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Artista nova-iorquino transforma o cotidiano das ruas em negócio rentável

Com habilidade nas mãos e entusiasmo infantil, Danny Cortes recria em miniatura cenas cotidianas das ruas da Nova York em que cresceu

Cortes reproduziu em uma maquete este restaurante chinês, incluindo a fachada com pichações. (YUKI IWAMURA/AFP)

Cortes reproduziu em uma maquete este restaurante chinês, incluindo a fachada com pichações. (YUKI IWAMURA/AFP)

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AFP

Publicado em 27 de dezembro de 2022 às 15h20.

Com habilidade nas mãos e entusiasmo infantil, Danny Cortes recria em miniatura cenas cotidianas das ruas da Nova York em que cresceu. O que começou como um simples passatempo, se transformou em reconhecimento no mundo do hip hop e em vendas lucrativas, inclusive na famosa casa de leilões Sotheby's.

"Somos adultos, mas nunca deixamos de ser crianças", diz à AFP o artista de 42 anos. "Quem não gosta de brinquedos? Quem não gosta de miniaturas?", questiona.

Cortes trabalha em seu ateliê no bairro de Bushwick, no Brooklyn, cercado de objetos reciclados recolhidos das ruas.

Sobre a mesa está o projeto no qual trabalha atualmente: uma pequena réplica da fachada de um edifício desgastada e suja. Perto de uma janela fechada com tijolos há uma cesta de plástico: a tabela de basquete de alguém com poucos recursos.

"Representa a minha infância", conta, enquanto retoca o modelo feito de poliestireno (isopor), seu material favorito.

"Tudo tinha este aspecto: abandonado, vazio, muita droga na área."

Danny Cortes faz alguns retoques em uma de suas maquetes em seu ateliê de Nova York. (YUKI IWAMURA/AFP)

De 30 a 10.000 dólares

Uma de suas criações mais recentes é um modesto restaurante chinês, com uma placa amarela surrada e paredes de tijolos cobertas de pichações.

Na porta do restaurante verdadeiro, Cortes sorri ao contar como o famoso rapper Joell Ortiz, nascido no bairro, insistiu em comprar a maquete. "Eu preciso dela", disse.

O preço? "Dez mil dólares", indica Cortes, e acrescenta: "A primeira obra que vendi custou cerca de 30 dólares, e fiquei muito feliz com esses 30 dólares".

O artista tem como inspiração para suas coleções as cenas urbanas mais banais, "as pequenas coisas com as quais nos deparamos no dia a dia" e que não prestamos atenção, mas que, em seu conjunto, formam o cenário urbano único de Nova York.

'Simplesmente decolou'

Uma de suas primeiras obras emblemáticas foi uma simples geladeira comercial branca, comuns do lado de fora das lojas nas periferias, com a palavra "GELO" e repleta de pichações, que Cortes reproduz com minúcia.

Seu repertório também inclui um caminhão de sorvete como o que aparece no filme "Faça a Coisa Certa" de Spike Lee (1989). Além disso, sua obra repleta de nostalgia costuma incorporar homenagens a rappers locais como Notorious B.I.G. e Wu-Tang-Clan.

Cortes nem sempre foi artista. Já trabalhou como vendedor, na construção civil e em um refúgio para pessoas em condição de rua.

Mas a pandemia mudou sua vida, ao fazer com que ele levasse mais a sério algo que costumava ser apenas um hobby.

Depois de exibir suas primeiras criações nas redes sociais, seu trabalho "simplesmente decolou", afirma.

O selo artístico Mass Appeal, associado ao rapper Nas, lhe encomendou uma maquete de um boombox ghetto-blaster (um aparelho de som portátil) para a capa de um mini álbum de DJ Premier ("Hip Hop 50: Vol. 1").

Em março de 2022, quatro de suas obras foram arrematadas em um leilão de hip hop na casa Sotheby's, entre elas um caminhão de sorvete por 2.200 dólares.

Mais tarde, Cortes diversificou sua obra ao construir uma réplica em miniatura de um restaurante de Atlanta para o proprietário, o rapper 2 Chainz.

Muitas mudanças

A maquete de uma geladeira comercial como esta foi um dos primeiros trabalhos de Cortes. (YUKI IWAMURA/AFP)

Entretanto, o coração de Cortes permanece no Brooklyn. "Realmente ele conseguiu captar o ambiente sujo e degradado que deu origem a boa parte da música hip hop dos anos 90", opina Monica Lynch, ex-chefe do selo Tommy Boy Records e consultora no leilão da Sotheby's.

Através de sua obra, Cortes afirma que sua intenção é documentar um lugar onde "há muitas mudanças", em particular sua vizinhança em Bushwick.

Transformado em bairro da moda frequentado por artistas, é também um símbolo da gentrificação, mas Cortes diz não ter problema com isso.

"Acho que é bom, acho que é mais seguro, mas Bushwick sempre será Bushwick", afirma.

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