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Aumento dos divórcios na China sobrecarrega conselheiros matrimoniais

Na China, houve 8,6 milhões de divórcios em 2020, de acordo com o ministério de Assuntos Civis. É um novo recorde e quase o dobro de 2019

China: aumento de divórcios (Lintao Zhang/Getty Images)
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AFP

Publicado em 21 de março de 2021 às 11h30.

Última atualização em 21 de março de 2021 às 11h30.

De seu escritório em Xangai , o conselheiro matrimonial Zhu Shenyong dá recomendações ao vivo em vários telefones simultaneamente para um público ansioso para salvar seus relacionamentos. Com o aumento dos divórcios na China , ele está muito ocupado.

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Na parede da agência, um mantra: "Que não haja maus casamentos sob o céu". Mas, na realidade terrena, quando os clientes pedem ajuda, já estão em crise.

"Sempre digo que o aconselhamento matrimonial na China é como tratar o câncer em estágio avançado", diz Zhu, de 44 anos, cujas sessões podem atrair 500 espectadores.

"A maioria dos meus clientes quer salvar o casamento, uma minoria pensa em se divorciar, mas todos querem conselhos sobre a decisão certa a tomar", acrescenta o homem, que se tornou conhecido nas redes sociais e que afirma ganhar um milhão de yuans (152.000 dólares) por ano.

Sua missão é "evitar divórcios evitáveis", mas Zhu é realista e tenta principalmente acalmar as coisas durante um rompimento, pelo bem dos filhos.

Na China, houve 8,6 milhões de divórcios em 2020, de acordo com o ministério de Assuntos Civis. É um novo recorde e quase o dobro de 2019.

Pressão familiar, sociedade ultracompetitiva, aumento dos preços dos imóveis ou problemas com os filhos são alguns dos motivos que levam os chineses a abandonar o casamento, principalmente os jovens, que priorizam a liberdade pessoal.

"Do ponto de vista positivo, o divórcio é o reflexo de uma sociedade civilizada e um despertar das mulheres", afirma Zhu, que cita os casos extraconjugais e os problemas financeiros como os principais motivos do rompimento.

- Um mês de reflexão -

Diante da preocupante queda na taxa de natalidade, as autoridades incentivam os casamentos e sua manutenção.

No ano passado foi instituído um "período de reflexão" obrigatório de 30 dias para casais em processo de divórcio. Antes, o prazo era um dia.

O objetivo é evitar o divórcio "impulsivo", mas alguns temem que prejudique as mulheres vítimas de casamentos violentos, especialmente porque o prazo pode ser estendido indefinidamente a pedido de um dos parceiros.

"O período de reflexão se transformou em um período de agressão, que se desvia completamente da ideia original", opina o advogado Wang Youbai.

"É extremamente injusto com as vítimas de violência de gênero (...) que tentam escapar de um casamento infeliz", acrescenta.

Divórcios litigiosos levam um ou dois anos, de acordo com Yi Yi, uma advogada de Pequim, e o custo é mais alto.

Muitas províncias determinaram consultas de aconselhamento obrigatórias para dezenas de milhares de jovens casais ou pessoas à beira do divórcio.

De acordo com a prefeitura de Wuhan (centro), em janeiro, o "período de reflexão" salvou dois em cada três casamentos.

Em Pequim, há conselheiros permanentes nos cartórios e 43.000 casais se beneficiaram deles desde 2015, com uma taxa de sucesso de "mais de 60%", segundo o município.

A ajuda chegou tarde demais para um funcionário público de Xangai de 36 anos, divorciado desde o verão passado, que se autodenomina Wallace.

"Para quem realmente deseja o divórcio, (mediação) é uma mera formalidade", afirma Wallace, que atribui seu fracasso à interferência de seus sogros.

Este homem faz parte de uma juventude desiludida com o casamento que o governo quer convencer a se casar.

"Alguns se casam por casar, sem se perguntar se serão capazes de aceitar os defeitos", analisa Wallace, acrescentando que muitos de seus amigos estão preocupados com a questão do casamento e do divórcio.

"Se você soubesse que um em cada dois casamentos fracassa, você ainda correria o risco?", pergunta Wallace.

A pressão é constante, especialmente entre as mulheres, para se casar jovem e ter filhos, mas cada vez mais elas se recusam a ceder.

"Para as pessoas mais velhas, o divórcio significava que ninguém te quer (...) mas para a minha geração é uma escolha pessoal", diz Vivien, de 31 anos, que se casou após uma paixão.

"Não é vergonhoso, pelo contrário, admiramos quem consegue divorciar-se".

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