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Com altos e baixos, Tite finalmente se fixa no topo

Tite se consagrou como um profissional de ponta, alçando o voo de uma carreira até então apenas razoável

Técnico Tite, do Corinthians, com a taça Libertadores da América: quando chegou no clube, em 2010, não fazia parte do grupo seleto de técnicos vencedores (Nacho Doce/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 6 de julho de 2012 às 11h37.

São Paulo - O futebol do Brasil é pobre em técnicos vencedores. Talvez não existam em número suficiente para atender aos times que pretendem disputar títulos nacionais. Tite agora é um deles — mais do que isso, talvez seja hoje o melhor deles, com dois títulos máximos conquistados em sequência, o Campeonato Brasileiro de 2011 e a Libertadores deste ano.

A vida profissional de técnico é assim mesmo: de uma hora para outra, é içado à condição de celebridade, mas sempre sujeito a ser rebaixado a qualquer deslize.

Quando Tite chegou no Corinthians, em 2010, não fazia parte do grupo seleto de técnicos vencedores. Já tinha dois títulos importantes — a Copa do Brasil, pelo Grêmio, em 2001, e a Copa Sul-Americana, pelo Internacional, em 2008 —, muito pouco para um técnico de primeira linha.

Anos antes, em 2004, Tite assumiu o Corinthians com a missão de afastar a ameaça do rebaixamento no campeonato brasileiro, obtendo um quinto lugar. Esse foi o momento em que Tite poderia alçar o voo. Ainda mais porque, no ano seguinte, o Corinthians, em parceria com a MSI, formaria um elenco com muitos craques.

Conta-se que, nessa época, Tite teria posto para fora dos vestiários o principal dirigente da MSI, Kia Jaboorichian, sob a alegação de que cartola não tinha que frequentar ambientes restritos a jogadores e comissão técnica. Essa atitude, somada a outros atritos, acabou provocando a demissão de Tite. E, transferindo-se para o Atlético Mineiro, não conseguiu evitar o rebaixamento: os planos para entrar para o primeiro time dos técnicos pareciam definitivamente comprometidos.

Depois de passar algum tempo nos Emirados Árabes, Tite foi contratado por Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, para substituir Mano Menezes, chamado para dirigir a Seleção.


Foi uma contratação arriscada. A torcida não tinha boas lembranças dele e vice-versa. Além de não ser um técnico de ponta, Tite não tinha um discurso popular. E suas melhores qualidades — entre elas, a de seguir suas ideias a qualquer preço e não aceitar interferência da direção — ainda não eram visíveis. Mas, nesse tempo em que ficou fora do Brasil, Tite havia se aperfeiçoado.

Um aspecto importante num mercado em que os técnicos de futebol possuem conhecimento apenas empírico, normalmente adquirido dentro do campo. Desenvolveu “conhecimentos táticos, jogo com pressão alta e baixa, flutuação, encaixe de marcação, variações de duas linhas de quatro”, disse ele, após a conquista da Libertadores. Um discurso sofisticado, que virou piada quando mencionou, no ano passado, os benefícios da “treinabilidade”.

Tite também aperfeiçoou sua personalidade. Antes “muito briguento”, como ele mesmo conta, passou a investir mais no “diálogo”, principalmente com dirigentes. Ao mesmo tempo, fez um treinamento para lidar com a mídia e trocar as palavras rancorosas pela risada das piadas.

Deu certo. É verdade que, se não fosse a persistência de Andrés Sanchez em mantê-lo como técnico após a derrota contra o Tolima, na Libertadores de 2011, ele teria novamente abortado seu voo. Mas teve a chance que poucos técnicos usufruem e compensou amplamente essa oportunidade.

Boa parte do sucesso que obteve no Corinthians deve-se à sua habilidade em tratar com as pessoas — jogadores, imprensa e cartolas — e resolver conflitos. Nesses dois anos à frente do Corinthians, Tite barrou quatro titulares por motivos técnicos, todos eles de bem com a torcida — Julio Cesar, Chicão, Liédson e Alessandro — e conseguiu evitar uma crise mais do que previsível.

Algumas horas depois da vitória sobre o Boca Juniors e ainda usufruindo da vibração do título inédito, Tite contabilizava seu feito — “Vai ser muito difícil um time ser campeão como fomos, invictos em 14 jogos” — e sintetizava em uma palavra o segredo do seu sucesso: “Personalidade”.

