Biólogo brasileiro vence prêmio internacional com projeto para a Amazônia
João Campos Silva é um dos laureados do Prêmio Rolex de Empreendedorismo com plano de preservação do pirarucu
Marília Almeida
Publicado em 14 de junho de 2019 às 11h00.
Um neurocientista francês que desenvolveu um sistema eletrônico para levar sinais do cérebro para a espinha dorsal e ajudar pacientes paraplégicos a voltar a andar.
Um especialista em TI de Uganda que criou um aparelho que diagnostica a malária em menos de dois minutos sem necessidade de tirar sangue - o diagnóstico rápido é fundamental para o combate a essa doença que mata 500 mil pessoas por ano.
Uma bióloga molecular canadense que usa bactérias para dissolver o plástico jogado nos mares que hoje não é reciclável.
Uma conservacionista indiana que estabeleceu um canal de ligação direta entre comunidades que moram perto de parques habitados por animais selvagens como tigres e elefantes para proteção e pedidos de indenização em caso de danos às propriedades rurais.
E, finalmente, um biólogo brasileiro que luta pela preservação do pirarucu na Amazônia - com até três metros de comprimento e 200 quilos, este peixe é fundamental para a preservação do ecossistema local e como meio de subsistência para as 60 comunidades que moram à beira do rio.
Essas são as cinco iniciativas que venceram esta edição do Rolex Awards for Enterprise, o Prêmio Rolex de Empreendedorismo, que começou na quarta-feira dia 12 e terminou hoje. A cada dois anos, centenas de projetos novos ou em andamento - e que, portanto, precisam de financiamento - são avaliados por um júri formado por especialistas em cada área.
Os projetos têm foco em áreas como ambiente, tecnologia aplicada, ciência, saúde, exploração e patrimônio cultural. Na etapa final, dez projetos são selecionados para a etapa final, e cinco são laureados. Os vencedores levam um cheque de 200.000 dólares (equivalentes a 770.000 reais) para o desenvolvimento do projeto e um relógio Rolex.
“O dinheiro é importante, claro, mas não é o principal”, disse a Exame VIP o biólogo João Campos Silva, o único brasileiro entre os cinco premiados deste ano. “O mais legal de chegar entre os finalistas é o reconhecimento internacional, já que o júri é composto de cientistas renomados, e a possibilidade de conseguirmos novos financiamentos.”
A cerimônia deste ano aconteceu emWashington, e os laureados acabaram de ser anunciados, nesta amanhã de sexta-feira. Seu projeto é centrado no manejo sustentável do pirarucu. Pelo porte, este peixe está no topo da cadeira alimentar e é em grande parte responsável pelo equilíbrio do ecossistema de boa parte dos rios da Amazônia.
A manutenção do pirarucu é importante por outro motivo: trata-se da base da economia de centenas de comunidades espalhadas pela Amazônia. Somente à beira dos dois quilômetros do rio Juruá, onde João e sua equipe da ONG Instituto Juruá atuam, são 60 comunidades, ou cerca de 1200 pessoas.
“Existe também todo um trabalho social”, conta João. "Nessas comunidades, a renda gerada pelo pirarucu é compartilhada. Em muitos casos, é a primeira vez que as mulheres têm acesso a um rendimento e possui poder de compra, sem depender do marido. É uma barreira social que estamos quebrando.”
A perspectiva é ainda mais animadora. "Estamos começando a fazer um trabalho de levar a carne do pirarucu para outros centros urbanos e mesmo para o exterior. A pele também é matéria prima para fazer bolsas e sapatos, e isso ainda não está sendo explorado."
O Prêmio Rolex de Empreendedorismo foi realizado pela primeira vez em 1976. De lá para cá, 145 projetos foram premiados. Ester ano, pela primeira vez, o publico também pôde votar, juntamente com o júri, em um formulário online.