março. A empresa declarou que o agravamento das condições tornou impossível "quantificar de forma confiável" o impacto do vírus em seus negócios.

"O mundo mudou e temos de nos ajustar", afirmou Glenn Fogel, executivo-chefe da Booking.com, em uma entrevista recente, acrescentando que sua empresa também reduziu a publicidade.

O Expedia Group, dono da VRBO, do Hotels.com e de mais de uma dúzia de outros sites de viagens, disse que esperava um impacto de 30 milhões a 40 milhões de dólares no lucro operacional no primeiro trimestre. A empresa demitiu recentemente 12% de sua força de trabalho, ou mais de 3.000 funcionários, o que, segundo ela, fazia parte de uma reestruturação previamente planejada.

Barry Diller, chairman da Expedia

Barry Diller, chairman da Expedia (Harry Eelman/The New York Times)

"É realmente uma incógnita. Tudo o que estamos tentando fazer é separar o que acreditamos ser o efeito do vírus de nossos negócios em andamento, para que possamos nos preparar e tornar nosso negócio o mais forte possível quando isso acabar", disse Barry Diller, presidente da Expedia, sobre o coronavírus em pronunciamento para investidores em fevereiro.

Um dos mais atingidos pode ser o Airbnb, em que milhões de anfitriões oferecem suas propriedades para estadas curtas desde que a empresa foi fundada em 2008. (O Airbnb recebe uma parte das taxas cobradas.) Com o passar dos anos, seus anfitriões se tornaram cada vez mais sofisticados, com miniempresas surgindo para atender às suas necessidades, como limpeza e gerenciamento das propriedades. Competidores como a Booking.com fizeram o mesmo, optando por aluguéis de casas de férias.

Agora o Airbnb se encontra em terreno estrategicamente complicado.

A empresa de São Francisco, avaliada em 31 bilhões de dólares por investidores privados, anunciou em setembro que planejava abrir oferta pública neste ano — embora o mercado inicial de oferta pública para grandes startups que perdem dinheiro esteja difícil. O Airbnb indicou que planejava que sua oferta viesse por meio de um método incomum, conhecido como listagem direta, em que não há venda de novas ações. E está sob pressão para concluir uma listagem neste ano, porque algumas das ações de atuais e ex-funcionários da empresa vão expirar.

A oferta pública pode estar sendo questionada agora. Nick Papas, porta-voz do Airbnb, se referiu apenas ao anúncio anterior da empresa de que planejava se tornar pública neste ano. Mas a volatilidade do mercado de ações e o golpe dramático do vírus para os negócios podem fazer com que seja impensável que alguma empresa se torne pública em breve.

Brian Chesky, executivo-chefe do Airbnb, enviou recentemente um e-mail aos funcionários esclarecendo a resposta da empresa ao vírus. Na mensagem, à qual o The New York Times teve acesso, Chesky escreveu que o Airbnb concederia alguns reembolsos aos clientes e estabeleceria um fundo de 10 milhões de dólares para apoiar operadores de aluguel chineses enquanto o turismo para o país, onde o surto começou, permanecesse parado.

"O Airbnb nasceu durante uma crise global. Isso não nos impediu na época e não vai nos impedir agora", escreveu Chesky, referindo-se à crise financeira de 2008, sem mencionar os planos de abertura de capital.

O Airbnb enfrenta outras consequências do coronavírus, incluindo um patrocínio dos Jogos Olímpicos de Tóquio neste verão que pode estar em perigo se o evento for cancelado. O Comitê Olímpico Internacional (COI) declarou que estava totalmente comprometido com a realização dos Jogos e que seguiria o conselho da Organização Mundial da Saúde.

Acima de tudo, o Airbnb está lidando com um potencial declínio na receita porque os viajantes estão cancelando estadas com seus anfitriões.

Jasper Ribbers, que dirige uma empresa chamada Get Paid For Your Pad em Sófia, na Bulgária, que fornece coaching para anfitriões do Airbnb, aconselhou aqueles em regiões afetadas pelo vírus a reduzir os preços noturnos, reduzir custos e buscar usos alternativos para seus espaços, como oferecê-los para aluguéis de longo prazo.

Sede do Airbnb em San Francisco, EUA

Sede do Airbnb em São Francisco, nos Estados Unidos (Jason Henry/The New York Times)

"Alguns anfitriões estão fazendo eventos ou permitindo que artistas locais usem os apartamentos para sessões de fotos", disse ele.

Mao, o anfitrião do Airbnb em Las Vegas, começou a reduzir os preços de suas propriedades em fevereiro e disse que continuaria fazendo isso à proporção que as reservas diminuíssem. Cada uma de suas casas rendia cerca de 10.000 dólares por mês, com custos fixos de apenas 3.500 dólares. Embora tenha dito que viu apenas uma leve queda nas reservas no início de março, ele espera que isso se aprofunde à medida que o medo do coronavírus se intensificar.

Em Tóquio, Northcott, que é anfitriã do Airbnb há oito anos, contou que estava tentando encontrar outro trabalho para seus faxineiros, que são pagos pelo trabalho. Seu negócio, a Tokyo Family Stays, perdeu cerca de 2.000 dólares em reservas em janeiro, 10.000 em fevereiro, 25.000 até agora em março e 40.000 em abril, que normalmente é o mês do ano com maior renda.

Papas não quis divulgar detalhes sobre os custos dos cancelamentos relacionados ao vírus. A empresa permitiu que aqueles que viajariam para China, Coreia do Sul e partes da Itália cancelassem suas reservas com reembolso total, e informou que estava avaliando individualmente outras situações, incluindo pessoas cujos voos foram cancelados ou que foram impedidas de viajar.

O Airbnb anunciou um programa chamado Reservas Mais Flexíveis, que permitirá aos anfitriões oferecer reembolsos aos hóspedes mais facilmente. As viagens reservadas agora até 1º de junho que não se enquadram na política de circunstâncias atenuantes da empresa também serão reembolsáveis com cupons para uma viagem futura.

Em seu memorando aos funcionários, Chesky tentou se manter otimista: "O setor de viagens sempre se recupera. É uma das indústrias mais resilientes do mundo."

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