Como a Porsche passou de carros elétricos em 1898 ao IPO bilionário em 2022
Marca foi criada oficialmente em 1948, mas Ferdinand Porsche já trabalhou na Mercedes-Benz e até criou o Volkswagen Fusca
Gabriel Aguiar
Publicado em 29 de setembro de 2022 às 15h53.
Última atualização em 29 de setembro de 2022 às 16h53.
Muito antes do famoso Porsche 911 e da abertura de capital na Bolsa de Valores de Frankfurt — que alcançou € 76,5 bilhões de valor de mercado —, o fabricante de carros esportivos teve origem na cidade de Maffersdorf, atualmente parte da República Tcheca: era lá a oficina mecânica de Anton Porsche, pai de Ferdinand, criador da marca que até agora carrega o sobrenome da família.
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Curiosamente, em vez de prestar atenção no funcionamento das engrenagens e ferramentas do pai, o adolescente nascido em 1875 estava mais interessado por eletricidade e, por isso, sempre visitava a tecelagem Ginzkey, considerada a maior empresa da região (e única com energia elétrica). Naquela altura, em 1989, o jovem Ferdinand Porsche também estudava e trabalhava como funileiro.
Dentro de casa já era capaz de criar patins de gelo com lâmpadas a bateria, mas esses experimentos se tornaram mais complexos depois de frequentar os cursos noturnos da escola industrial federal “K. u. K. Staatsgewerbeschule”, na cidade próxima de Reichenberg — que, atualmente, se chama Liberec. Tanto que, em 1893, a residência dos pais se tornou o segundo endereço com luz na região.
Início na indústria automotiva
No mesmo ano, mudou para Viena e começou a trabalhar na Béla Egger Co., empresa de engenharia elétrica na qual se tornou líder do departamento de testes em 1897 (com apenas 22 anos de idade). Só que a trajetória de Ferdinand Porsche só mudou quando conheceu Ludwig Lohner, dono de uma fábrica de carruagens que já previa o fim dos veículos de tração animal e contratou o jovem.
Dessa nova fase surgiu o Egger-Lohner C.2, também chamado P1 — em referência ao primeiro veículo desenvolvido por Ferdinand Porsche e à sigla que o próprio engenheiro marcou em diversas peças —, carro elétrico criado em 1898 com 5 cv, 50 km de autonomia e velocidade máxima de 35 km/h. Parece pouco, só que venceu uma corrida de 40 km, um ano depois, com 18 minutos de vantagem.
Esse modelo foi considerado revolucionário na época e garantia eficiência de até 83% (praticamente o dobro dos motores a combustão de hoje). Mas ainda vieram outras criações do engenheiro, como o primeiro carro de tração integral, com um motor elétrico instalado em cada roda, considerado um dos principais destaques da Exposição Universal de Paris, em 1900, entre 76 mil expositores.
" Ele ainda é muito jovem. Mas este é um homem que tem uma grande carreira pela frente. Você vai ouvir muito mais dele. E seu nome é Ferdinand Porsche”, teria dito Ludwig Lohner, dono da própria companhia, de acordo com relatos da época. Ainda em 1900, o engenheiro desenvolveu o primeiro veículo híbrido da história e, depois, o Semper Vivus — com motores a gasolina como gerador.
Engenheiro para a Mercedes-Benz
Em 1906, aquele que se tornaria fundador da Porsche sai da Lohner e vai como projetista chefe para a Austro-Daimler, em Wiener Neustadt, onde se manteve até 1923. Meses depois passou a trabalhar na Daimler Motoren Gesellschaft como diretor técnico na cidade de Stuttgart, na Alemanha, que era considerada um dos principais centros da indústria automotiva em todo continente europeu.
Durante o período que atuou na Daimler, acompanhou a fusão da companhia com a Benz & Cie — e que deu origem à marca Mercedes-Benz. Sem apoio do conselho para projetar modelos menores e mais eficientes, pediu demissão em 1929 e passou à Steyr Automobile. Por ironia do destino, a nova empresa foi duramente afetada pela crise econômica e acabou absorvida pela própria Daimler.
Criação da marca Porsche
Eis que, no dia 25 de abril de 1931, meses depois de abandonar a indústria, Ferdinand Porsche cria a “Dr. Ing. h.c. F. Porsche GmbH, Konstruktion und Beratung für Motoren-und Fahrzeugbau”, pensada para desenvolver projetos sob encomenda a outras empresas — e com só 20 funcionários, inclusive o filho Ferry Porsche. Eis que o escritório assinou diversos projetos, inclusive do famoso Fusca.
Com a Segunda Guerra Mundial e os envolvimentos de Ferdinand Porsche no projeto do Volkswagen (o “Carro do Povo”) para o partido nazista, o engenheiro acabou preso. Por outro lado, dois de seus filhos criaram aquele que seria o primeiro modelo próprio da marca: o 356, batizado assim por ser o 356º projeto do escritório. Depois de libertado, em 1948, o patriarca ainda refinou o carro.
Com base inspirada no popular “Carro do Povo” e até componentes compartilhados, o Porsche 356 tinha proposta esportiva e foi revelado ao público durante o Salão de Genebra, na Suíça, de 1949. E, tamanho o sucesso, a produção artesanal do galpão em Gmünd, na Áustria, acabou transferida para a alemã Stuttgart. Mesmo morto no início de 1951, Ferdinand Porsche viu nascer uma lenda.