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Beija-Flor é a campeã do Carnaval do Rio de Janeiro

Em uma disputa apertada, a campeã ficou apenas um décimo à frente da segunda colocada, a Paraíso do Tuiuti

Beija-flor: a escola apresentou o enredo "Monstro é aquele que não sabe amar. Os filhos abandonados da pátria que os pariu" (Pilar Olivares/Reuters)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 14 de fevereiro de 2018 às 17h16.

Última atualização em 14 de fevereiro de 2018 às 18h10.

Rio de Janeiro - A escola de samba Beija-Flor de Nilópolis é a grande campeã do Grupo Especial do Carnaval 2018 do Rio , com um enredo sobre as mazelas do Brasil, com destaque para a corrupção.

Com 269,6 pontos na apuração, a Beija-Flor ficou apenas um décimo à frente da Paraíso do Tuiuti, escola que desfilou com um enredo também de conotação política, com críticas à reforma trabalhista e ao presidente Michel Temer, retratado como vampiro.

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O cantor Neguinho da Beija-Flor, principal intérprete da escola de Nilópolis, na região metropolitana do Rio, disse que a crítica social foi o destaque da escola que encerrou os desfiles da segunda-feira de carnaval.

"A crítica do que acontece no nosso País, a desigualdade (foi o melhor da escola). Muitos sem nenhum e poucos com muitos", disse Neguinho, ainda na Praça da Apoteose, onde as notas dos jurados são lidas na cerimônia de apuração.

O tom de protesto tomou conta da cerimônia de apuração. Enquanto as notas das escolas de samba eram lidas pelo locutor da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), com transmissão ao vivo na tevê, foram entoados, algumas vezes, gritos pedindo "Fora Temer".

Completando 70 anos neste 2018, a Beija-Flor, que a cada ano se supera nos quesitos luxo e imponência, fez um desfile atípico. Crítica das mazelas brasileiras, a apresentação em alguns momentos remeteu o público que acompanha carnaval ao histórico "Ratos e urubus, larguem minha fantasia" (1989), do carnavalesco Joãosinho Trinta (1933-2011) - quetratava de luxo, lixo, pobreza e festa e até hoje é um dos mais lembrados da história do sambódromo.

A escola fez um paralelo entre o Frankenstein, de Mary Shelley, personagem que está completando 200 anos, e os "monstros nacionais": a corrupção, as agressões à natureza, o uso indevido de impostos, as disparidades sociais. Foram retratados favelas com traficantes "armados", brigas de casal e até uma mãe velando um filho policial morto. A chamada "farra dos guardanapos", episódio do esquema de corrupção do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB), foi encenada.

Componentes vestidos de pastores evangélicos, católicos e muçulmanos se juntaram contra a intolerância religiosa. Pablo Vittar foi destaque no carro anti-LGBTfobia. No geral, a plateia comprou o discurso de indignação da escola de Nilópolis, na Baixada Fluminense, que encerrou sua passagem com a simulação de uma passeata popular, seguida pelo público saído de frisas e camarotes.

O coreógrafo da comissão de frente da Beija-Flor, Marcelo Misailidis, disse que a vitória da escola foi "a vitória da arte". "De certa forma, é uma vitória da arte e de uma coisa importante, que luxo não é botar pluma, é dar voz ao povo, à cultura. Resgatar a dignidade desse País", disse.

Já a Paraíso do Tuiuti, alçada ao grupo de elite das escolas de samba do Rio em 2017, após vencer a segunda divisão em 2016, discorreu, no primeiro dia de desfiles, sobre a escravidão no Brasil e defendeu a ideia de que ela ainda não acabou, apenas mudou de forma.

O carnavalesco Jack Vasconcelos partiu dos navios negreiros do século XVI e chegou ao "cativeiro social" dos dias de hoje, marcado por desigualdades sociais e precarização do trabalho. As últimas alas e o último carro alegórico, bastante aplaudidos, faziam críticas à reforma trabalhista e traziam a imagem do presidente Temer como vampiro.

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