Cheval des Andes: novas safras (Cheval des Andes/Divulgação)
Editor de Casual e Especiais
Publicado em 23 de dezembro de 2025 às 07h00.
Última atualização em 23 de dezembro de 2025 às 07h13.
Enquanto parte das grandes vinícolas argentinas construiu sua reputação em torno da figura do enólogo, o Cheval des Andes segue um caminho diferente. Mais próximo da tradição bordalesa do que do Novo Mundo, o projeto aposta menos no protagonismo individual e mais na leitura coletiva do terroir. Por lá, não há culto ao winemaker estrela. Existe método, continuidade e tempo.
Agora, as duas safras mais recentes do Cheval des Andes, 2021 e 2022, chegam ao Brasil. São vinhos com estilos diferentes, mas igualmente fiéis à identidade da casa.
Durante uma degustação restrita no começo de dezembro, realizada com um grupo de cerca de 20 convidados, foi possível conferir de perto a diferença entre as safras e entender melhor a lógica por trás de um dos projetos mais consistentes do portfólio da Moët Hennessy, divisão de vinhos e destilados do grupo LVMH.
O Cheval des Andes nasceu da união do savoir-faire do lendário Château Cheval Blanc, em Bordeaux, e a viticultura de altitude de Mendoza. A ideia era resgatar o elo histórico do Malbec, variedade que sofreu em Bordeaux após a crise da filoxera e encontrou condições favoráveis nos Andes.
O projeto se estabeleceu em Las Compuertas e no Valle de Uco, combinando Malbec, Cabernet Sauvignon e Petit Verdot em cortes que variam conforme o caráter de cada safra. A lógica é simples: não impor um estilo, mas interpretar o ano e o lugar.
Essa abordagem distancia o Cheval des Andes de nomes emblemáticos da nova vitivinicultura argentina, como Zuccardi e Catena Zapata, em que a figura do enólogo tem papel central na narrativa. No Cheval, a produção é conduzida por uma equipe técnica que privilegia decisões coletivas e consistência de longo prazo.
Desde 2019, a vinícola está sob a liderança de Gérald Damien Gabillet, CEO e enólogo-chefe, ao lado de profissionais como Rodrigo de la Mota (maître de chai) e Rosario Maria Toso (chef de culture). O foco está menos em assinatura pessoal e mais em precisão agrícola, vinificação meticulosa e respeito à fruta. “O segredo está em escutar o terroir”, rdiz Gabillet.
A safra 2021, que já está no mercado brasileiro por cerca de R$ 850, reflete um momento de maior controle e refinamento do projeto. O vinho mostra frescor evidente, taninos bem polidos e uma leitura clara do solo andino. É elegante, preciso e com grande potencial de guarda. Recebeu 96 pontos de James Suckling e 95 do Wine Advocate.
Já a safra 2022, que chega ao Brasil em fevereiro por cerca de R$ 900, apresenta um perfil ligeiramente mais estruturado. Há mais volume de boca, maior concentração de fruta e uma presença mais marcada de textura.
A diferença entre as duas safras não é de qualidade, mas de ênfase. A 2021 privilegia tensão e precisão; a 2022 entrega densidade e profundidade. Em comum, ambas preservam o fio condutor do Cheval des Andes: equilíbrio, longevidade e identidade territorial.
Nos vinhedos, o Cheval des Andes vem aprofundando práticas de agroecologia e biodiversidade, com projetos de plantio de espécies que atraem polinizadores e predadores naturais de pragas. Desde 2017, a irrigação por gotejamento aumentou a eficiência hídrica de 65% para 95%, sem romper com o uso tradicional da água do degelo andino.
Essas escolhas ajudam a explicar a trajetória ascendente das safras. A safra 2019 alcançou 98 pontos James Suckling e 97 do Wine Advocate.
No portfólio da Moët Hennessy, ao lado de nomes como Dom Pérignon, Hennessy e Château Cheval Blanc, o Cheval des Andes ocupa uma posição singular: é um vinho do Novo Mundo com mentalidade do Velho Mundo, uma lembrança de que a excelência pode estar em deixar o lugar falar mais alto do que a assinatura da obra.