É uma boa explicação. Mas certamente, não é tudo. Faltou a ele dizer que, para ser um técnico de primeiro time, é preciso ganhar títulos importantes — isso sim é libertador e ele não precisou explicar.

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São Paulo - O futebol do Brasil é pobre em técnicos vencedores. Talvez não existam em número suficiente para atender aos times que pretendem disputar títulos nacionais. Tite agora é um deles — mais do que isso, talvez seja hoje o melhor deles, com dois títulos máximos conquistados em sequência, o Campeonato Brasileiro de 2011 e a Libertadores deste ano.

A vida profissional de técnico é assim mesmo: de uma hora para outra, é içado à condição de celebridade, mas sempre sujeito a ser rebaixado a qualquer deslize.

Quando Tite chegou no Corinthians, em 2010, não fazia parte do grupo seleto de técnicos vencedores. Já tinha dois títulos importantes — a Copa do Brasil, pelo Grêmio, em 2001, e a Copa Sul-Americana, pelo Internacional, em 2008 —, muito pouco para um técnico de primeira linha.

Anos antes, em 2004, Tite assumiu o Corinthians com a missão de afastar a ameaça do rebaixamento no campeonato brasileiro, obtendo um quinto lugar. Esse foi o momento em que Tite poderia alçar o voo. Ainda mais porque, no ano seguinte, o Corinthians, em parceria com a MSI, formaria um elenco com muitos craques.

Conta-se que, nessa época, Tite teria posto para fora dos vestiários o principal dirigente da MSI, Kia Jaboorichian, sob a alegação de que cartola não tinha que frequentar ambientes restritos a jogadores e comissão técnica. Essa atitude, somada a outros atritos, acabou provocando a demissão de Tite. E, transferindo-se para o Atlético Mineiro, não conseguiu evitar o rebaixamento: os planos para entrar para o primeiro time dos técnicos pareciam definitivamente comprometidos.

Depois de passar algum tempo nos Emirados Árabes, Tite foi contratado por Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, para substituir Mano Menezes, chamado para dirigir a Seleção.


Foi uma contratação arriscada. A torcida não tinha boas lembranças dele e vice-versa. Além de não ser um técnico de ponta, Tite não tinha um discurso popular. E suas melhores qualidades — entre elas, a de seguir suas ideias a qualquer preço e não aceitar interferência da direção — ainda não eram visíveis. Mas, nesse tempo em que ficou fora do Brasil, Tite havia se aperfeiçoado.

Um aspecto importante num mercado em que os técnicos de futebol possuem conhecimento apenas empírico, normalmente adquirido dentro do campo. Desenvolveu “conhecimentos táticos, jogo com pressão alta e baixa, flutuação, encaixe de marcação, variações de duas linhas de quatro”, disse ele, após a conquista da Libertadores. Um discurso sofisticado, que virou piada quando mencionou, no ano passado, os benefícios da “treinabilidade”.

Tite também aperfeiçoou sua personalidade. Antes “muito briguento”, como ele mesmo conta, passou a investir mais no “diálogo”, principalmente com dirigentes. Ao mesmo tempo, fez um treinamento para lidar com a mídia e trocar as palavras rancorosas pela risada das piadas.

Deu certo. É verdade que, se não fosse a persistência de Andrés Sanchez em mantê-lo como técnico após a derrota contra o Tolima, na Libertadores de 2011, ele teria novamente abortado seu voo. Mas teve a chance que poucos técnicos usufruem e compensou amplamente essa oportunidade.

Boa parte do sucesso que obteve no Corinthians deve-se à sua habilidade em tratar com as pessoas — jogadores, imprensa e cartolas — e resolver conflitos. Nesses dois anos à frente do Corinthians, Tite barrou quatro titulares por motivos técnicos, todos eles de bem com a torcida — Julio Cesar, Chicão, Liédson e Alessandro — e conseguiu evitar uma crise mais do que previsível.

Algumas horas depois da vitória sobre o Boca Juniors e ainda usufruindo da vibração do título inédito, Tite contabilizava seu feito — “Vai ser muito difícil um time ser campeão como fomos, invictos em 14 jogos” — e sintetizava em uma palavra o segredo do seu sucesso: “Personalidade”.

É uma boa explicação. Mas certamente, não é tudo. Faltou a ele dizer que, para ser um técnico de primeiro time, é preciso ganhar títulos importantes — isso sim é libertador e ele não precisou explicar.

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