Fomos a um jogo da Champions e contamos como é o protocolo contra covid-19
Com jogos sem público e manual de 130 páginas com regras sanitárias e de segurança, maior campeonato europeu tenta finalizar sua temporada 2019/2020
Guilherme Dearo
Publicado em 13 de agosto de 2020 às 10h22.
Última atualização em 13 de agosto de 2020 às 10h48.
Nada de torcedores nos estádios, acesso restrito a poucos profissionais a trabalho, distanciamento social, máscaras, medição de temperatura, vestiários desinfetados, testes frequentes, hotéis isolados e o mínimo de contato possível entre as pessoas.
Por causa da pandemia do coronavírus , essas são algumas das medidas adotadas pela Uefa no rígido protocolo sanitário criado para a fase final da Liga dos Campeões da Europa 2020, a principal competição de futebol do continente, que está sendo disputada em um formato inédito em Lisboa. A “bolha” criada na capital portuguesa é semelhante ao que está sendo feito na NBA, a liga norte-americana de basquete, em que os atletas estão confinados dentro do complexo da Disney, em Orlando, no Estados Unidos.
Ontem (12), pouco antes do Paris Saint-Germain ganhar de virada da Atalanta, por 2 a 1, com boa atuação de Neymar e gols de Marquinhos e Choupo-Moting, a ausência de uma imagem simbólica foi notada no primeiro jogo das quartas-de-final. Enquanto o tradicional hino da Champions League era executado no sistema de som do Estádio da Luz com os jogadores alinhados, no centro do gramado não tremulava o bandeirão redondo com o desenho da bola preta e branca cheia de estrelas. Para isso acontecer, seria necessário a presença de 30 funcionários, que costumam segurar e agitar este grande pedaço de pano, fazendo um efeito visual marcante antes da bola rolar nas partidas. Porém, a ordem é limitar ao máximo o número de pessoas para minimizar os riscos de contágio.
Esta é apenas uma de diversas mudanças nesta fase do torneio que vai durar doze dias, com um total de sete jogos na cidade e a grande final marcada para 23 de agosto, um domingo. É um fim de temporada diferente do habitual em razão da Covid-19, já que normalmente apenas a decisão é disputada em jogo único e campo neutro. A princípio, a final deste ano aconteceria em Istambul, na Turquia, mas a sede foi alterada pois Portugal foi um dos países que melhor controlou a pandemia, e o governo local e autoridades de saúde deram garantias à Uefa.
Desde o desembarque no aeroporto de Lisboa já é possível observar algumas das medidas sanitárias, como a instalação de uma câmera térmica automática que mede a temperatura dos passageiros. Mas é um guia de 130 páginas que mostra as regras a serem seguidas pelo oito clubes ainda envolvidos na disputa.
Pelo protocolo, todos os membros das delegações realizaram testes RT-PCR para Covid-19 dois ou três dias antes da viagem e depois fazem outro exame na véspera das partidas. Se alguém tiver resultado positivo, deve ser isolado imediatamente e entrar em quarentena, que foi o que aconteceu com Angel Correa e Sime Vrsaljko, ambos do Atlético de Madri. No entanto, mesmo se vários jogadores forem infectados, a Uefa não pretende adiar jogos e prevê a realização se um time tiver pelo menos 13 atletas saudáveis disponíveis (11 titulares e dois reservas, sendo um goleiro). Caso tenha menos do que isso, a equipe será declarada perdedora por WO e o placar de 3 a 0.
Cada time está hospedado em um hotel diferente e também tem centros de treinamento separados. O PSG, por exemplo, reservou um hotel de luxo exclusivamente para o clube, sem a presença de nenhum outro hóspede durante o período desta fase da Champions. E não são apenas os jogadores que precisam ficar confinados nesses hotéis. Até mesmo outros membros das delegações e funcionários têm restrição para deixar o local e circular pela cidade.
Nos estádios da Luz e José Alvalade, que recebem os jogos com as arquibancadas vazias, sem barulho e festa das torcidas, o controle é ainda mais rígido. Poucas pessoas têm acesso. Além dos times, podem entrar apenas jornalistas e outros profissionais a trabalho, mas em quantidade bastante limitada. Todos precisam preencher uma ficha epidemiológica, medir a temperatura, usar máscara, passar álcool em gel nas mãos e respeitar o distanciamento de pelo menos um metro entre elas. A maioria das entrevistas dos repórteres com jogadores e treinadores está sendo feita de maneira online, em chamadas de vídeo.
A zona 1, áreas por onde passam atletas, é a mais restrita. Os vestiários, equipamentos de fisioterapia, bancos de reserva e áreas de acesso das equipes são desinfetados a cada partida e sessão de treino. Já as banheiras de hidromassagem e saunas estão proibidas de serem utilizadas. A delegação de cada clube pode ter no máximo 55 integrantes, incluindo atletas, comissão técnica, dirigentes e funcionários. Com isso, por enquanto não está prevista a presença de familiares ou convidados, por exemplo. No entanto, existe a possibilidade de que isso ainda seja revisto para a final, com a autorização da entrada de um número um pouco maior de pessoas.
Apesar de algumas diferenças do protocolo adotado na Champions League em relação à NBA, o objetivo é o mesmo: esporte e entretenimento com saúde. Na liga de basquete nos EUA, os atletas ficarão mais de três meses dentro da “bolha”, podendo sair do resort apenas com autorizações específicas ou motivos de força maior. Mas se isso acontecer, será preciso realizar teste na volta e cumprir isolamento, podendo desfalcar a equipe. No campeonato europeu de clubes de futebol, o período de disputa é bem mais curto, mas a preocupação com o Covid também é evidente e, para terminar a competição após cinco meses de paralisação, a ordem é se defender bem contra o vírus.